PPG-UFF – Literatura em Movimento: Pesquisa e Investigação 3 – ePub

“Juntamente com o primeiro e o segundo volume da Coleção Literatura em movimento: pesquisa e investigação, esse terceiro volume que agora chega aos leitores inaugura uma nova etapa das reflexões discentes no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura, da Universidade Federal Fluminense. Ao reunir trinta e dois estudos diferentes entre si, ordenados a partir das linhas de pesquisas: Literatura, Teoria e Crítica Literária e Literatura Intermidialidade e Tradução, a presente obra abre espaço para que as reflexões discentes sejam enfeixadas em forma de livro eletrônico, com a consequente ampliação do horizonte de alcance dos trabalhos.”

Boa leitura!

André Dias

Professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense

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Descrição

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Esta obra é composta por trinta e dois capítulos que reúnem trabalhos com abordagens e linhas teóricas afins.


 

1-A ROSA DO POVO OU A ROSA DE CARLOS: UMA POÉTICA DE COMUNHÃO E RECLUSÃO

Ana Carolina Botelho

O presente artigo visa discutir como Carlos Drummond de Andrade, em A rosa do povo – livro que traz poemas elaborados em uma fase mais madura do escritor modernista –, resiste à permanência em uma só dicção, construindo uma poética nessa obra que ora se destina à coletividade, ora se volta para o próprio poeta. Por isso, serão analisados poemas que trazem um discurso de comunhão alicerçado nas ideologias sociopolíticas de Drummond na década de 1940, como também composições que exploram única e exclusivamente uma atitude de reclusão do escritor, que, além de evocarem figuras como Itabira e o passado familiar do poeta, também se contrapõem ao canto geral de coletividade, criando um aparente paradoxo. A fim de fundamentar a discussão, recuperaremos o brilhante estudo a respeito de poesia e resistência de Alfredo Bosi (2000) e a análise dos tensionamentos existentes em A rosa do povo feita por Antonio Carlos Secchin (2014).

 

2-AUTOFICÇÃO E PEFORMANCE: A EXPANSIVIDADE DO CAMPO LITERÁRIO

Anderson Guerreiro

A partir do conceito de literatura expandida, fenômeno que pode ser compreendido como o fato das narrativas contemporâneas, assim como seus escritores, não se limitarem a transitarem tão somente nos seus meios e suportes, ou seja, não se enquadrarem numa literatura puramente literária em que procedimentos, meios e condições de produção não obedecem unicamente a esse campo, entendemos que os textos autofictícios abrem diversos questionamentos sobre o estatuto da ficção, sobre a configuração da figura do autor e as delimitações do campo literário, essas narrativas também possibilitam novas formas contemporâneas da escrita e da literatura. Nesse sentido, a articulação entre performance e escrita e as nuances da autoficção ao embolar ficção e realidade são questões que gostaríamos de explorar a fim de ilustrar um caso típico que pode ser compreendido como essa expansividade do campo da literatura contemporânea latinoamericana. A escrita performática da autoficção causa um efeito sobre o texto que impossibilita a leitura com base nas categorias de gêneros definidas pelo campo da literatura, tampouco o comportamento do autor se iguala ao de sua categoria na literatura autônoma. Portanto, consideramos que este tipo de escritas, atentando seus efeitos no texto e no leitor e o panorama literário contemporâneo explorado pela crítica, contribui para que haja uma expansividade do campo literário e consequentemente um não pertencimento exclusivo a esse campo, tornando uma literatura, cada vez mais, “fora de si”.

 

3-TEMPO E MEMÓRIA NO MUSEU DE CABRAL

André França Rocha Borba

Museu de Tudo, livro de João Cabral de Melo Neto publicado em 1975, apresenta uma contradição logo no título. Há um paradoxo entre a seletividade esperada de um museu e a variedade temática apresentada nos poemas. Dentre os assuntos, é possível perceber que há uma forte presença da memória e considerações sobre o tempo. Para Senna (1980), a memória permeia a obra cabralina e se adensa gradativamente. O século XX, justamente, é marcado pela emergência da memória como uma preocupação constante na produção artística e literária. Assim, nos interessa revisitar a poética de João Cabral a partir do novo fôlego proporcionado pela contemporaneidade e investigar como tempo e memória se fabricam em Museu de Tudo não apenas como temas, mas como forças que atravessam o livro. Mais do que uma análise temática, procuraremos discernir como o autor mobiliza a memória como uma força constituinte da sua escrita. Trata-se de um movimento de reconhecer a memória não por um viés sociológico, mas, antes, estabelecer como a recordação – no sentido de Assmann (2011) – se fabrica entre poeta e obra. Se João Cabral era publicamente conhecido por sua racionalidade e cuidado formal, percebemos que na obra em questão emergem potências outras para configurar o poético.

