A ARTE DE ESCREVER 20 – Microconto: cacos, estilhaços e fótons

Em literatura, os temas são inesgotáveis, sempre há o que descobrir nos grandes autores, sempre há o que inventar, nos dizem — com a obra em progresso — os novos autores. E, assim, voltamos a um tema já por duas vezes trabalhados nesta série “A Arte de Escrever”, o microconto: veja AQUI e AQUI.

Trazemos agora a voz de uma pesquisadora do tema, a doutoranda Karina Torres Machado, da Pós-Graduação em Letras / Estudos Literários, Mestrado e Doutorado, do Câmpus de Três Lagoas da UFMS. Além de estudar “alguns princípios organizacionais e algumas características específicas do modo de narrar” do microconto brasileiro das duas primeiras décadas do 3º milênio, a pesquisadora faz antologia, com mais de 50 microcontos, para confrontar teoria e práxis.

Alguns dos microcontos foram escritos por estudantes do curso Oficinas de Escrita Criativa, oferecido on-line no primeiro semestre de 2022 no PPG-Letras Mestrado e Doutorado em Estudos Literários do Câmpus de Três Lagoas da UFMS.

Ao escavar cacos do estilhaço do mundo de nosso tempo, Karina Torres Machado encontra os fótons do humano no solo elíptico, intertextual e altamente inventivo e elaborado do microconto.

(Rauer).

MICROCONTO: CACOS DO ESTILHAÇO
DO MUNDO, FÓTONS DO HUMANO

Karina Torres Machado

LIVRO
Quando abriu, os dinossauros ainda estavam lá.
Adriano Salvi
Ainda estavam lá, 2021, p. 81

Diante de tempos fluídos e fugidios, em que a escassez de simbolização e fabulação latejam na constituição dos indivíduos, o debruçar-se sobre a microficção, como forma de desvendar os traços, a forma e a estética que a constitui, é tarefa necessária para resgatar o prazer e a sensibilidade de enredar- se em novas tramas e deparar-se com a expressividade da palavra, permitindo, assim, a constatação, a descoberta e mesmo a criação de novas realidades fractais da ficção e da existência.

O microconto, gênero literário encontrado já no século XIX (para não voltarmos à antiguidade clássica) em escritores brasileiros e de outras nacionalidades, figura, no século XXI, como estética proeminente em busca de uma poética própria, visto não ser gênero encurtado ou derivado do conto e beber em todos os gêneros literários para arquitetar inovadora expressão artística.

Vamos ver, na sequência, alguns exemplos de microcontos de autores brasileiros contemporâneos, de modo a deles destacar alguns princípios organizacionais e algumas características específicas do seu modo de narrar. Iniciemos com dois microcontos da escritora Alciene Ribeiro Leite, que eventualmente assinou Alciene Ribeiro ou Alciene Maria:

EM ELIPSE
Oração de sujeito oculto que insiste em se dizer sem palavras – eis o microconto.
Alciene RIBEIRO [Leite]
“minimus”, minimus & brevíssimos,
2020, p. 23

O microconto tem por estrutura basilar a elipse, figura que desencadeia a imanência de um nó dramático implícito que, reduzido à mínima forma, exige conhecimentos prévios do leitor para criar universos de sentidos, em diálogo com os demais gêneros literários e com a exemplaridade da vida humana. Assim, o microconto, como síntese de impressões cifradas, requer a plasticidade do pensamento e exige do autor a elaboração de elipses que absorvam o todo e o reduzam ao mínimo.Para isso, explora o uso de vocábulos que deflagram a parte visível do texto – síntese do que será dito e imagem do que quer ser mostrado – a fim de convidar o leitor, empírico e real, para preencher as omissões e substantivar o narrado.

SÍNTESE
Do maior ao menor conto, tudo acaba no ponto.
Alciene RIBEIRO [Leite]
“minimus”, minimus & brevíssimos,
2020, p. 14

Representativa das histórias orais da humanidade e possuidora dos princípios digitais do século atual, a microficção trabalha o texto literário na sua capacidade de se adaptar às exigências do tempo presente e de criar novas e inovadoras estruturas representativas. Metaliteratura e metaficção unem-se nos dois microcontos transcritos como forma de deslindar a contemporaneidade. E assim se apresentam a velocidade e a efemeridade do tempo a delimitarem a carpintaria literária, impondo na fugacidade, no não dito e no silêncio a sua forma compacta e impactante. O microconto, construído pelo princípio do chiste, de palavras plurissignificativas, de brevidade, de analogias e alusões, utiliza-se de substantivos-símbolos e da ausência de termos assessórios para compor o efeito cumulativo que expõe o estilhaçamento do mundo contemporâneo. O contar de Alciene é o conto que faz o microconto e o ponto que instaura a vida narrada.

