“Vigília”, de Flávia de Queiroz Lima

Temos publicado, com constância, poemas de Flávia de Queiroz Lima no Blog da Pangeia – sistematizando as publicações, ela irão acontecer sempre por volta dos dias 1º e 15 de cada mês.

Para ler os poemas anteriores, para conhecer o livro Laços e Avessos, lançado no selo de literatura da Pangeia, as Edições Dionysius, e para ter acesso a outras informações sobre Flávia de Queiroz Lima, clique AQUI.

Publicamos hoje o poema “Vigília”, do primeiro livro de Flávia, Círculo de Giz (1983), obra esgotada.


VIGÍLIA

Na solitária paz de um pedestal suspensa
a estátua de pedra fria
contempla a cidade morta
na longa noite vazia.

Inúteis luzes acesas
lembram fogueiras na selva
(quem sabe espantando as feras?…)
Mas a treva é ainda mais densa
e da sombra escorre medo.
Em cada lugar no escuro
há de emboscada um segredo…

Ah!… quantas mãos se crisparam
na angústia de um beijo vazio…
quantos corpos magoados
sangraram ódio sombrio
e lágrimas – que se perderam
na areia de peitos desertos…

Incertos passos ressoam
sem nunca vencer o espaço.
Os braços ficam inertes –
covardes, fogem, esquivos.
Os vivos parecem mortos
assim parados, cativos…

No seu pedestal, suspensa,
a estátua de pedra fria
em vigília permanece
olhando a cidade escura
que se mata, se devora…
se esquece então que é de pedra
e se apieda – e chora.

Flávia de Queiroz Lima
Rio de Janeiro, 1966

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