Formação Docente – dois livros, muitas vidas!

Escola e bairro nas periferias brasileiras estão como a igreja e a praça central estão nas cidades coloniais espanholas: indissociavelmente marcados e integrados.

A diferença é que, no primeiro caso, elas aparecem não como um fruto do planejamento prévio estatal, mas como uma conquista social, geralmente por anos e anos de lutas e reivindicações. Mas o que isso nos revela? Revela que a escola, por mais que o senso comum diga que os jovens e crianças não querem estudar, que a escola é central, necessária como aparelho público e identitária entre os sujeitos e os seus lugares. Não há uma única memória de nossos lugares que não guardem um espaço “quase sacralizado” para escola e para o que acontecia lá e/ou em seus trajetos.

Assim também são as escolas do bairro, agora distrito, de Campo Grande, em Campinas, SP!

Espaços conquistados, logo, espaços públicos e de uso público.

Além dos textos introdutórios escritos por professores universitários e alguns dirigentes escolares, o livro [Formação Docente II] coloca em destaque os relatos de experiência vividas a partir das disciplinas de Estágio Supervisionado oferecidas a todos os alunos dos cursos de Licenciatura da Unicamp, em especial a EL874, cujo projeto central era possibilitar aos alunos estagiários um tempo-espaço de formação no/com turmas de EJA em escolas da periferia de Campinas, na região do Campo Grande.

Assim, alunos dos cursos de licenciatura em Geografia, Letras, Ciências Sociais, Física, Matemática, Biologia, História e Filosofia nos presenteiam com os seus relatos de experiência e suas vivências que foram acontecendo junto às turmas de EJA em escolas da periferia de Campinas. Relatos que revelam, também, muito estranhamento aos contextos socioespaciais e subjetivos daqueles alunos que, somente agora, depois de adultos, retornam para a escola em busca de uma formação roubada no passado, para aprenderem a ler ou finalizar sua formação escolar.

Atividades de ensino, reflexões sobre as práticas, fotos, depoimentos e tudo o que encontraram nessas escolas… tudo vai se entrecruzando e formando um mosaico que torna essa relação universidade–escola–universidade central para a formação docente desses jovens universitários autores, pois, do estranhamento inicial, vai se forjando uma identidade docente em que alunos, escola, bairro, universidade vão se entrecruzando e recolocando a escola no seu verdadeiro lugar de origem: espaço de resistência e transformação!

O conjunto dos relatos e das narrativas aqui apresentadas nos faz voltar às nossas próprias memórias.

Li e reli algumas delas pensando em quão burocráticos foram os meus próprios estágios, num modelo de formação marcado pelo 3+1. Depois voltei para a minha primeira experiência profissional de magistério, em 1993, numa turma de EJA, na periferia de Sorocaba. Também queria trazer e ressignificar essas experiências apresentadas nesse livro para as minhas turmas de estágio supervisionado oferecidas no curso de Geografia da Unicamp.

Enfim, ler esses relatos e essas narrativas é como estar em uma tempestade de vento: não há lado para onde posicionar seu guarda-chuva, pois coloque como quiser ou puder, você será molhado! No caso desse livro, não há como fugir, que você também será atravessado por essas experiências narradas.

Eis aqui o meu convite para lê-lo.

Prof. Dr. Rafael Straforini
Instituto de Geociências da Unicamp
Formação Docente II, p. 345-347

Cada um desses dois primeiros volumes da Coleção Formação Docente, assim como os volumes que serão publicados na sequência, conjugam, a cada relato, a cada texto, as muitas vidas que constituem as travessias ao mesmo tempo individuais, coletivas e universais dos estudantes na metamorfose para se construírem professores. Confira:

Formação Docente I
Dos cursos de licenciatura ãs narrativas de estágio

Formação Docente II
Dos estágios (na Educação de Jovens e Adultos)
aos relatos de experiência

Para outros livros e informações sobre a
Profa. Nima Spigolon

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