Em outra clave, o caminhar histórico do homem exige a renovação de estilos e a depuração de novas sensibilidades para representar tal percurso. Diante disso, por meio da leitura da narrativa intitulada “Microconto”, de Rauer, publicada originalmente em plataforma virtual e que agora compõe a seção “Brevíssimos”, em minimus & brevíssimos (2020), engendramos algumas concepções basilares do microconto, como forma de indiciar sua poética. Vamos à leitura:

MICROCONTO
Narrativa.
Cristal-Vivo.
Uma só visada.
Um único golpe.
Nocaute.
RAUER
“Brevíssimos”, minimus & brevíssimos,
2020, p. 179

Na arquitetura estilística do microconto, a utilização de título tem sido abandonada ou tornada erroneamente facultativa na escrita de alguns autores – consideramos errôneo não haver título em microconto uma vez que, ao utilizar um título, o autor amplifica a potência significativa do texto diante da economia de recursos característica do gênero. A presença do título coaduna com o texto e cria a unidade narrativa responsável por identificar o microrrelato, sendo parte da clave interpretativa (cf. ECO, 1985), paratexto em macroestrutura que manipula a expectativa do leitor, uma vez que explora o entrevisto no microconto por meio do impacto e da surpresa concebidos. Quanto a esse aspecto, o título também é fundamental no conto de Marcio Markendorf que lemos aseguir:

REALIDADE
– Machucou?
– Quê?
– Quando você caiu em si?
Marcio MARKENDORF
Ainda estavam lá, 2021, p. 34

No microconto de Marcio Markendorf, o título funciona como moldura que delimita e amplia as percepções de leitura do texto. Do livro Micros-Beagá, lançado no final de 2021, vejamos, de uma jovem autora, revelada por essa coletânea, mais um conto em que o título desempenha papel narrativo decisivo:


Larissa VALDIER
Micros-Beagá, 2021, p. 155

O título está na primeira linha, mas somente com a inicial maiúscula, e a primeira frase, com todas as letras em maiúsculas, se destaca similar a um título. O título termina em dois pontos, passando a integrar a economia narrativa intrínseca, além da função paratextual. A manipulação que inverte o costumeiro se segue na narrativa com uma palavra em vertical, e ela sugere um grito, um pedido de socorro que se alonga no tempo-espaço da página, da leitura e do pathos. O final do texto – com uma frase truncada que multiplica significados – pede, de imediato, o retorno ao título, e da circularidade sem fim que se instaura emerge um relacionamento interpessoal, amoroso ou familiar, correspondido ou não, que se eterniza na frustração, na decepção, no desrespeito, na desilusão, na heteronomia, no duplo silenciamento, na depressão e no luto do outro e de si mesmo. Em seis palavras, a vida inteira se resume.

Sem o título, o microconto de Larissa Valdier perderia um tanto de sua força, de seu impacto, da dolorosa ambiguidade que instaura, na qual o enunciador denuncia o seu sofrimento e anomia e, nas frinchas, o texto exala sadismo e dores que se silenciam no espelho do sofrimento do outro, em alteridades inconciliáveis.

Vale destacar, em < https://www.instagram.com/p/CZ0W4O6LEbc/ >, o depoimento da autora sobre seus microcontos selecionados para o Micros- Beagá, conforme consta no perfil do instagram @pangeiaeditora, da Pangeia Editora, em uma série de cards sobre a coletânea.

Voltando ao microconto com o título “Microconto”, de Rauer, tal título, metaliterário e metalinguístico, realça a narrativa visível que será narrada, ao passo que convida e instiga o leitor a desvendar as camadas internas de leitura, camadas construídas nos interstícios dos silêncios posteriores a cada palavra-parágrafo ou a cada locução-parágrafo.

A estrutura do texto mantém a tensão da narrativa por meio de cisões inseridas a cada linha, reforçadas com o ponto final (o ponto final de cada parágrafo cai como uma punhalada sobre o coração do leitor, como se fora o ponto final da narrativa, no lapidar ensinamento de Isaac Babel que pode ser lido, AQUI, na lição nº 1 dessa série “A Arte de Escrever”). Tais cesuras eclodem na apreensão de vazios altamente significativos que precisam ser preenchidos pelo leitor. Assim, embora o microconto seja configurado pela economia de vocábulos – no caso, sessenta caracteres com espaços e somente nove palavras –, sua compreensão é depreendida de um retorno constante às linhas e às entrelinhas do texto. Nesse sentido, a máxima expressão com o mínimo de termos configura a estilística do microconto, desde seu título.