 

4-FOTO-GRAFIA: CAPTURAR IMAGENS PELAS PALAVRAS

Brendo Vasconcellos de Faria

Este trabalho visa a refletir, no contexto da obra poética de Luís Quintais, poeta português contemporâneo português, a constituição da subjetividade lírica em relação ao espaço urbano e à sua antropologia. À vista disso, examino a técnica de observação lírica estabelecida pelo poeta cujo processo muito se assemelha à técnica fotográfica, por meio da qual ocorre a focalização de um determinado aspecto da composição fotográfica em função do enquadramento escolhido. Associando duas textualidades que concernem à produção artística desse autor: a sua poesia e a sua fotografia, observo que Quintais provoca a contemplação minuciosa de espaços que são marcados por elementos de tensão os quais levam à percepção da ausência e das ruínas. Por fim, como base para a abordagem teórico-crítica, vale-se dos estudos de Didi-Huberman, sobre imagem e percepção; de Roland Barthes, sobre o signo fotográfico e de Sotang, sobre as relações entre fotografia, individualidade e memória.

 

5-ENTRE ESCRITAS DE SI E DO OUTRO EM LLANSOL: LEITURA DE “UMA DATA EM CADA MÃO – LIVRO DE HORAS I”

Claudia Regina do Nascimento

O presente trabalho dialoga com alguns conceitos discutidos na disciplina Poéticas da Modernidade, no Programa de Mestrado e Doutorado em Literatura Comparada, nesta Universidade. O curso intitulado “Os limites do literário entre a narrativa e o diário”, que, deparando-se com situações limítrofes que rompem os paradigmas destes gêneros da prosa – no caso, o romance – e as formas confessionais, e, retomando as concepções de narrativa (escrita do outro) e diário (escrita de si), também impulsiona a continuidade dos estudos nele abordados. Nesse sentido, inicialmente, apresenta-se, aqui, a leitura de “Uma data em cada mão – Livro de horas I” (2009), num movimento empreendido em torno da hipótese de que o mapeamento da “contaminação genológica” llansoliana (BARRENTO, 2003) presente, também, nos textos selecionados para compor este “primeiro caderno”, pode indicar caminhos para a busca de inferências sobre a oficina de escrita de Llansol, como “prática de um gênero indeciso”, e sua relação no tratamento dado ao cotidiano como elemento inerente aos textos diarísticos da autora. Com base nos principais interlocutores teóricos: ANTELO (2008), BLANCHOT (2005) e FOUCAULT (2009), e a partir de uma metodologia que prevê os modos de pesquisa em Literatura Comparada, esta proposta busca investigar o que as entradas de “Uma data em cada mão – Livro de horas I”, de Maria Gabriela Llansol podem sublinhar sobre a representação literária da escrita de si nessa obra.

 

6-A FEROCIDADE QUE HABITA O HOMEM: A AUTENTICIDADE RELACIONADA COM A MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA

Esther Zanelli Miranda

Em seu ensaio Genealogia da ferocidade (2017), Silviano Santiago traz à discussão a questão da ferocidade em âmbito literário (principalmente a partir da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa) como um espelho para a ferocidade humana. A ferocidade encontrada nos livros (e nas obras artísticas) seria demonstração de autenticidade, construto que quando observado nessas obras provoca diversas reações (muitas vezes negativas), pois se relaciona a questões como coragem e ousadia de se mostrar em um ambiente ou situação (ou meio artístico) diverso do apresentado na obra. Ferocidade e autenticidade podem ser encontradas nessas obras porque em primeiro lugar podem ser encontradas na realidade humana, e são consideradas selvagens porque se contrastam com o que é domesticado ou esperado. Domesticação e ferocidade são dois aspectos trabalhados por Santiago em vários âmbitos, e sugerem que o desenvolvimento do homem está muitas vezes no contraste entre essas facetas. A partir dessas considerações este artigo aborda a ferocidade e a autenticidade desde a perspectiva socioemocional, a partir dos trabalhos de Abed (2016), Sanchez e Ledesma (2007) e Wood et al. (2008), na qual o olhar para o conhecimento de si permite reconhecer estes movimentos (de ferocidade e autenticidade) dentro do homem. Perguntamo-nos se podem ser associadas aos “cinco grandes fatores” da personalidade (conhecidos também como Big five).

 

7-GUY DE MAUPASSANT: O SILÊNCIO FANTÁSTICO 

Fabiane Alves Martins

A literatura fantástica, em seu cerne, significa a falta. Ela vive da ausência, do não dito, da dúvida. Porém, as lacunas deixadas pelo gênero não constituem um conjunto de elementos aleatórios, mas, por outro lado, interligados entre si, em suas mais diferentes formas. Este trabalho pretende, assim, discutir as diferentes formas nas quais o fantástico se apresenta no obra deixada por Guy de Maupassant, a partir de duas obras escolhidas para a análise, sendo estas O Horla e A pequena Roque. O escritor, situado na segunda metade do século XIX, revela com o não-dito uma marca da ruptura do sujeito com o mundo, em uma busca da verdade absoluta que nunca chega, uma vez que o gênero se cala diante da impossibilidade de uma só verdade. O silêncio fantástico é, pois, constituído de razão, na qual as frustrações de seu leitor contribuem significativamente para a construção do efeito de dúvida do gênero.

