- Todos que escrevem têm um móvel íntimo para escrever?
- Todos os que escrevem elaboram esteticamente tal motivação interior?
- Todos os que escrevem (poemas ou ficção ou relatos) são escritores?
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Essas aulas tornadas artigos, série que venho aqui publicando com a reprodução dos textos de base para aulas de escrita criativa que ministrei ou discutindo – em clave pessoal – aspectos da arte de escrever, têm por pressuposto não se direcionar somente a candidatos a escritor, ou a escritores iniciantes. Parto da premissa de que os princípios da arte da escrita também interessam, e por motivos variados, a estudantes, a professores, a profissionais que se utilizam cotidiana ou com alguma frequência da palavra escrita. Um curso sobre modos de narrar e maneiras de elaborar poemas, um curso que descreva modos de elaborar e reelaborar criativa e poeticamente de obras ficcionais a obras de poesia, trata de recursos de manipulação da língua cujo domínio se mostra importante nas ações e usos cotidianos e é fundamental a muitas atividades no mercado de trabalho.
As perguntas que abrem este texto parecem muito específicas – são, no entanto, tão pertinentes aos demais interessados pela linguagem quanto qualquer um ou o conjunto dos textos anteriores (no final deste artigo há uma relação das aulas anteriores com o link para acesso).
Para respondermos às questões propostas, nosso raciocínio se construirá tendo por referência um dos textos mais conhecidos, mais aclamados e, talvez, mais detratados da literatura brasileira, o poema “Profissão de Fé”, publicado por Olavo Bilac (1865-1918) na abertura de seu primeiro livro, Poesias (1888). De modo rápido, comento o poema, por estrofe ou por conjunto de estrofes.
Profissão de Fé
Olavo Bilac
Le poète est ciseleur,
Le ciseleur est poète.
Victor Hugo
A epígrafe de Victor Hugo, ícone do romantismo francês, personalidade cuja atuação pessoal na vida pública excedia sua condição de poeta e de romancista para a de intelectual ativo e questionador, apresenta o tema que será desenvolvido por Olavo Bilac. Em tradução livre, a epígrafe define que “O poeta é um entalhador (ciseleur), / O entalhador é um poeta”.
O entalhador é um artesão que maneja ferramentas que extraem, de uma forma bruta, uma representação simbólica. O artesão, tornado artista, é um escultor, e sua matéria-prima pode ir da madeira, trabalhada com formão, à pedra, tratada com ponteiras, cinzéis, entalhadoras, macetas, etc.
Seja na madeira, seja em pedra-sabão ou em mármore, o artesão tornado escultor desbasta, à peça bruta, na busca da forma que mentalizou; em seguida, faz polimento, ajusta em minúcia microscópica o acabamento idealizado.
É sob esta perspectiva que Bilac constrói sua “profissão de fé”.
Não quero o Zeus Capitolino,
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.
O eu-lírico se apresenta em primeira pessoa com uma negativa, colocando-se como possuidor de mármore “divino” no qual poderia entalhar o maior dos deuses, Zeus, definido pelos atributos da beleza e da humana força de Hércules, um semi-deus. A negativa, na primeira estrofe, se dá para opor o “mármore divino”, a indicar um objeto humanamente manufaturado, ao instrumento: o camartelo é ferramenta rude, para serviços brutos em canteiro de obras, pouco apropriada, pois, para o entalhe escultórico artístico.
Que outro – não eu! – a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.
A negativa do eu-lírico segue, mencionando Atenas, deusa da civilização, da sabedoria, da justiça, da habilidade, da estratégia, cujo desentranhar da “brutal” pedra é designada a outro, que desvelará da deusa “o altivo porte / Descomunal”. Há uma reiteração, pois, de que o eu-lírico aparentemente se furta à tarefa imensa do primeiro labor na pedra, se esquiva a enfrentar o grande bloco selvagem, natural, ainda que seja para entalhar deuses maiores, extraordinários, altivos e belos.
Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.