No avançar da leitura, a “narrativa” de Rauer frisa a economia linguística no ethos máximo e fundamental do microconto. A seleção precisa dos vocábulos evidencia a engenhosidade expressiva do autor em selecionar palavras multívocas que demandam um debruçar-se investigativo a exigir, por sua vez, várias leituras para desvendarmos algumas das linhas de força submersas, as elipses, os silêncios, os ditos, não ditos e interditos delineados pelo autor e preenchidos por nós, leitores empíricos, que nos tornamos – de certo modo – coautores do texto.

O microcontista Rauer elabora nuances interpretativas em forma de referências lexicais que tramam múltiplas possibilidades de leitura e elabora conceitos e características do que é (ou do que deve ser) o microconto. Diferente de Edgar Allan Poe (2000), que escreve um ensaio racional e de lógica implacável no seu “A Filosofia da Composição”, que define os parâmetros do conto a partir do século XIX, Rauer escreve microcontos metapoéticos para definir o que é o microconto, em exemplo vivo no qual a forma e a semântica se alinham, e definições de microconto em aforismos (cada um deles tem sabor de um microconto, cristal-vivo que lateja); confira esses aforismos em A Arte de Escrever 5 – 29 aforismos sobre o microconto, AQUI, nesta série, no Blog da Pangeia.

Na primeira linha do texto, uma única palavra, “Narrativa”, retoma o título e determina o gênero do microconto. Além disso, indicia que provavelmente haverá algo das categorias da narrativa e de elementos do conto (enredo, narrador, personagem, espaço, tempo, conflito, clímax, desfecho), mesmo que não apareçam determinados na estrutura textual, reduzida a no máximo um único nó dramático da teia narrativa pressuposta.

A opção pela palavra “Narrativa” também denota um recorte, uma ação em curso, geralmente in media res, que, sem espaço e tempo discursivos precisos, circunscreve um nó narrativo revelador do humano, a focalizar a existência tramada com foros de exemplaridade. O microconto, como a vida, revisita diversas formas, a fim de encontrar soluções para o estranhamento visível, que incomoda, tensiona e incita a investigação do fato narrativo, para que a normalidade seja resgatada com o preenchimento das lacunas. Eis a função do texto literário na especificidade do microconto.

Essa microficção encontra, no plano linguístico, a projeção de imagens, conceitos e formas que, amalgamada aos planos discursivo e semântico, cria uma plêiade significativa, polissêmica e proteica que exige do leitor uma proficiência leitora e uma ação coparticipativa para preencher as elipses e os vazios deixados pelo narrador.

A tensão do nó narrativo também é sentida pelo uso de termos denotativos que irrompem em conotações instigantes e esclarecedoras, como na segunda linha no “Microconto” de Rauer. A sentença imagética “Cristal-Vivo” instiga e reivindica do leitor um olhar apurado para os intertextos e para a intertextualidade concebida.

O microconto tomado na metáfora do “Cristal-Vivo” é um corpo sólido, peculiar no estilo, no conteúdo temático e na forma composicional, e fluido, polissêmico, inapreensível na apreensão que forja. É configurado em poética individualizada, ficcional, cujas limpidez e transparência fomentam a pulsação viva da representação de matizes da vida e do humano. Sua estrutura atômica, ágil, consoante à contemporaneidade, destaca, nas relações externa e interna de suas camadas constitutivas, o rearranjo de imagens concretas que, em coparticipação com o leitor proficiente, adquirirem multiplicidade caleidoscópica de reverberações do dito e do sentido.

Diante disso, a microficção favorece a formação de leitores simbólicos, capazes de experenciar, no jogo linguístico, perspectivas que, ao ampliar o olhar, retiram o indivíduo de sua condição primitiva e o integram à vivência representativa e sensível da compreensão de si, do outro e do mundo. Eis a função literária do microconto sendo pedagogicamente operacionalizada na leitura escolar.