 

😯 PASSADO COMO EXPERIÊNCIA COMUM EM PATRÍCIO PRON, DIAMELA ELTIT E LUIZ RUFFATO           

Gabriel Fernandes de Miranda

No presente artigo busquei estabelecer alguns apontamentos de comparação entre três romances contemporâneos do Cone Sul que lidam com o passado ditatorial dessa porção da América Latina. Através de um suporte teórico advindo da filosofia contemporânea, com conceitos de comum, imunidade, e biopolítica, pretendo ler os romances como formas de figurar o passado como experiência compartilhada, distante tanto do paradigma público (de propriedade do Estado) quanto da propriedade privada ou familiar. Acredito que, por jogos ficcionais e narrativos, Patricio Pron em O Espírito dos Meus Pais Continua a Subir na Chuva e Luiz Ruffato em De Mim Já Nem Se Lembra exercitam uma espécie de revisão do passado, colocando em tensão a ligação familiar ao aparato repressivo do Estado e o alcance desse mesmo aparato para todos os indivíduos sob o regime. Por meio de uma aparição tangencial do passado que ambos constroem um processo de desestabilização da propriedade do passado para jogá-lo no campo indeterminado do comum e da política. Diamela Eltit opera uma ficcionalização distinta do passado em seu romance Jamais o Fogo Nunca, colocando em pauta temas da intimidade, da afetividade e da ética militante na figuração de um casal que é levado à extrema dissolução de seus corpos pela biopolítica repressiva da ditadura chilena. Pretendo pensar, portanto, em articulações possíveis entre essas obras contemporâneas e suas figurações do passado traumático dos regimes de exceção instaurados em Argentina, Brasil e Chile e suas contribuições para o entendimento da contemporaneidade latino-americana.

 

9-PARA UM ESTUDO DAS FARPAS DE EÇA DE QUEIRÓS SOB A PERSPECTIVA DA CRÍTICA TEXTUAL MODERNA

Gisele de Carvalho Lacerda

Pesquisa para a tese de Doutorado sobre As Farpas de Eça de Queirós contemplando a gênese, transmissão e recepção da obra nos séculos XIX e XXI. Resgate da primeira fase queirosiana, demonstração de seu estilo literário. `Para uma melhor compreensão da história de Portugal em diálogo com a atualidade nacional. Edição crítico genética das Farpas em diálogo com Uma Campanha Alegre. Resgate e estudo da Geração de 70, sua importância no contexto das Farpas. Estudo da construção da narrativa queirosiana partindo dos periódicos. Compreensão do contexto histórico das Farpas e seu cunho revolucionário para explicar o contexto político nacional. Contribuição para a distribuição e conhecimento do material das Farpas e de Uma Campanha Alegre no meio acadêmico, bem como sua importância para o estudo do legado de Eça de Queirós, além de seus romances conhecidos e contos.  Estudo dos textos que ajudaram a solidificar o estilo queirosiano, responsável por um novo modo de escrever o jornalismo em Portugal. Regresso do estudo e pesquisa de autores do século XIX.

 

10-UMA ANÁLISE DO ROMANCE DESAMPARO DE INÊS PEDROSA

Giselle Moraes Hache

Este artigo tem por objetivo construir uma análise do romance português contemporâneo Desamparo, da escritora Inês Pedrosa, publicado no Brasil em 2016 pela Editora Leya. A obra possui uma narrativa plural construída através de quatro vozes que se alternam ao longo dos trinta e cinco capítulos do romance. Pedrosa oferece ao público uma obra que traça um panorama da sociedade portuguesa entre os séculos XX e XXI e versa sobre múltiplos temas como o desamparo, a solidão, a culpa, a angústia, a velhice, o abandono familiar e a violência contra a mulher. Consideraremos alguns tópicos importantes de reflexão, como a alternância dos narradores, a descontinuidade temporal, o resgate da memória, os espaços que se cruzam (Brasil-Portugal) e a presença do campo como locus de representação da crise econômica que assolou Portugal entre os anos de 2010 e 2014. Também buscaremos analisar a dimensão psíquica do desamparo, assim como compreender como e porquê ele se apresenta nas diferentes vozes que compõem a narrativa. Nos interrogaremos: como essas figuras comportam-se frente ao desamparo e à sensação de incompletude que assolam a sociedade contemporânea? Como referencial teórico utilizaremos os estudos de Pierre Bourdieu, Simone de Beauvoir e outros.