A impressão da estrofe anterior aqui se confirma: o eu-lírico do poema não pretende trabalhar com o assombroso, mas antes tratar de questões mínimas – troca a imensidão do extraordinário pelo pequeno, pelo detalhe do ínfimo, pela finura quase imperceptível. A um Colosso de Rodes, “vulto extraordinário”, prefere um relicário “De fino artista”. A opção do poeta é o trabalho que será observado minuciosamente à lupa e no qual não haverá fratura, erro, grosseria, falha ou acabamento reprovável.
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma flor.
O poeta, é, pois, menos o escultor e mais o ourives, nos define essa quarta estrofe. Ora, o ourives é um escultor em escala mínima, e sua matéria-prima, mais que o mais nobre dos mármores, é o mais nobre dos materiais, o ouro. A aspiração do eu-lírico é imitar ao ourives, e a invocação é o entalhe “de uma flor” – flor que é, sempre, símbolo da beleza natural, referência de perfeição, metáfora da própria poesia. O poema, assim, conduz os signos culturais que evoca desde o início à cristalização no arquétipo polissêmico “flor”, de fundas ressonâncias.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
O eu-lírico, configurado agora definitivamente como o poeta na elaboração do poema, afirma sua tarefa imitativa do ourives que finamente entalha a flor, fixando tal opção a qualquer outra, mesmo a de escultor de mármore de Carrara, a pedra de maior perfeição existente. Prefere, se for o caso, trabalhar com “pedra rara”, um “alvo cristal”, optando pelo “ônix”: compreende-se – quer o raro, o especial, o diferenciado, quer matéria-prima e resultado final que o distinga e sempre o distinguirá entre todos os demais.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
O papel é prata, outro material nobre, e escrever é trabalhar sobre o papel, esculpir as palavras na folha em branco como o cinzel amolda o metal no espaço. O poeta precisa ter domínio sobre a pena, que deve e precisa servi-lo com leveza e fluência ainda que trabalhe a espessura da “prata firme”.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
O poema “desenha” seu ideal estético, transitando da “imagem” para a “roupagem”, devendo aprimorar e limar as frases que dão “corpo” à “ideia”, para, enfim, o verso conter rimas engastadas como pedras raras. Neste passo, desconsideremos o preciosismo dos dois versos que finalizam a passagem, marcada em grifo nestas anotações: importa muito, no entanto, retermos os versos iniciais, da construção verbal que parte do propósito de expor uma ideia que surgiu como imagem, como conceito – escrever é dar a roupagem adequada a um corpo simbólico elaborado por uma subjetividade – a do eu-lírico – que deseja comunicar sua visão de mundo a outras subjetividades.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
E que o lavor do verso, acaso,
Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.
A estrofe, unidade do poema, enseja aqui um dos pontos altos da reflexão metaliterária. O corpo final da elaboração linguística, seja aqui seja em qualquer outra peça escrita, não deve apresentar “defeito”, deve ser fruto de “lavor”, de trabalho incessante, cuja perfeição deve ser “sutil”. O poema, assim como um conto, um romance ou uma redação de vestibular, deve aspirar à perfeição da escrita, deve realizar, nos limites de sua proposta, a capacidade máxima de expressão, a singeleza de ser apreendida pelo que diz, não pela forma, tão perfeita que, no pleno e máximo domínio da arte verbal, deixa antes sobressair, no texto final, o corpo conceitual, as ideias, o que pretende comunicar.
No caso da arte literária, forma também é conteúdo, definem os manuais, e definem com acerto. É preciso considerarmos que, sempre, na literatura, forma é conteúdo; mas é preciso assim considerar, em tal exigência, todo e qualquer texto escrito. Uma forma descuidada não tem condão de passar outra imagem do que veicula senão de desleixo, de falta de cuidado, de que ao conceito veiculado deve faltar seriedade ao estar envolto em embrulho de má qualidade verbal.
E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.
Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal… nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
Escrever é ofício que exige longas horas de maturação, e exige trabalho incessante para encontrar a forma justa, precisa, tendo em vista a perfeita e adequada proposição comunicacional. A escrita literária exige engenho e arte, exige – nos diz o eu-lírico de Bilac em sua “profissão de fé” – perícia sem paralelo em qualquer outra função; mais que isso, exige trabalho prévio intenso, maturando forma e conteúdo, pesquisando, estudando, lendo, conhecendo – enfim, não há arte literária alheia ao conhecimento da literatura, não há literatura construída sem o gerúndio de uma vida inteira inteiramente dedicada à literatura. Parafraseando Tchekóv, a literatura deve ser cônjuge e amante, ambas em tempo integral.
Parece que, ao eu-lírico de Bilac, a forma tem prevalência; há, no entanto, passagens anteriores de elogio à preparação para além da forma, de maturação das “ideias”; relembremos o que, nas estrofes iniciais, foi afirmado e reafirmado: as imagens, ideias e o corpo conceitual buscam a roupagem formal, verbal, que as configure à perfeição – é antes uma perfeição formal a serviço do conteúdo do que o contrário.
Deusa! A onda vil, que se avoluma
De um torvo mar,
Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma
Deixa-a rolar!
Blasfemo, em grita surda e horrendo
Ímpeto, o bando
Venha dos bárbaros crescendo,
Vociferando…
Deixa-o: que venha e uivando passe
– Bando feroz!
Não se te mude a cor da face
E o tom da voz!
Olha-os somente, armada e pronta,
Radiante e bela:
E, ao braço o escudo, a raiva afronta
Dessa procela!
Este que à frente vem, e o todo
Possui minaz
De um vândalo ou de um visigodo,
Cruel e audaz;
Este, que, de entre os mais, o vulto
Ferrenho alteia,
E, em jato, expele o amargo insulto
Que te enlameia:
É em vão que as forças cansa, e à luta
Se atira; é em vão
Que brande no ar a maça bruta
À bruta mão.
Não morrerás, Deusa sublime!
Do trono egrégio
Assistirás intacta ao crime
Do sacrilégio.
E, se morreres porventura,
Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura
Nos envolver!
Ah! ver por terra, profanada,
A ara partida
E a Arte imortal aos pés calcada,
Prostituída!…
Ver derribar do eterno sólio
O Belo, e o som
Ouvir da queda do Acropólio,
Do Partenon!…
O poeta, por meio do eu-lírico, opõe os “bárbaros” à síntese das lições anteriores, representadas por Palas Atenas (o escudo ao braço é uma das características da imagem canônica da deusa). Essa oposição entre a civilização – que é grego-romana, eventualmente cristã – e um universo bárbaro que o ataca, muitas vezes símbolo da natureza indomável do humano, é uma constante na obra de Bilac. Está, por exemplo, no soneto lapidar “Os bárbaros” (que transcrevemos e evocamos em aula anterior, AQUI).
O movimento do poema, na longa passagem, é contrapor à Deusa da “Serena forma” o “torvo mar”, vindo de “Bando feroz!” que comete o sacrilégio de prostituir e profanar “O belo”. Vencessem os “bárbaros” e junto à deusa morreria o eu-lírico, pois aqueles que se opõem à estética que amalgama o trabalho de “fino lavor” de ourives à perfeita e plena expressão da “ideia” são os bárbaros da literatura.
Escrever é aliar-se ao estudo, à pesquisa, ao trabalho incessante: não há espaço para improvisos, não há espaço para “lodo e espuma”, para proposição estética que não esteja na “ara” [altar] do “templo augusto” da “Arte imortal”; em síntese, escrever é um ato de conhecimento, resulta de longo e denodado estudo, sem espaço para leniências, ingenuidade ou meros desejos narcísicos.
Sem sacerdote, a Crença morta
Sentir, e o susto
Ver, e o extermínio, entrando a porta
Do templo augusto!…
Ver esta língua, que cultivo,
Sem ouropéis,
Mirrada ao hálito nocivo
Dos infiéis!…
Não! Morra tudo que me é caro,
Fique eu sozinho!
Que não encontre um só amparo
Em meu caminho!
Que a minha dor nem a um amigo
Inspire dó…
Mas, ah! que eu fique só contigo,
Contigo só!