Vejamos mais uma faceta do microconto brasileiro contemporâneo, agora com um microconto de Adriano Salvi:

ZUMBI
Era um nativo digital.
Adriano SALVI
Ainda estavam lá, 2021, p. 99

A condição humana fantasmagórica, resultado da globalização e da influência digital e tecnológica que assolou a civilização, tipifica os indivíduos telespectadores, reduzindo-os a zumbis inexpressivos e incultos. No entanto, o contato com o constructo literário, com a microficção, propicia a construção de novas sensibilidades pela ação de ouvir e ler histórias. Em relação a isso, a leitura de microcontos transforma o leitor em

detetive que levanta questionamentos que se transformam em hipóteses e que conduzirão à resolução de um verdadeiro quebra-cabeça. Uma das belezas domicroconto está exatamente em nada ser dado ao leitor de mão beijada, sem que ele tenha empenho e esforço criativo. (SOUZA, 2021b, p. 41).

A brevidade, a concisão, a condensação e a pluralidade significativas que caracterizam o microconto está diretamente ligada ao novo contexto de leitura do século XXI, em que as possibilidades de interpretação de um texto exigem reformular as perspectivas tradicionais e considerar que um gênero deve ser definido em função dos contextos de interpretação em que

cada leitor coloca em jogo suas experiências de leitura (sua memória), suas competências ideológicas (sua visão de mundo) e seus apetites literários (aqueles textos com os quais está disposto a comprometer sua memória e colocar em risco sua visão de mundo). (ZAVALA, 2004, p. 124, tradução nossa).

Na definição trazida no”Microconto” de Rauer, a expressão “Uma só visada” denota a aparente rapidez com que os microcontos são lidos; no entanto – e, diferente de Edgar Allan Poe (2000), para quem o conto deveria ser lido em uma só sentada –, a compreensão do microconto contemporâneo advém de várias e contínuas visadas do texto. A visão é o sentido mais exacerbado na microficção: embora os “enredos” encenados não sejam policiais ou investigativos, eles exigem tais ações do leitor, e assim operacionaliza formas de apreender, do plano linguístico, o discurso subscrito, interdito, invisível e, assim, atingir a limpidez da forma e do conteúdo, impactado e patemizado com o “Cristal-Vivo”na transparência pulsante da vida apresentada.

Assim, a leitura do microconto exige um olhar atento, que se volta para a história não-textualizada, a fim de explicitar a polissemia narrativa. E, diante de “Uma só visada”, o leitor é nocauteado pelo narrador, uma vez que, convidado a decifrar os enigmas, ou, melhor dizendo, convidado a mergulhar fundo na busca dos sentidos construídos, incitado a preencher os vazios, vendo-se docemente coagido a completar os ocos do texto, o leitor – empírico    e real – se surpreende com epifanias devastadoras e com os significados que depreende. A construção dos sentidos se dá, dessa forma, pela percepção das operações, da condensação e da síntese textual engenhosamente orquestradas, que culminam em uma explosão de múltiplas possibilidades enunciativas e interpretativas.

A expressão “Um único golpe” denota que cenários são resgatados, dicotomias da existência humana são ativadas e a transparência – obtida diante da cena paradoxalmente entrevista às cegas – desarma e, a contrapelo, possibilita ler muito mais do que vemos ao desvelar, nas frinchas textuais em elipse, o que não está escrito na concretude do papel. Uma visada, uma percepção holística, uma epifania devastadora, uma conclusão inapelável, um golpe único, decisivo, definitivo:

TESEU
Cadê o fio?
Rauer
Oficinas de Escrita Criativa,
Curso, 2022

Nesse sentido, o gênero literário metonímico, na visão de Rauer, configura um “Nocaute” advindo da arte literária por concentrar em sua tessitura o labor estrutural, a escavação da tradição literária, para romper o solo da tradição literária com ato revolucionário, multicolor, que se anima nas imagens, nas cenas e na memória para ser o sonho acordado da civilização (cf., e em paráfrase, a CANDIDO, 1988). O microconto, diferente e além do nocaute preconizado por Júlio Cortázar (2008) sobre o conto, que se dá — em Cortázar — na rápida sucessão de golpes, aqui se faz em um único golpe, que se constrói na simultaneidade textual presentificada com a escavação das ruínas pretéritas, do fragmento fractal, dos estilhaços, dos cacos que resplandecem e desestabilizam o presente, com a clareza da apreensão pré-sentida.

Assim, o microconto projeta-se, impera, clama por novas depurações do olhar, visto fazer parte da condição narrativa do humano. A literatura, de modo geral, mas “el microrrelato” em particular, nas palavras de Blanco,

goza de sus propias marcas de género tanto formales (trama, personajes, espacio, tiempo-elipsis, diálogos, final sorpresivo y enigmático, valor del título y experimentación lingüística) como temáticas (intertextualidad, metaficción, ironía,parodia, humor e intención crítica); posee una intención o función específica, la de subvertir las normas preestablecidas e incitar mediante esta ruptura a la reflexión y el análisis; exige un lector concreto, activo y competente capacitado para sellar el pacto de lectura; utiliza para su difusión diversos medios y soportes, y la práctica, tanto de su escritura como de su lectura, está ligada a la condición natural de narrar del hombre. (BLANCO, 2019, p. 61).