 

11-ADÍLIA LOPES E ANGÉLICA FREITAS: POETISAS EM DIÁLOGO

Karine Ferreira Maciel

A partir do início dos anos 2000, a poetisa portuguesa Adília Lopes ocupa um lugar de destaque na cena poética contemporânea no Brasil, seja a partir da Antologia publicada em 2002 pela editora paulista Cosac & Naify e pela carioca 7Letras, seja pela atenção que recebe na edição da revista Inimigo Rumor n°10, de 2001, que lhe dedica nada menos que a publicação integral do livro O poeta de Pondichéry (1986), uma entrevista e dois ensaios críticos. Além disso, a autora e os seus textos aparecem em poemas de muitos poetas brasileiros contemporâneos: Marília Garcia, Alice Sant’Anna, Ana Martins Marques, Lucas Viriato, Carlito Azevedo, entre outros. Diante deste cenário receptivo da autora portuguesa no Brasil, este trabalho buscar estabelecer um diálogo entre a obra poética de Adília Lopes e a poesia da brasileira Angélica Freitas, que embora não cite ou faça menção à autora portuguesa, muito se assemelha a ela no desenvolvimento de determinadas temáticas e na dicção, elementos que explicitaremos no texto. Como aparato teórico, apoiamo-nos, sobretudo, nas teorias de estética da recepção de Hans Robert Jauss.

 

12-WORLD LITERATURE HOJE: POR UM DIÁLOGO TRANSNACIONAL ENTRE CULTURAS

Larissa Moreira Fidalgo

A questão que abordaremos trata-se, sobretudo, de um posicionamento sobre o que significa fazer um estudo comparado num cenário marcado pela reemergência da world literature. Uma vez que a perda do centro estável, para trazermos à baila o conceito derridiano, é uma condição inerente aos trabalhos da world literature, veremos que o debate não é bem sobre o que devemos fazer, mas sobre como podemos estabelecer uma visão verdadeiramente global e cosmopolita capaz de integrar diferentes perspectivas literárias e culturais. Acreditamos que a world literature deve corresponder a um ethos de acolhida da alteridade, uma negociação entre o familiar e o estrangeiro, no sentido em que Jacques Derrida (2003) usa a ideia de hospitalidade para falar sobre o reconhecimento do Outro dentro de uma relação interativa e transversal constituída por diferentes possibilidades de trocas.

 

13-SINTOMAS DE UMA CRISE: O CORPO COMO UM LUGAR DISTÓPICO EM O CÉU DOS SUICIDAS

Luisa de Almeida Lírio Pinto

Tratarei do romance O céu dos suicidas, de Ricardo Lísias, evidenciando os corpos com depressão, ou manifestações depressivas, como o lugar distópico. Lísias é um autor paulistano com muitas narrativas ficcionais publicadas e, a partir da morte do seu amigo suas obras mudam. O autor começa a jogar com os limites do real e do ficcional, e adquire um tom confessional, mostrando os bastidores da própria escrita, como é o caso da obra escolhida. Meu objetivo é pensar a questão da felicidade a partir de O mal-estar na civilização de Freud e  a dificuldade de pertencimento a partir de Sloterdijk, No mesmo barco. E também proponho evidenciar a problemática da doença mental e a reação da sociedade diante dela, com dois livros da Maria Rita Kehl: Tortura e sintoma social e O tempo e o Cão: A atualidade das depressões. Assim acredito ser possível pensar o próprio corpo como lugar distópico.

 

14-O RISCO DA PASSAGEM: A MÍSTICA FEMININA EM GEOGRAFIA DE REBELDES, DE MARIA GABRIELA LLANSOL

Luísa Nunes Galvão Caron de Oliveira

Este estudo pretende esboçar algumas aproximações entre a trilogia Geografia de Rebeldes, de Maria Gabriela Llansol, e a escrita de mulheres místicas e beguinas que, no decorrer dos séculos XII ao XIV, ousaram professar a fé cristã a sua maneira. Entre elas destacam-se Hadewijch e Margarida Porete, duas importantes escritoras místicas que aparecem como “figuras” nos dois últimos livros da trilogia. A expressão “o risco da passagem”, utilizada por Llansol em uma reflexão acerca de sua escrita, será desdobrada nesse texto em três acepções distintas, mas igualmente transgressoras, que dizem respeito tanto à escrita das mulheres do medievo quanto à escrita contemporânea de Llansol: a textualidade, a mística e o erotismo. Três paragens que, afinal, fazem parte de uma mesma travessia. Como referencial teórico, recorremos aos textos de Maurice Blanchot, Georges Bataille e Octavio Paz. Além da crítica específica sobre a obra de Maria Gabriela Llansol, com os nomes de João Barrento, Maria Lucia Wiltshire de Oliveira e Silvina Rodrigues Lopes.

 

