Sentimento e liberdade, poesia e canto, mãe e filha – o poema inédito de Flávia de Queiroz Lima que trazemos hoje no Blog da Pangeia é uma mescla entre lírica e épica, na dor da vivência cotidiana que se apresenta em ethos heroico, no ciclo do eterno retorno. Este poema foi escrito em 13.07 2024. Vamos a ele.
DE VOLTA AO COMEÇO
Quando fui mãe me vi nos olhos que chegaram
trazendo esperas, desatando sentimentos
– tantas perguntas me brotavam, incessantes,
fluíam soltas de certezas, rumo ao vento.
O sono leve – ouvido e braços desdobrados –
deixava em mim a essência inquieta da semente
e fecundada de horizontes, desafios,
atravessava essa fronteira transparente.
Amamentar tecia em volta uma redoma
sobrando espaço ao devaneio, laço e avesso.
Mas se esvaindo ia a menina alheia ao tempo,
chegava intensa a sensação de recomeço.
Cada cantiga de ninar soava o longe,
me percorrendo o jeito bom do encantamento
quando era sonho o que meu colo aconchegava,
tão perto e frágil o respirar desse momento…
Havia assombro nesses olhos desmedidos,
e nas passadas que ensaiavam, ainda incertas,
balbuciando tentativas de palavras,
tateando o mundo nas primeiras descobertas…
Quando fui mãe desabrochei na mesma seiva
que alimentava cada filha – e hoje extravasa
sendo incessante na ousadia de seus gestos,
na inabalável liberdade em suas asas.
Flávia de Queiroz Lima
Escritora, poeta, letrista, compositora, resenhista, cronista, sarauzeira, mãe, mulher, trabalhadora e
sensível leitora de ficção e de poesia, escrevendo pequenas e densas resenhas de suas leituras.
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