No microconto de Rauer, nesse “Microconto”, forma e conteúdo iluminam a carpintaria de viés minimalista na escolha dos vocábulos, o que maximiza significados ao recorrer a arcabouço simbólico para definir a narrativa ultracurta de nossos dias em gênero rápido, ágil e multifacetado. No curso e intercurso das diversas histórias que encena em singular nó dramático inconcluso, o microconto é uma pílula pronta a desdobrar- se, a rebentar-se em máxima expressividade em torno da palavra e, consequentemente, do humano.

Após as referências, que estão logo a seguir, transcrevemos mais de cinquenta microcontos de autores brasileiros contemporâneos, para leitura e apreciação, para demonstrar e, em especial, para confrontar e desdizer os delineamentos acima. Porque o microconto é a arte de desestabilizar o óbvio, de reinventar o real, de remanufaturar, refazer e reconstruir o literário na representação de um universo cada vez mais em cacos e estilhaços.

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SALVI, Adriano. Erro estrutural. MARKENDORF, Marcio. Jogo da vida. In: AGUIAR, André Ricardo; SALVI, Adriano; MARKENDORF, Marcio. Ainda estavam lá. Florianópolis: [s.n], 2021, p. 94.

SALVI, Adriano. Zumbi. In: AGUIAR, André Ricardo; SALVI, Adriano; MARKENDORF, Marcio. Ainda estavam lá. Florianópolis: [s.n], 2021. p. 99.

SANTOS, Ilka Vanessa Meireles. Aula de geografia. Oficinas de Escrita Criativa, Curso, PPG-Letras / CPTL / UFMS, 2022.

SEABRA, Carlos. Assassino. In: SEABRA, Carlos. Microcontos surreais. Disponível em https://cseabra.wordpress.com/microcontos/, acesso em: 20/04/2022.

SEABRA, Carlos. Falsário. In: ROSSATO, Edson. Expresso 600: 61 microcontos. São Paulo: Andross, 2006. p. 67.

SERRA, Alice. Renarciso. In: RAUER (Org.). Micros-Beagá. Uberlândia, MG: Pangeia, 2021. p. 29.

minimus & brevíssimos. Uberlândia, MG: Pangeia, 2020. p. 179.

SILVA, Lenildo José da. Ícaro. In: ROSSATO, Edson. Expresso 600: 61 microcontos. São Paulo:Andross, 2006. p. 39.

SOUZA, Tatianny Cristina Gosuen de. Carpe diem. In: RAUER (Org.). Micros- Beagá. Uberlândia, MG: Pangeia, 2021a. p. 301.

SOUZA, Vanderlei de. Pequeno como um dinossauro: microconto, um gênero autônomo. Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Letras, junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. São José do Rio Preto, 2021b.

SPIGOLON, Nima. Myh. In: RAUER (Org.). Micros-Beagá. Uberlândia, MG: Pangeia, 2021. p. 229.

TREVISAN, Dalton. 234. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 36.

VALDIER, Larissa. Correntes: In: RAUER (Org.). Micros-Beagá. Uberlândia, MG: Pangeia, 2021. p. 159.

VALDIER, Larissa. Sobre emudecer-se: In: RAUER (Org.). Micros-Beagá. Uberlândia, MG: Pangeia,2021. p. 155.

ZAVALA, Lauro. Para analizar la minificción. Folios, n. 20. Bogotá: UPN, 2004.

 

MICROCONTOS – UMA SELEÇÃO

ERRO ESTRUTURAL
Precisa-se de empregada que morre no serviço.
Adriano SALVI
Ainda estavam lá, 2021, p. 94

DIVÓRCIO
Seu anseio ─ ter voz e se fazer ouvir. Como, se a aliança aperta no pescoço?
Alciene Ribeiro LEITE
Micros-Beagá, 2021, p. 15

NO ASILO
Em duas lágrimas o hoje se impôs. Virado para a parede, o velho dobrou-se em existir fetal – e começou tudo de novo.
Alciene Ribeiro LEITE
“minimus”, minimus & brevíssimos, 2020, p. 43