15-REDESCOBRINDO VEREDAS: UMA ABORDAGEM CRÍTICA DA CATEGORIA DO SUPER-REGIONALISMO DE ANTONIO CANDIDO

Marina Maria Campos Brito

Anita Martins Rodrigues de Moraes

O ensaio “Literatura e subdesenvolvimento” (1970), de Antonio Candido, apresenta uma nova categoria de regionalismo, que, segundo o autor, corresponderia “à consciência dilacerada do subdesenvolvimento” (CANDIDO, 1989, p.162) e cujo maior expoente seria a obra de Guimarães Rosa. Com vistas a repensar essa categoria, que parece sugerir uma hierarquização entre o dado regional e a invenção ao propor que a obra de Rosa resultaria no ultrapassamento do documental, propomos o estudo detido dos argumentos de Candido. Para os propósitos deste trabalho, tomaremos como corpus literário Grande sertão veredas (1956), priorizando as leituras que Antonio Candido faz dessa obra, sobretudo em “O homem dos avessos” (1957) e “Jagunços mineiros de Claudio a Guimarães Rosa” (1970), considerando que esta crítica foi publicada no mesmo ano do ensaio em que Candido pensa as condições de produção da literatura na América Latina. Além disso, uma vez que “Literatura e subdesenvolvimento” é um ensaio mobilizado em torno de um cenário considerado por Candido como atrasado – situa-se em um momento de efervescência das discussões das implicações do subdesenvolvimento – pretendemos investigar também a aposta de Candido em uma função da literatura dentro desse contexto, pensando como Grande sertão veredas lida com o processo de modernização por que passava o Brasil na década de 1950. A partir dessas investigações, pretendemos revisitar a categoria de super-regionalismo sugerida por Candido, que acreditamos, conforme sugere Silviano Santiago (2017) acerca de parte da crítica que se debruça sobre essa obra de Rosa, “domesticar” o monstro rosiano.

 

16-“COMEÇO A VER O QUE NÃO É VISÍVEL”: PAISAGEM E SUBJETIVIDADE NA POÉTICA DE JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE

Nathália Primo

O presente trabalho pretende apresentar o projeto de pesquisa de mestrado que vem sendo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura desde o primeiro semestre de 2019. Elabora-se em torno da análise de parte da obra poética de João Miguel Fernandes Jorge, poeta português contemporâneo que passa a publicar a partir da década de 1970 e que ainda se encontra em intensa atividade de publicação. Por esse motivo, foi estabelecido um recorte temporal que compreende algumas obras publicadas nas décadas de 1970 e1980. Amparado pela abordagem teórica de Michel Collot, pensador da paisagem na literatura moderno-contemporânea, tem-se por objetivo identificar configurações de paisagens que se constituem nos poemas a partir das experiências cotidianas do sujeito poético. Busca-se, ainda, traçar reflexões sobre o discurso lírico considerando a noção de paisagem na construção de um olhar sobre o mundo, tornando-se possível admitir que “a paisagem provoca o pensar” e “o pensamento se desdobra como paisagem”, como postula Collot na obra Poética e filosofia da paisagem (2013). Também serão consideradas as relações de intertextualidade entre literatura e outros campos da arte devido à intensa referencialidade aos mais diversos objetos artísticos nos poemas. Para tanto, torna-se importante recuperar a relevante contribuição de Georges Didi-Huberman sobre a visualidade no âmbito da arte e da estética inicialmente com a obra O que vemos, o que nos olha (2010).

 

17-CITAÇÃO, ALEGRIA DO TRABALHO MANUAL

Paloma Roriz

“A citação repete, faz com que a leitura ressoe na escrita: é que na verdade leitura e escrita são a mesma coisa, a prática do texto que é prática do papel. A citação é a forma original de todas as práticas do papel, o recortar-colar, e é um jogo de criança”. A afirmação de Antoine Compagnon, em seu livro O trabalho da citação, talvez seja um bom ponto de partida para a tentativa deste texto: ler teoricamente a inscrição controvertida da obra poética do escritor Manuel António Pina na cena portuguesa a partir de uma articulação crítica em torno da noção de infância como topos literário e dispositivo problematizador de escrita. Na relação contraditória desta produção com a de outras surgidas na década de 1970, em Portugal, acionadas, em grande parte, por linhas de renovação na poesia portuguesa, a voz de Manuel António Pina surge como dicção não afeita a “programas” poéticos, mas forjada na busca de estratégias próprias de diálogo e embate com a tradição moderna e as demandas do presente, estratégias inclusive pouco compreendidas por parte da crítica à época de seu aparecimento.

 

18-A PARÓDIA, A METAFICÇÃO E O POLICIAL EM LUÍS FERNANDO VERISSIMO E JÔ SOARES

Paula Fernanda dos Santos

Este artigo apresenta uma relação entre os romances O jardim do diabo, de Luís Fernando Verissimo, e O xangô de Baker Street, de Jô Soares, apontando suas características que englobam o viés paródico e cômico de ambas as obras, com a finalidade tanto de discorrer sobre os elementos de aspectos intertextuais e metaficcionais, quanto de analisar os pontos que abrangem o gênero policial.

 

19-CRÍTICA E CONHECIMENTO EM JOSÉ CARDOSO PIRES

Paulo Alex Souza

Fruto de nossa pesquisa de doutorado em torno de uma teoria literária do conhecimento, e inserido na tradição que analisa o discurso literário em relação com a realidade social, este trabalho investiga a construção de conhecimento sobre esta mesma realidade a partir da literatura. Pretendemos desenvolver uma teorização que aponte meios concretos pelos quais o discurso literário toma a realidade social como objeto de discussão e foca nas tensões, nas contradições, e, principalmente, nas relações sociais conflituosas que perpassam a sociedade de classes, sob o modo capitalista de produção da vida social. Neste movimento, ele produz conhecimento sobre esta sociedade. Essa produção de conhecimento se dá por meio do que chamamos de vetores literários de conhecimento, e o conjunto desses vetores teriam o potencial de formar uma teoria literária de conhecimento. Neste trabalho, apontamos dois desses vetores presentes nos romances O hóspede de Job e O Delfim, do escritor português José Cardoso Pires.

