Edemir Bagon nos mostra inovação eficaz para o ensino

Seguindo o princípio de que ter a literatura no centro do ensino propicia condições de aprendizagem que nenhuma outra disciplina provê, Edemir Fernandes Bagon, em O microconto em sala de aula relata pesquisa-ação que desenvolveu em escola estadual de Carapicuíba, SP, em projeto realizado no Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional, Profletras, do Câmpus de Três Lagoas da UFMS.

O princípio acima é defendido pelo orientador da pesquisa, Prof. Rauer, que desenvolveu com diversos pesquisadores, tanto no Profletras quanto no PPG-Letras Mestrado e Doutorado, também da UFMS de Três Lagoas, muitas pesquisas comprobatórias da tese. A de Bagon foi desenvolvida nos anos de 2016-2018 e o livro traz, além do relato do projeto desenvolvido, a sequência didática que norteou a aplicação prática da leitura, da produção textual e do letramento digital.

Para ampliar e atualizar as reflexões sobre o tema, o Blog da Pangeia entrevistou Edemir Bagon. A íntegra do diálogo segue abaixo.

Blog da PangeiaQuais foram os princípios teóricos que nortearam sua pesquisa?

Edemir Bagon – Minha pesquisa foi orientada por princípios teóricos de construtivismo, onde o aprendizado é visto como um processo ativo de construção de conhecimento, e pelo socioconstrutivismo de Vygotsky, que enfatiza a importância das interações sociais e culturais no desenvolvimento cognitivo. Além disso, a teoria de Lauro Zavala sobre os microcontos foi fundamental. Zavala destaca a capacidade dos microcontos de condensar significados complexos em poucas palavras, o que favorece a análise crítica e a interpretação dos textos pelos alunos, promovendo uma leitura mais profunda e significativa. Incorporei também as ideias de Mikhail Bakhtin, especialmente sua teoria do dialogismo, que considera a linguagem como um fenômeno essencialmente social e interativo. Bakhtin destaca a importância dos diálogos e da polifonia, nos quais múltiplas vozes e perspectivas se encontram e se confrontam, enriquecendo a compreensão e a interpretação dos textos. Além disso, apoiei-me nos estudos de Roxane Rojo sobre multiletramentos e letramento crítico. Rojo enfatiza a necessidade de desenvolver competências que vão além da leitura e escrita tradicionais, incorporando diferentes linguagens e mídias, e promovendo uma visão crítica sobre os textos e contextos culturais.

Blog da PangeiaVocê cursou filosofia. Qual a visão de mundo e de ensino que subjaz sua proposta pedagógica ao desenvolver esse projeto?

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Edemir Bagon – Minha formação em filosofia, especialmente influenciada pelos pensamentos de Nietzsche, Hegel e Rousseau, proporcionou-me uma visão de mundo que valoriza a afirmação da vida, o desenvolvimento do espírito e a educação como meio de transformação social. Inspirado por Nietzsche, acredito na importância de desafiar verdades absolutas e promover a autonomia intelectual e a criatividade dos alunos, incentivando-os a criar seus próprios valores e questionar as convenções estabelecidas. A dialética de Hegel influenciou minha visão de ensino como um processo contínuo de tese, antítese e síntese, onde o conhecimento é construído através da resolução de contradições e da superação de ideias anteriores. Já Rousseau enfatizou para mim a importância da educação natural e do desenvolvimento integral do indivíduo, defendendo que a educação deve ser adaptada ao desenvolvimento do aluno e promover a liberdade e a formação moral. Esses três pensadores, combinados, fundamentam minha abordagem pedagógica, que busca formar indivíduos críticos, autônomos e criativos, capazes de transformar a sociedade.

Blog da Pangeia – Oito anos depois, como avalia o projeto que desenvolveu em sala de aula e que é relatado no livro?

Edemir Bagon – Oito anos depois, avalio o projeto com um olhar muito positivo. Observando os resultados a longo prazo, pude perceber que os alunos desenvolveram habilidades críticas de leitura e escrita, além de uma maior apreciação pela literatura. Os coparticipantes do projeto concluíram o Ensino Médio em 2023, e muitos deles demonstraram proficiência e interesse contínuo na leitura e escrita. A utilização do microconto como ferramenta pedagógica mostrou-se eficaz para engajar os estudantes e para desenvolver suas habilidades de síntese e de criatividade. O feedback dos alunos e dos colegas educadores também foi extremamente positivo, destacando a relevância e a inovação da metodologia aplicada.