Faltando o cultor da estética, da literatura realizada no escopo de uma tradição de estudo e trabalho, há o extermínio até da língua, que sucumbe ao “hálito nocivo” dos bárbaros “infiéis”. É sozinho, diante da turba, que o poeta, à maneira de Baudelaire, defende sua ética, pois se trata de uma ética, moldada pela opção estética. Mais que sobrar só, o eu-lírico se deseja sem nenhum amigo que não seja sua profissão de fé. Eis como se configura esta altíssima exigência:
Vive! que eu viverei servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.
Celebrarei o teu ofício
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!
Ainda que só e sentindo-se à morte em tal solidão, convivendo com a invasão dos bárbaros, o eu-lírico sobrevive para servir ao culto de “[esculpir] / No ouro mais puro” os seus versos. Caso sua celebração seja sacrifício aquém da estatura da fé estética professada, o eu-lírico transforma sua exigência em autopunição: “Morra eu também!”
Cabe ao poeta, ao criador literário, ao escritor, àquele que escreve, a exigência de realizar no mais alto grau sua arte, seu texto escrito, sua expressão verbal – é assim fazer ou metaforicamente perecer, morrer, sacrificar-se a si mesmo.
Caia eu também, sem esperança,
Porém tranquilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!
Na última estrofe, o eu-lírico se convence de que a turba bárbara pode levar de vencida seus esforços na defesa da estética que professa, mas que, se tal ocorrer, cairá, morto que seja, mas, ainda assim, permanecerá “vibrando a lança, / Em prol do Estilo”.
Trata-se de exagero retórico? No âmbito da escola literária do Parnasianismo, em que o poeta se coloca, e com a escolha simbolista da maiúscula em palavra conceitual, não, não seria exagero, seria antes um princípio estético a ser alcançado a cada poema, construindo o conjunto da obra de modo uniforme e característico. Ainda assim, como vimos, para além da defesa da pureza da forma e da correção linguística, a “profissão de fé” coloca tal busca estética a serviço de uma ideia que se pretende exprimir, um conceito, uma imagem – em suma, para vocalizar determinada cosmovisão. O estilo, pois, não é só “arte pela arte”, como normalmente se diz, mas a busca da forma perfeita para exprimir um conjunto conceitual.
Ainda que consideremos que Bilac defenda o artesanato pelo artesanato, o estilo pelo estilo, a perfeição das rimas e da métrica sem contrapartida de conteúdo, sua lição lapidar pode ser, na tarefa hodierna da escrita literária, modalizada, com a expressão verbal – no auge da capacidade linguística, narrativa, poética e literária – sendo complementada por vigorosa visão de mundo.
A literatura é, sempre, forma e conteúdo na máxima potência.
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Antepomos à leitura do poema de Bilac três questões – as retomemos:
- Todos que escrevem têm um móvel íntimo para escrever?
- Todos os que escrevem elaboram esteticamente tal motivação interior?
- Todos os que escrevem (poemas ou ficção ou relatos) são escritores?
Na perspectiva de Bilac, aparentemente, a primeira questão não é tratada, embora, a meu ver, permaneça subjacente: somente uma vontade íntima muito poderosa faria um sujeito – no caso o eu-lírico, persona em alter-ego do autor – se entregar à morte por uma causa, definindo tal causa em “profissão de fé” estética. Há, pois, um móvel íntimo mesmo para autor que muito consideram defender a tese da autonomia completa da arte diante da história, que entende que a realização da arte se dá somente por e para si mesma. Quero crer que todos os escritores têm um móvel íntimo para escrever.
* * *
Estamos, pois, diante da primeira questão, que parece subjetiva, mas tem caráter também objetivo, que se refere à intimidade, mas é uma intimidade que, com certeza, tem laços com a concretude exterior.
Vamos a um exercício, passo a passo. Reflita, faça anotações e escreva sua resposta. Vamos nessa?
Pergunto, pois, no plural: quais os seus móveis íntimos para se dedicar à escrita literária?
Anote à parte, considerando todas as observações anteriores, e reserve suas respostas.
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Considere, agora, a segunda pergunta, e a desdobre:
- Todos elaboram esteticamente sua motivação?
- Você alguma vez elaborou uma “profissão de fé”?
