Fabiane transforma sapos em príncipes

“Nossa proposta de intervenção em sala de aula contribuiu para a formação leitora de nossos alunos, pois evidenciamos por meio de todas as atividades – mas, principalmente, pelas produções literárias – a “comunhão baseada no prazer, na identificação” que houve entre os alunos e o livro lido. E assim percebemos no nosso aluno, etimologicamente aquele a quem falta luz, um estudante, aquele que procura adquirir conhecimento e realizar suas lições, de tal modo que se transforma metaforicamente do sapo da fábula, feio e desajeitado, para dizer o mínimo, em um príncipe, belo e feliz, ao receber o beijo da leitura literária. Essa leitura literária na escola, fica claro agora, deve ser constante, diária, cotidiana, impactando profunda e positivamente em aspectos psicológicos, cognitivos e de aprendizado nas salas de aula.” (Fabiane Lemos, Do sapo ao príncipe: a formação do leitor literário, Campinas, SP: Editora Pangeia, 2021, p. 153).

Do livro de Fabiane Lemos, destacamos, em aperitivo, o último posfácio:

De sapos a príncipes, de ledores a leitores
Por Amaya Prado

O leitor encontrará, neste livro, o relato de uma dessas metamorfoses que os professores provocam em seus alunos, quando seu trabalho está ancorado em muito afeto, dedicação e principalmente fundamentação teórica e metodológica. Fabiane é professora encantada com seu ofício, consciente de seu papel e sempre interessada em compreender os processos que envolvem a formação de seus alunos como leitores literários. Ela própria leitora exemplar, não somente dos textos em geral e dos literários em particular, mas também do contexto em que se insere a escolarização da literatura.

Esta a questão que se coloca: como conduzir uma classe a uma leitura mais aprofundada, mais significativa dos textos literários?

Fabiane nos responde apresentando sua experiência, desenvolvida a partir da pesquisa proposta para o Mestrado em Letras – PROFLETRAS, da UFMS de Três Lagoas. São duas histórias de formação de leitores paralelas, a dos alunos em primeiro plano e a da professora, como condição fundamental para a realização de todo o processo.

A vivência de leitura da turma passa por uma significativa transformação, sempre em consonância com a realidade imediata e com suas experiências prévias. A partir desse contexto os alunos foram estimulados por estratégias das mais variadas para a leitura literária. Foram propostas rodas de conversa, compartilhamento de leituras, de falas e de escutas, de registro de suas observações. Assistiram a filmes e a um evento de contação de histórias, vivenciaram prazerosamente o ambiente da biblioteca. Para que a vivência fosse completa e mais significativa, houve também o momento de estímulo à criatividade, de modo contextualizado e adequadamente estimulado, o que resultou na produção de cartazes, de redações, de trabalho em equipe e de apresentações orais para o público.

A postura que rege as ações de Fabiane está explícita desde a epígrafe do livro. Inicia-se com a inquietação e autorreflexão própria dos professores engajados, passando pela formação continuada, pela busca de mais conhecimento, pelo desenvolvimento crescente da consciência de seu papel, de sua condição de leitora literária, para chegar à constatação da necessidade de transformação da prática sobre o ensino de leitura de literatura.

Esta professora perscrutou caminhos que romperam com as crenças do senso comum para promover um rompimento que indica novos e possíveis rumos. Propõe, sempre de forma teórica e metodologicamente fundamentada, outros modos de atuação que exigem a participação ativa dos leitores, vistos agora como protagonistas no diálogo com textos literários. A partir dessa interação, conseguimos vislumbrar o feito mais importante da autora, que nos enche de esperança:

a experiência que Fabiane generosamente divide conosco confirma a possibilidade do envolvimento dos alunos em práticas leitoras efetivas e a criação de uma potencial comunidade leitora.

No capítulo com que abre o livro, ao falar sobre a professora que era e a professora que se tornou com a prática da leitura literária em sala de aula, Fabiane Lemos comenta: “somente a formação do professor como leitor literário é capaz de abalar velhas estruturas de práticas de ensino em sua sala de aula. E chegamos à reflexão de que mais do que ensinar nossos alunos a ler o que está escrito, é necessário ensiná-los a ler o que não está escrito”. Do sapo ao príncipe: a formação do leitor literário é o relato vívido da metamorfose que precisamos fazer nas salas de aula de nosso país.

O livro tem prefácio do Prof. Edmir Perrotti (USP), e dois posfácios: o primeiro, da Profa. Annete Sejópoles Modesto, da Secretaria Municipal de Educação de Três Lagoas, MS, e o que fecha o livro, da Profa. Amaya Prado (UFMS), transcrito acima.Para conhecer mais detalhes sobre o livro, disponível em PDF e em ePub, clique AQUI.

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