Blog da PangeiaMudaria alguma coisa se fosse realizar a pesquisa hoje? O quê?

Edemir Bagon – Se fosse realizar a pesquisa hoje, incorporaria mais tecnologias digitais, como plataformas de escrita colaborativa e ferramentas de edição digital. Além disso, procuraria integrar ainda mais os elementos da cultura digital que permeiam o cotidiano dos alunos, como blogs e redes sociais, para tornar o processo de aprendizagem ainda mais conectado com suas realidades. Outra mudança seria um enfoque maior na personalização do ensino, atendendo às necessidades e ritmos de aprendizagem individuais.

Blog da PangeiaO que devemos fazer para melhorar o ensino de Língua Portuguesa, de Redação e de Literatura no Ensino Fundamental II?

Edemir Bagon – Para melhorar o ensino de Língua Portuguesa, Redação e Literatura no Ensino Fundamental II, é essencial promover um ambiente de leitura prazerosa, incentivando a leitura de diversos gêneros literários e adaptando as escolhas às preferências dos alunos. Desenvolver a escrita criativa é crucial, utilizando atividades que estimulem a criatividade, como a produção de microcontos e textos colaborativos. A incorporação de tecnologias digitais deve ser intensificada, utilizando blogs, fóruns e redes sociais como ferramentas pedagógicas para engajar os alunos. Além do mais, é importante promover discussões literárias, criando espaços de diálogo onde os alunos possam compartilhar suas interpretações e reflexões sobre os textos lidos. A integração dessas práticas pode contribuir significativamente para o desenvolvimento das competências de leitura, escrita e pensamento crítico dos alunos, tornando o aprendizado mais dinâmico e significativo.

Blog da PangeiaPara obtermos melhor aprendizado de um modo geral, o que devemos fazer pedagogicamente, a seu ver?

Edemir Bagon – Quanto a alcançar um melhor aprendizado, a meu ver, devemos personalizar o ensino, adaptando as estratégias pedagógicas às necessidades e aos ritmos de aprendizagem de cada aluno. Incentivar o pensamento crítico é essencial, promovendo atividades que estimulem a análise, a síntese e a avaliação das informações. Fomentar a aprendizagem ativa é crucial, utilizando metodologias que coloquem o aluno como protagonista do seu próprio aprendizado, como a aprendizagem baseada em projetos. Além disso, criar um ambiente de apoio é fundamental, garantindo que os alunos se sintam seguros e apoiados, promovendo um clima escolar positivo.

Blog da Pangeia – Tem algo que julgue importante dizer e que não perguntamos?

Edemir Bagon – Gostaria de destacar a importância de valorizar a formação continuada dos professores. A educação é um campo em constante evolução, e é crucial que os educadores tenham acesso a oportunidades de desenvolvimento profissional para se manterem atualizados com as novas metodologias e tecnologias educacionais.

Blog da PangeiaPor fim, por que o livro O microconto em sala de aula deve ser lido, estudado e suas lições aplicadas nas nossas escolas?

Edemir Bagon – O livro O microconto em sala de aula deve ser lido e estudado porque oferece uma abordagem inovadora e eficaz para o ensino de língua portuguesa e literatura. As lições e metodologias apresentadas no livro mostram como os microcontos, baseados na teoria de Lauro Zavala, podem ser utilizados para desenvolver habilidades de leitura, escrita e pensamento crítico de maneira envolvente e significativa. Não obstante, o livro fornece ferramentas práticas que podem ser facilmente adaptadas e implementadas em diferentes contextos educacionais, ajudando a transformar a sala de aula em um espaço dinâmico e colaborativo de aprendizagem. Valorizar a interação entre diversas vozes pode tornar a aprendizagem mais colaborativa e significativa, expandindo o horizonte educacional para além do texto escrito.

A última capa de O microconto em sala de aula é do Prof. Rauer, que anota: “Este é um livro modelar para aqueles que querem fazer e acontecer na sala de aula”. Conforme se depreende das palavras de Edemir Fernandes Bagon na entrevista acima, o ensino brasileiro pode dar um salto qualitativo com algumas certeiras decisões pedagógicas em um quadro político-institucional de valorização do professor e do ensino. Vamos fazer o bom combate?

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Comentários Recentes

  • Marina N. Cheliga
    junho 5, 2024 - 1:37 am · Responder

    Excelente publicação! Prof. Edemir realizou um trabalho maravilhoso, não apenas com e para seus alunos, mas também para nós, professores.

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