RENARCISO
Diante de reflexo em rio eu choro. De tua morte não. Tua morte não é diante.
Ela vai ser ou já foi. Feito água de sertão. Rareia. Seca. Depois volta.
Alice SERRA
Micros-Beagá, 2021, p. 29

OBJETO OBSOLETO
Cansada de coisas não-conserváveis, atirou os cacos pela janela, esperando provocar cortes sérios em algum transeunte distraído – era adepta do movimento todos têm de sofrer comigo. Contudo, não obteve o efeito desejado. Bem, não faz diferença. Assim é a vida! Vestiu-se, saiu e comprou um coração novo, o mais caro da loja. Era o terceiro naquela semana.
Ana Carolina Freires FERREIRA
Expresso 600, 2006, p. 31

ESPETÁCULO
O mágico se apaixonou pela mulher cortada ao meio. Encontrou, enfim, sua cara-metade.
André Ricardo de AGUIAR
Ainda estavam lá, 2021, p. 74

FRANKENSTEIN
Pediu a mão da noiva em casamento. Guardava numa caixinha.
André Ricardo de AGUIAR
Ainda estavam lá, 2021, p. 50

A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES
O problema para Jesus era controlar a massa.
André Ricardo de AGUIAR
Ainda estavam lá, 2021, p. 75

SALTO
De pé, na ponta da língua do trampolim, ainda hesita. De repente, decide-se e cai em si.
Angela Leite de SOUZA
Micros-Beagá, 2021, p. 41

SANTA MISSA
Costuma ir à Igreja aos Domingos, “tomava” hóstia consagrada. Generosa como ninguém e, no final da noite, saciava toda à Igreja.
Antônio Marques PEREIRA FILHO
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

AS TRÊS TAREFAS
A primeira tarefa seria regar as samambaias — o instinto primário em matar as sedes. A segunda tarefa pedia que mudasse a ordem dos cômodos afetivos, o lugar era de livre pertencimento. A terceira tarefa sou eu! É que eu também vou me ajustando, tirando o pó das saudades, dos modos, desta solidão precisa, espinhosa. Nota: não esquecer de colher os frutos.
Bento CORDIS
Micros-Beagá, 2021, p. 59

REBELDIA
Eu a vi pela última vez em meados de março, tentando ocultar os cabelos brancos. Depois, quebrei o espelho.
Branca Maria de PAULA
Micros-Beagá, 2021, p. 65

MINOTAURO
Ao procurar os chinelos, ficou zonzo: outra crise de labirintite. Escorou-se na parede, foi até o banheiro, Teseu tecendo fiapos do tesão de um sonho erótico e temendo cair e bater a cabeça na pia ou na privada. (Outro dia caíra na rua, quando foi amarrar o sapato).
Antes de escovar os dentes, olhou no espelho e se viu como o monstro que devorava virgens no labirinto.
Caio Junqueira MACIEL
Micros-Beagá, 2021, p. 73

ASSASSINO
Era um assassino serial. Matou a aula e foi ao cinema. Traçou um lanche e matou a fome. Depois, sem mais para fazer, ficou matando o tempo.
Carlos SEABRA
Blog Carlos Seabra, “Microconto surreais”, [2015]

FALSÁRIO
Que injustiça!, pensava o falsário, preso com vários documentos de identidade. Fernando Pessoa também tinha heterônimos e nunca fora em cana!
Carlos SEABRA
Expresso 600, 2006, p. 67

STAND UP
Quando os olhos do comediante me encontraram, retribuí as atenções e as gargalhadas com um sorriso amarelo. Em casa, as lágrimas me fizeram companhia.
Catia Mendes PEREIRA
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

amigo Robô
O remédio estava vencido, mas o robô de companhia nem se importava.
Seguia administrando-o há um mês para o cadáver apodrecido.
CIBERPAJÉ
Micros-Beagá, 2021, p. 105

LOVE
Our life is love:
uma troca de olhar,
um desejo fugaz,
é tudo que nos move
Cristina AGOSTINHO
Micros-Beagá, 2021, p. 76

[SEM TÍTULO]
Saudade. O aperto de mão de uma sombra na parede.
Dalton TREVISAN
234, 2002, p. 36

PRONTO
O acabado sem fim
No microconto é assim
Fim…
Deusemar Cardoso do NASCIMENTO
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

PERDIDOS NA NOITE
O Microconto que é criança, às vezes se disfarça de Miniconto, que é adolescente, para sair à noite com seu primo adulto, que é o Conto, e se embebedarem de fantasias pelos bares da narrativa.
Edilva BANDEIRA
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