 

20-NARRATIVAS DO PASSADO: PAUL RICOEUR E A CONDIÇÃO HISTÓRICA

Rogério Reis Carvalho Mattos

O artigo busca investigar, a partir do que Paul Ricoeur chama de passeidade (passeité) do passado, a literatura de testemunho. O tempo passado, por não existir mais, é representado pelo historiador, sem nunca poder relatar o que de fato aconteceu. Sempre há uma ausência relativa ao passado que não existe mais e o que é, por um acréscimo de ser ou ficcionalização do relato, retratado pelo historiador. As categorias de documento, arquivo e testemunha, ao se interrogar o texto historiográfico, serão novamente colocadas à prova devido ao modo quase literário da escrita sobre o passado. O testemunho, como alguém que viu o que de fato aconteceu, apesar de não compor uma narrativa literária, é igualmente alguém capaz de ficcionalização do passado. A visão subjetiva pertence tanto àqueles que acessam o passado por meios indiretos (o historiador por meio dos documentos e testemunhos), quanto por aqueles que viram o que ocorreu, ou seja, tiveram um acesso direto ao fato relatado (as testemunhas). O artigo buscará investigar qual o caráter específico do relato testemunhal em comparação com a narrativa historiadora e a ficção literária.

 

21-O REALISMO CONTEMPORÂNEO: A TENTATIVA DE RETRATAR A REAL SOCIEDADE BRASILEIRA NA FICÇÃO EM PROSA O MATADOR, DE PATRÍCIA MELO

Tahiná da Silva Santos Moreira

O presente projeto visa investigar se o real vivenciado no dia a dia da sociedade brasileira das últimas décadas é retratado na produção literária em prosa O Matador, da autora Patrícia Melo, e a partir dessa constatação, compreender de que forma a Literatura Contemporânea, ao se apropriar do real, abre caminhos para que seus leitores concebam o ser humano dessa época. Para tal será preciso dissertar também sobre conceitos de real, de realismo e de mimesis. Muitos pesquisadores atualmente se debruçam sobre pesquisas que visam averiguar a presença do real nas obras de autores do fim do século XX e início do século XXI. É de suma relevância a discussão sobre a estética adotada pelos autores mais atuais, pois acredita-se que a literatura é uma arte que contribui para a edificação de uma identidade social. JAGUARIBE (2007, p.15) afirma que há duas maneiras de conceber o realismo: como uma conexão vital entre realidade e experiência da realidade e como uma convenção estilística que mascara seus próprios processos de ficcionalização. Assim, podemos conceber que as obras mais atuais buscam registrar as experiências vividas pelas pessoas reais, mas ao mesmo tempo existe nessa representação muito do campo imaginário, da ficção. Já SCHOLLHAMMER (2009, p.54), diz que nas últimas décadas o conceito de realismo vem sendo ampliado quando se leva em conta a estética. Assim, espera-se que ao fim da pesquisa em andamento, ratifique-se a tentativa de representação da sociedade brasileira na ficção a partir da estética escolhida pela autora para tal.

 

22-LOUCURA E AIDS: QUESTÕES BIOPOLÍTICAS NA OBRA DE CAIO FERNANDO ABREU

Tamara Medeiros de Andrade

Caio Fernando Abreu foi um autor cuja produção literária se desenvolve imersa às questões do movimento contracultural dos anos de 1960 e 70. A oposição à normatividade das instituições sociais, a luta contra a repressão do indivíduo, a defesa da liberdade sexual e a busca por formas de conhecimento para além da racionalidade científica seriam algumas dessas questões. Um tema recorrente na literatura de Caio foi o da loucura, tendo a prática médico-psiquiátrica como exercício de poder e de opressão. Se, por um lado, o autor se debruçou sobre a doença mental, por outro lado, já nos anos 80 e 90, ele passou a abordar uma nova doença, a recém-descoberta AIDS. O presente trabalho apresenta parte do desenvolvimento de uma pesquisa de mestrado em andamento, na qual se analisa o tema da doença na obra de Caio Fernando Abreu. Para tanto, parte-se dos conceitos de biopolítica (FOUCAULT) e de paradigma imunitário (ESPOSITO), para pensar as relações de poder envolvidas na identificação e segregação dos doentes na sociedade. A hipótese a ser verificada seria se, na obra do autor, a doença funcionaria como uma metáfora do paradigma imunitário, ou seja, da ideia de que a sociedade tenta identificar, combater e proteger-se de elementos que ameaçariam a sua existência. Além disso, a atitude contracultural de Caio Fernando Abreu será repensada como uma tentativa de ruptura desse paradigma, por meio da afirmação da vida frente às verdades institucionalmente construídas sobre as doenças e os doentes.

