No início, ab ovo – e o primeiro poema de Flávia de Queiroz Lima no ano novo é
QUEBRAR OS OVOS
Catar feijão se limita com escrever:
Joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
João Cabral de Melo Neto
Quebrar os ovos não se faz sem sapiência,
certo equilíbrio entre usar força e sutileza,
para que a casca não resulte esfacelada,
mas abra espaço à clara e à gema sempre inteiras:
bater o garfo incisivo, sem melindres,
num gesto breve entre o cuidado e a destreza.
A mesma arte rege o engenho das palavras
quando deslizam no papel sobre o silêncio:
buscando toques que provoquem rompimentos,
mas na leveza encontrem, hábeis, seu limite:
deixando o vão das instigantes incertezas,
expondo o cerne que se abre num convite.
A escrita impõe à mão seu traço decisivo
que se revela na fissura, na imprudência,
tecendo enredos, resvalando no artifício,
mas evitando na entrelinha as evidências.
Resta cuidar que assim, medida, não sacie,
mantendo a fome na ardilosa incandescência.
Flávia de Queiroz Lima
é poeta, compositora e escritora,
autora de Laços e Avessos (2023) e
deArrumar as Gavetas (2012)
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Flávia de Queiroz Lima
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Francirene Gripp de Oliveira
janeiro 3, 2024 - 11:36 pm ·Belo poema! Parabéns!
Dionysius / Pangeia / Saruê
janeiro 29, 2024 - 1:06 pm ·Obrigado, Francirene!!!
Cordial abraço,