À DERIVA
— Rosália, o seu problema é que você vive reclamando de tudo.
— Você não entendeu até agora? Roubaram o meu cais!
Eltânia ANDRÉ
Micros-Beagá, 2021, p. 110

DUELOS
“E agora, eu e você”, disse, sacando o punhal, na sala de espelhos.
Flávio CARNEIRO
Os cem menores contos brasileiros do século, 2004, p. 31

PROMETEU ACORRENTADO
Pus minha mão no fogo.
Me queimei.
Livrai-me dos abutres!
Flávio Moreira da COSTA
Os cem menores contos brasileiros do século, 2004, p. 32

ELEIÇÃO
Muitos são os concorrentes. Você tem opção. Vote na Serrão.
Francisca Lusia Serrão FERREIRA
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

LONGEVIDADE
O suicida optou pelo prédio mais alto da cidade.
Frederico ALBERTI
Expresso 600, 2006, p. 123

ENCRUZILHADA
Tudo começou quando virei a viela à esquerda e minha sombra foi para a direita.
Gustavo MELLO
Micros-Beagá, 2021, p. 125 

AULA DE GEOGRAFIA
Foi convidado para dar uma aula de geografia. O conteúdo foi prescrito. Slides prontos. A turma tinha baixa visão.
Ilka Vanessa Meireles SANTOS
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

VERBETE
Vida: condição que, rapidamente, deixamos de ter.
João Anzanello CARRASCOZA
Linha única, 2016, p. 28

VIGÍLIA
Pronto nos olhos,
O pranto só espera a notícia.
João Anzanello CARRASCOZA
Os cem menores contos brasileiros do século, 2004, p. 38

OUTRA VERSÃO
As sereias. O silêncio de Ulisses as enlouqueceu.
João Anzanello CARRASCOZA
Linha única, 2016, p. 80

BANQUETE
Penélope se arruma, termina a manta e vai embora.
Karina Torres MACHADO
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

CORRENTES
Como vou me aprender
Se só sei
Me aprisionar?
Larissa VALDIER
Micros-Beagá, 2021, p. 159

ÍCARO
Fazia voltas no céu, a sensação de voar era incrível! Tocava as nuvens, as aves, o Sol… Sobrevoava as montanhas verdes e o mar azul. Podia ver tudo: a praia e os banhistas, os edifícios e suas janelas, a rodovia e o carro destruído com o seu cadáver preso às ferragens.
Lenildo José da SILVA
Expresso 600, 2006, p. 39

SONHO
Sonhou que era uma barata. Um pé enorme apareceu do nada. Seus restos foram encontrados sob a pedra que rolou do morro.
Luís GIFFONI
Micros-Beagá, 2021, p. 185

COLÍRIO
Belo Horizonte me arde os olhos ao entardecer.
Madu Brandão
Micros-Beagá, 2021, p. 191

ABRIL FRIO
Como te superar, abril? A morte vem sempre, e sempre em abril.
Malane APOLONIO
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

A MORTE DO MANOEL
Na terça, Sr. Manoel comprou um belo vestido para sua esposa esconder as marcas das agressões. Na quarta, ela escondera a faca que usou para degolá- lo embaixo da barra do vestido. Na quinta, todos rezaram por aquele homem gentil.
Marcelo APARECIDO
Micros-Beagá, 2021, p. 204

@IGREJA
Era uma conta com muitos seguidores.
Marcio MARKENDORF
Ainda estavam lá, 2021, p. 18 

JOGO DA VIDA
— O que estão fazendo?
— Jogando.
— Não parece divertido.
— É jogo de cintura.
Marcio MARKENDORF
Ainda estavam lá, 2021, p. 25

HISTÓRIA SÓ COM PRINCÍPIO E FIM
Bastou vê-lo a primeira vez para saber que havia chegado ao fim.
Marina COLASANTI
Zooilógico, 1975, p. 82

CREPUSCULAR
Pegou o chapéu, embrulhou o sol. Então nunca mais amanheceu.
Menalton BRAFF
Os cem menores contos brasileiros do século, 2004, p. 67

O ESPELHO DE NARCISO
Agora está claro: Quem envelhece sou eu,
não o retrato.
Modesto CARONE
Os cem menores contos brasileiros do século, 2004, p. 72

myh
Matryoshkas:
de dentro de uma mulher,
outras surgem, de repente.
Nima SPIGOLON
Micros-Beagá, 2021, p. 229

ANGÚSTIA
O seu grito, ecoa em seu silêncio.
Pollyana Correia LIMA
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

