Nima Spigolon e Lana Maciel: “Nanquim Liquefeito”

SPIGOLON, Nima. Nanquim Liquefeito. Ilustrações de Lana Maciel. Diagramação de Yueh Fernandes. Uberlândia, MG: Dionysius; Pangeia, 2023. 112 p.

eu venho
trazendo carinho
e um raminho
de flor de cera
pra desejar:
— boa noite
junto ao sono
que te espera

e quando ele chegar
deixe sonhos na janela
adormeça devagar
ao sabor de chá 
com bolachas de canela 

faz um travesseiro
de lua e de estrelas
leia esse poema
guarde-o passageiro
pois
amanhã, a manhã
aquece o coração 

eu vou
levando carinho
e um galhinho
de orquídea
pra desejar:
— bom dia
ao lado da vida
que nos desperta

Haikai com sabor de Rubayat, sonetos entre o amor romântico e o amor erótico, poemas de versos livres, escolhas lexicais de sabor cotidiano, a vida feminina, heróica e prosaica, a estrutura variada dos poemas e dos versos, a liberdade do corpo, do desejo e da sexualidade – essas são algumas das características dos poemas de Nima Spigolon em Nanquim Liquefeito. O poema acima mostra uma parte dos aspectos mencionados.

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Lana Maciel, artista plástica, ilustradora
do Nanquim Liquefeito

Compõem o livro, página a página, ilustrações a nanquim, de Lana Maciel, em nuances furta-cor do negro ao cinza pálido. A seguir, uma entrevista com a artista plástica, com a reprodução de imagens e registros do processo de criação dos desenhos.

Pangeia – No conte um pouco sobre sua decisão em fazer parte desse projeto editorial com poemas/letra e desenhos/nanquim que constitui o cerne da realização em livro deste Nanquim Liquefeito.

Lana Maciel – A poesia e a pintura para mim são áreas que se entrelaçam nos caminhos da minha vida e daquilo que acredito de mundo. A poesia que Nima constrói, tanto na palavra como nos gestos no mundo me encantam. Eu estava sentindo saudade de ilustrar projetos e surgiu a oportunidade de integrar esse projeto tão bonito e potente. Quando li já tive vislumbres de caminhos possíveis, a potência da palavra que toma corpo.

Pangeia – Como foi o processo de criação dos desenhos para o livro?

Lana – Os desenhos nasceram como uma semente que germina em um dia de sol e se alimenta das chuvas de introspecção. Aprendi muito com o tempo das águas. Nanquim no papel, testes, ideias grandes e pequenas, mudanças de percurso. Cada ilustração foi como habitar um barquinho num mar de ideias a ser navegado. Fiquei pensando em como trazer a melancolia, o amor, o desejo, o prazer das descobertas nos traços que fiz pela manhã aqui no ateliê. Gosto muito de pensar que esse projeto é acima de tudo uma conversa de delicadeza e potência.

Pangeia – Nos conte, por favor, sobre os desafios de trabalhar com o nanquim.

Lana – Quase todas as ilustrações foram concebidas em nanquim em papel canson, no entanto a aquarela surgiu em alguns momentos, em um preto mais tímido e diluído. Também tentei incorporar aquilo que poderia ser considerado erro a princípio nas criações finais, afinal o percurso às vezes é muito mais importante do que aquilo que vemos. Nanquim falou disso também, de respeitar os caminhos que surgem com as águas/emoções. Fico grata porque tive muita liberdade na criação e conversas muito potentes com Nima durante o projeto, tanto que Nima abraçou inclusive a ideia de manchas e respingos em algumas páginas.

Pangeia – Por que essa escolha em fazer um livro com múltiplas linguagens?

Lana – Desde 2020, Nima e eu  gestamos a ideia de fazer um livro que tivesse as múltiplas linguagens que compartilhamos e em 2022 surgiu esse projeto. Creio que a poesia está indissociável com a pintura nesse projeto. Também participei com algumas palavras e Nima contribuiu muito com o projeto gráfico. Estudamos referências e compartilhamos sonhos.

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