 

23-O POEMA COMO CIRCUNSTÂNCIA: APONTAMENTOS SOBRE A POESIA DE MANUEL DE FREITAS E CARLITO AZEVEDO

Tamy de Macedo Pimenta

Após a publicação dos Versos de Circunstância de Carlos Drummond de Andrade em 2011 pela editora 7Letras, a discussão em torno da relação entre poesia e circunstância tem ganhado espaço dentro dos estudos literários contemporâneos, no sentido não só de resgatar o valor circunstancial de obras poéticas de autores consagrados, como o próprio Drummond, mas também de ressaltar a presença dessa característica na poesia contemporânea. Nesse sentido, a própria categoria “versos de circunstância” – que, embora não possa ser considerada um gênero a parte, foi motivo de estudo específico de nomes como Paul Eluard, Predrag Matvejevitch e Jean-Michel Maulpoix – foi revalorizada e afastada do sentido pejorativo que costumava possuir nos séculos passados, quando era relacionada à poesia de encomenda ou a um tipo de poesia com objetivos puramente ideológicos. Ainda que carregue duplamente os aspectos íntimo/subjetivo e coletivo/engajado, a noção de “versos de circunstância” não pode ser detalhadamente definida, cabendo a esta somente algumas características amplas, tal como o fato desta cantar “frequentemente um acontecimento que se impõe a um dado momento por sua atualidade” (MATVEJEVITCH, 1971, p. 87) e manter com esse acontecimento certo grau – maior ou menor, a depender do poema – de dependência. Nesse sentido, procuraremos brevemente demonstrar, em nossa comunicação, como as poéticas do português Manuel de Freitas e do carioca Carlito Azevedo simultaneamente se aproximam e se afastam, em diferentes aspectos, da ideia de “versos de circunstância” conforme estabelecida pelos estudiosos citados.

 

24-O INTELECTUAL E A LUTA POLÍTICA NO PERÍODO DITATORIAL

Thaís Sant’Anna Marcondes

Este trabalho tem por objetivo estudar o perfil intelectual dos personagens nos livros “K. Relato de uma busca”, de Bernardo Kucinski e “O que é isso, companheiro?”, de Fernando Gabeira, refletindo sobre seus posicionamentos críticos e suas atuações políticas na transformação da sociedade durante o período ditatorial no Brasil. Através de personagens associados à militância, os dois escritores desenvolvem em seus romances a imagem do intelectual ora fracassado e alienado, ora resistente. Em nossa pesquisa, analisaremos as problematizações feitas pelos narradores sobre a eficácia – por vezes questionável – da postura intelectual perante um regime anti-democrático. Analisaremos também as formas com que os autores fazem de seus livros espaço da memória sobre a ditadura, por meio da ficcionalização dos fatos, em dois momentos diferentes da produção literária brasileira: no período em que os exilados regressaram ao país; e, no presente, momento em que os herdeiros da dor, os que vieram depois, sentem ainda latente a necessidade de falar sobre o tema. Para isso, discutiremos as definições propostas para o termo “intelectual” pelos críticos Jean-Paul Sartre, Edward Said e Lucia Helena. E por fim, pensaremos os estudos sobre o papel da literatura como voz do passado ditatorial ainda vivo feitos por Eurídice Figueiredo, Regina Dalcastagnè e Tânia Pellegrini.

 

25-COMPASSO, TERRA, TEORIA DO POEMA: ESTRATIGRAFIAS LATINOAMERICANAS

Vinícius Ximenes

Traçando uma interseção nos discursos da geologia, da arqueologia e da história (subterrânea) do continente latinoamericano, tentamos apresentar os primeiros passos de um arranjo para aproximar quatro livros recentes, compostos de poemas longos ou seriados (Marília Garcia, parque das ruínas, 2018; Catarina Lins, O Teatro do mundo, 2017; Ana Estaregui; Coração de boi, 2016 e Pádua Fernandes, Cálcio, 2015). Considerando uma tendência teórica de alargamento formal do poema, que sugere uma reflexão performativa da medida e do timing, buscamos ver como estes livros atravessam ruínas contemporâneas, arquiescritas pré-colombianas, arquivos das ditaduras militares e traumas da economia extrativista, ensaiando procedimentos de aproximação da linguagem ao solo. Pensamos, então, algumas implicações de seus gestos enunciativos de sutura e reciclagem, que apontam para impasses territoriais de um ciclo de desenvolvimento desgastado. 