ARCO-ÍRIS
Eis a cor da vida: saudade do amor não amado, da dor não vivida.
RAUER
“Brevíssimos”, minimus & brevíssimos, 2020, p. 279

ETERNAMENTE
Ao buscar seu primeiro trabalho, Hércules encontra a Bela Adormecida e em berço esplêndido se deita.
RAUER
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

O RELÓGIO
A cada hora, com a carícia da brisa ou o troar do tufão, cresce a dolorosa angústia.
RAUER
“Brevíssimos”, minimus & brevíssimos, 2020, p. 171

DESTINO
Escolha seu caminho.
Ele te consumirá.
Rízio MACEDO
Micros-Beagá, 2021, p. 251

FIO CEGO
Quando abri os olhos, percebi que não havia conseguido o que mais queria: o sangue dos meus pulsos coagulara.
Tatiana Alves NOVO
Expresso 600, 2006, p. 65

CRIAÇÃO
No sétimo dia, Deus descansou. Quando acordou, já era tarde.
Tatiana BLUM
Os cem menores contos brasileiros do século, 2004, p. 96

CARPE DIEM
Você, na pressa, está perdendo o espetáculo.
Tatianny Cristina Gosuen de SOUSA
Micros-Beagá, 2021a, p. 302

MATRIMÔNIO
Diante do padre, mentiu.
Não tinha mais volta.
Willia Katia OLIVEIRA
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

VIOLAÇÃO
A arma era de brinquedo
Ela só viu depois.
Willia Katia OLIVEIRA
Oficinas de Escrita Criativa, Curso, 2022

AUSÊNCIAS
I.
Decidiu fugir de casa. Dia seguinte o encontraram seco no carpete da sala. No aquário ninguém parecia dar pela sua falta.
Wilson GORJ
Recanto das Letras, “Nanos, Micros e Minicontos”, 2007

— o —

Quer dialogar?
Escreva-me: < rauer.rodrigues@ufms.br >.

Rauer Ribeiro Rodrigues
Professor; escritor; em travessia.

A ARTE DE ESCREVER

Informação importante: O Prof. Rauer ministrou, em diversos semestres desde 2008, no PPG-Letras Mestrado e Doutorado em Estudos Literários do Câmpus de Três Lagoas da UFMS, cursos de escrita criativa; a pedido da Editora, alguns dos textos que serviram de diretriz para as aulas, aqui comentados e ampliados pelo professor, vem sendo publicados no Blog da Pangeia; o professor também, eventualmente, acolhe e aqui publica textos dos seus alunos. Além dos textos que então utilizou nos cursos, inclusive alguns com os quais trabalhou na graduação, o professor vem incluindo outros, escritos especificamente para o blog, ampliando o escopo das aulas para um público além dos estudantes universitários. Não perca! Vale a pena acompanhar.

Claudia Amoroso Bortolato,
Editora-Executiva,
Pangeia Editorial

AULAS ANTERIORES DA SÉRIE A ARTE DE ESCREVER:

(Clique nas palavras com link para ir para a aula)

Apresentação – Como publicar seu livro

Aula 1 – Oito lições de Isaac Babel

Aula 2 – Segredos da ficção, por Raimundo Carrero

Aula 3 – Palahniuk: evite verbos de pensamento e outras dicas

Aula 4 – Quinze escritoras e as minúcias da Arte de Escrever

Aula 5 – 29 aforismos sobre o microconto

Aula 6 – Para escrever para crianças e jovens

Aula 7 – Síntese e concisão na escrita do haikai

Aula 8 – 33 dicas de escrita de Hemingway

Aula 9 – Técnica e engenho na escrita para tevê e cinema

Aula 10 – A arte de escrever na visão de Franz Kafka

Aula 11 – Ferramentas e dicas de Stephen King

Aula 12 – A concisão do infinito, com antologia de microcontos

Aula 13 – As lições de Camus, autor de “A peste”

Aula 14 – Vamos reinventar o soneto?

Aula 15 – Defina sua “profissão de fé” no ato de escrever

Aula 16 – Ernest Hemingway: um mergulho na “Teoria do Iceberg

Aula 17 – A ética e a estética do Vampiro

Aula 18 – A metalinguagem

Aula 19 – Uma metodologia da leitura

Aula 20 – Microconto: cacos, estilhaços e fótons

A ARTE DE ESCREVER – links descritivos de todos os artigos da série.

https://editorapangeia.com.br/blog/

EDITORA PANGEIA:

Quem Somos – Valores

Orçamento

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