Tenho em mãos o livro A princesa gulosa, de Ivna Previdelli, primeiro livro infantojuvenil publicado pela Editora Pangeia com a criação do selo Edições Saruê.
Já de início, a capa ilustrada por Regine Limaverde encanta e envolve ao criar um mundo multicolorido de histórias fantasiosas e estranhas, que encantam e enriquecem a cada epígrafe e também nas linhas escritas numa abordagem clara, autêntica e acessível. Abre o volume as agruras da pequenina princesa do planeta de Cesarele, e que inicia o rol das marcantes personagens que vão se seguir nos demais contos.
As cinco narrativas de Ivna Previdelli reverberam um mundo de Conto de Fadas, recheado de transformações, em enredos que convidam, despertam e estimulam, tanto nas crianças quanto nos adultos, à reflexão sobre as possíveis metamorfoses humanas.
A princesa gulosa, entre o sabor das estrelas em um planeta invertido – que de dia era noite e de noite era dia –, tomava banho de chuva com seu amigo elefante, cantava parabéns e comia bolo todos os dias. Porém, sempre faminta, devorou seu amigo e passou a se sentir triste e solitária, enquanto seu planeta ecoa sua voz em versos e rimas. Nos detalhes, trata da condição humana em meio aos vícios da gula e do egoísmo, convidando o leitor a compreender e a controlar seus impulsos e para refletir sobre a ação e a reação ao fazer as coisas.
“O elefante descomido” traz à baila o impossível. Depois de muitos anos com o elefante indigesto confinado em sua barriga, a princesa gulosa cansa de cantar a melodia triste e reconhece que princesas e elefantes precisam ter brilho e amor próprio. Nestas poucas linhas, surgem a força de vontade, o arrependimento, o amor e a tomada de consciência do ser humano frente aos desafios, fazendo com que seja possível vencer imensos desafios, como de certo modo consta na epígrafe de Monteiro Lobato: “Eu acredito e desacredito tudo, porque acho tudo possível e impossível”.
“O ventinho” evoca a presença do pai e da mãe que almejam filhos fortes, destemidos, corajosos, prontos desde a tenra infância para enfrentar os dissabores do mundo. Porém, o ventinho torna-se um furacão, seguindo os desejos paternos e maternos, destruindo tudo pela frente, trazendo infelicidade pela destruição que causa. Ventinho, que queria ser apenas uma leve brisa, ou voltando “a ventilar não mais que um ventilador”. E, por fim, o ventinho consegue ser o que desejava, e, transformado, passa a alegrar os corações das pessoas por onde passa, seguindo a máxima de que “uns crescem cedo, e outros, mais tarde. Calma!”
“Natureza às avessas” é uma fábula, com os animais da floresta reagindo de forma contrária ao normal em todos os sentidos. Até mesmo o burro torna-se inteligente. Mas ninguém acredita nisso: “ora, como o burro que é burro vai estar certo?” Moral da história: todos somos capazes, o que realmente importa é o que fazemos com aquilo que temos e com aquilo que somos!
“A comandante doida” brinda o leitor com uma narrativa de fatos estranhos ocorridos em uma aeronave pilotada por Claudia, que passa ensinamentos de coragem e confiança aos tripulantes, diante de um mundo fantasioso, e deixa uma dica: “nunca deixo dois fatores [adversos] se juntarem”. Pois situações adversas ocorrem sempre, o que irá determinar o sucesso ao enfrentá-las é a forma de priorizar nossas atitudes.
Ao final do livro, no texto “Carta para minha menininha crescida”, a mãe da autora registra seu encanto pela capacidade inventiva e poética da filha, considerando que ela, como autora, se vale das narrativas e da linguagem com o objetivo de expressar os mais profundos ensinamentos. “
Suas estórias, minha filha”, afirma a Carta, “deveriam ser cantadas nas bocas dos passarinhos…” É como diz o poeta Manoel de Barros: “quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos”.
Em “A história dessas histórias”, fechando o livro, a autora nos conta sobre o processo das invenções e recriações de histórias infantis que contava à filha, deixando-as registradas.
Sobre a parceria de sua mãe, Regine Limaverde, no livro, ao realizar com muito amor e destreza as ilustrações, Ivna assegura: “Esse livro foi feito com muito amor a duas mãos”.
De forma plural e revisitando temáticas diversas, com linguagem simples, acessível, poética e leve, Ivna Previdelli, em A princesa gulosa, envolve seus leitores do início ao fim, convidando-os a uma viagem de transformações humanas.
Boa leitura e divirta-se!
Amanda Lamônica
Doutoranda em Estudos Literários no PPG-Letras / CPTL /
UFMS, com bolsa FUNDECT; Mestre em Estudos Literários;
autora do livro O Jesus Homem, de Plínio Marcos:
Teatralidade e Representação, que a Pangeia lança
em dezembro deste ano; professora da Secretaria Estadual de
Educação de MS e da Secretaria Municipal de Educação e
Cultura de Três Lagoas.
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CARLOS RODRIGUES BRANDAO
outubro 27, 2021 - 1:07 pm ·Lembrei um momento da poesia de João Cabral de Mello Neto quando ele fala da magia das primeiras páginas de um caderno novinho, nas mãos de um menino, em um primeiro dia de aula. Que este primeiro livro venha com essa pequenina e tão bela imagem.
Rauer Rodrigues
outubro 28, 2021 - 1:32 am ·Obrigado por essas palavras, Prof. Carlos Rodrigues Brandão. Toda caminhada na existência, toda escalada da montanha, toda travessia, começa com um primeiro passo. Vamos trilhar nossos sertões, nossa poesia, nossos livros, e que a Coleção Ler-Brincar-Criar, que nos acolhe, seja um belo momento nas veredas e nos encontros da vida e da literatura.
Edilva Bandeira
outubro 30, 2021 - 2:14 pm ·Excelente Resenha Amanda, bonita, bem escrita, convidativa à leitura da obra. Gostei muito e fiquei curiosa para conhecer e ler o livro. Obrigada.