- Você a reelaborou ao longo da vida? Lembra-se das alterações mais significativas?
- Qual é seu credo estético no atual momento?
Responda a cada tópico, anote com minúcia, e reserve.
* * *
Por fim, considere a última questão inicial:
- Escrever o faz um escritor?
- Você é de fato um escritor?
As respostas demandam um juízo próprio que é individual, pessoal, e que deve ser respeitado.
Consideremos três respostas, entre milhares que são possíveis:
- Ainda não sou um escritor, mas quero ser.
- Sinto-me um escritor, mas preciso de algo mais.
- Sou escritor, mas não tenho as certezas que Bilac tinha já aos 22 ou 23 anos, quando escreveu sua “profissão de fé”.
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Tem agora em mãos, ou na tela do computador, suas respostas.
Como verificou e concluiu, as exigências são altas.
Na verdade, são muito, muito altas, e não só as colocadas por Bilac, mas aquelas – quaisquer que sejam – defendidas por qualquer escritor cuja obra seja memorável, clássica, dessas que frequentam as antologias escolares.
Retome suas anotações, não as deixe reservadas. Caso elas estejam rarefeitas, sejam pouco densas, há que fazer uma reflexão pessoal sobre literatura, sobre o que é literatura, sobre o que a literatura significa para você. Leia muito e se coloque diante das lições dos grandes escritores, aquelas expressas em textos metaliterários ou em ensaios, em cartas ou em outros documentos. A partir da leitura e da reflexão sobre sua existência, sobre o mundo que o cerca, sobre as agruras que vivencia, formule a sua visão pessoal de literatura e do mundo. Assim municiado, elabore o corpo estético com os princípios da sua futura obra, dos livros que pretende escrever. Caso mude visão de mundo ou de literatura, modifique de modo consistente seus princípios e fundamentos estéticos.
Lembre-se que a literatura é sempre engajamento com a vida, aqui e agora, mas que sua obra é você diante da eternidade: quer aparecer mal-ajambrado?
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Antes, quero crer, havia um escritor em latência; já agora, no momento em que define a sua “profissão de fé” no ato de escrever, nasce um escritor para o mundo. Seja bem-vindo.
Rauer Ribeiro Rodrigues
Professor; escritor; em travessia
A ARTE DE ESCREVER:
Informação importante: O Prof. Rauer ministrou no primeiro semestre de 2020, e ministrara antes, há alguns anos, na pós-graduação de Letras / Estudos Literários do Câmpus de Três Lagoas da UFMS, um Curso de Escrita Criativa; a nosso pedido, alguns dos textos que serviram de diretriz para as aulas, aqui comentados pelo professor, vem sendo publicados no Blog da Editora Pangeia nos últimos meses e continuarão a ser publicados, sempre na última sexta-feira de cada mês. Além dos textos que então utilizou no curso, o professor vem incluindo outros, ampliando o escopo do curso para um público além dos estudantes universitários. Não perca! Vale a pena acompanhar. (Rizio Macedo, Editor, Editora Pangeia).
AULAS ANTERIORES DESTA SÉRIE
(clique para acessar):
Apresentação – Como publicar seu livro
Aula 1 – Oito lições de Isaac Babel
Aula 2 – Segredos da ficção, por Raimundo Carrero
Aula 3 – Palahniuk: evite verbos de pensamento e outras dicas
Aula 4 – Quinze escritoras e as minúcias da Arte de Escrever
Aula 5 – 29 aforismos sobre o microconto
Aula 6 – Para escrever para crianças e jovens
Aula 7 – Síntese e concisão na escrita do haikai
Aula 8 – 33 dicas de escrita de Hemingway
Aula 9 – Técnica e engenho na escrita para tevê e cinema
Aula 10 – A arte de escrever na visão de Franz Kafka
Aula 11 – Ferramentas e dicas de Stephen King
Aula 12 – A concisão do infinito, com antologia de microcontos
Aula 13 – As lições de Camus, autor de “A peste”
Aula 14 – Vamos reinventar o soneto?
A ARTE DE ESCREVER – links descritivos de todos os artigos da série.
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