 

26-O FLÂNEUR DA BELLE ÉPOQUE E O RIO DE JANEIRO: LIMA BARRETO E AS TURBULÊNCIAS DA MODERNIDADE

Carolina Lauriano Soares da Costa

Esta pesquisa pretende investigar de que modo a visão da realidade social projeta-se nas subjetividades do escritor Lima Barreto, considerando o contexto de transformação social, política e cultural da Belle Époque. A leitura da obra e dos escritos íntimos de Lima Barreto conduz o leitor aos cenários da Belle Époque, às lutas políticas e populares testemunhadas pelo escritor e o modo como ele se sentiu ao viver na pele as tiranias cometidas pelo Estado, em nome de uma modernização da sociedade. Diante dessas turbulências da modernidade e modernização do Rio de Janeiro, observam-se semelhanças entre a postura intelectual de Lima Barreto e o flâneur de Walter Benjamin e de Baudelaire. Para este estudo, a pesquisa investigou o contexto histórico da Belle Époque do Rio de Janeiro, nos primeiros anos do século XX, as revoltas que estouraram na capital em decorrência das transformações sociais advindas da modernidade e de que modo essas turbulências estão relacionadas à postura flâneur e melancólica do escritor.

 

27-REFLEXÕES PREAMBULARES SOBRE A TRADUÇÃO DE FICÇÃO CIENTÍFICA ESTADUNIDENSE PARA O PORTUGUÊS BRASILEIRO

Eduardo Andrade Barbosa de Castro

O presente trabalho tem como objetivo fazer um levantamento inicial de aspectos concernentes à tradução de ficção científica (FC) em inglês para o português brasileiro. O gênero de FC apresenta características linguísticas próprias que requerem atenção especial do profissional de tradução, pois, por se tratar de um gênero que retrata o futuro e seus avanços sociais e/ou tecnológicos, é comum que autores e autoras de FC façam uso não apenas de vocabulário técnico especializado, mas também de neologismos. A tradução, por sua vez, poderá implicar a pesquisa sobre conhecimentos científicos de ponta que figurem na narrativa. Devido à desigualdade econômica e tecnológica entre os países, esse trabalho de pesquisa lexical inerente à tradução pode ser dificultado ou até impossibilitado, dependendo do contexto nacional. O acesso à informação, portanto, é uma necessidade fundamental na tradução de FC e um fator determinante para a qualidade do texto de chegada. Além disso, é necessário considerar os fatores editoriais e mercadológicos que influenciam a escolha da estratégia global de tradução. Utilizando como estudo de caso duas traduções publicadas no Brasil do conto “Robot Dreams”, do autor russo-americano Isaac Asimov, abordaremos alguns dos desafios da tradução de FC.

 

28-AS REPRESENTAÇÕES DAS NUANCES EMOCIONAIS DAS PERSONAGENS E DO IMAGINÁRIO RURAL E URBANO NO CONTO “A SOLUÇÃO” DE LUIZ RUFFATO

Isabelly Cristina Gonçalves Costa

Os objetos e ambientes são partes constituintes de qualquer obra literária. Analisar esses elementos traz maior compreensão acerca da construção de seus personagens e suas respectivas histórias. O presente artigo tem por objetivo analisar os ambientes retratados, bem como os objetos do conto “A Solução”, pertencente à obra O Mundo Inimigo, da coleção Inferno Provisório, do romancista Luiz Ruffato. Pretende-se salientar os aspectos representativos que permeiam a história da personagem principal, Hélia, corroborando os aspectos não apenas sociais na qual ela encontra-se inserida, como também sua camada interior, salientando, assim, como os objetos e ambientes podem revelar as nuances emocionais das personagens. Outro elemento a ser analisado no presente estudo é o Rio Pomba, no qual há uma tentativa de suicídio, e as águas, que constantemente são associadas à ideia de vida, têm significado distinto para a personagem no conto em questão. A ênfase que o autor confere à classe operária no período de industrialização de Cataguases, cidade já decadente que se vê inserida em uma modernização desarranjada que obriga as famílias a adaptarem-se para sobreviver observando o contraponto entre o imaginário Rural e Urbano representado nos sonhos e frustrações da personagem principal é outro aspecto a ser estudado.

 

29-OS REIS EM SILÊNCIO EM ÉDIPO REI

Luiz Jorge Soares Guimarães

O presente artigo integra parcialmente uma tese de doutorado voltada ao estudo do medo tanto do sagrado quanto do profano. A análise ora feita da dramaturgia Édipo Rei (2017) volta-se às questões referentes ao silêncio e à tagarelice na obra, enquanto presenças e ausências discursivas que por um lado dialogam entre si, mas, por outro, se excluem, dando margem à equívocos comunicativos. O que se faz, e se pretende fazer, é nada menos do que um estudo acerca das relações comunicativas entre o mundo profano, o do rei Édipo, e o do mundo dos deuses, de Lóxias Apolo e de Zeus, para que se possa compreender como, de modo incipiente, o afeto de medo apresentasse no drama do incestuoso regicida, por meio da linguagem que, ora possibilita, de fato, a comunicação entre os seres, ora ativa os dispositivos trágicos de origem divina. Sendo assim, tal empresa vale-se de uma perspectiva psicanalítica e filosófica, pois a abordagem deve dirigir-se tanto para o entendimento do ser e da relação do afeto de medo com o eu quanto do ser para com os deuses, na tentativa de por meio da interface sagrado/profano capturar os diversos matizes do temor.

 

30-DOS FOLHETINS AO WATTPAD: UM ESTUDO DA LITERATURA DE MASSA NO BRASIL 

Natália Barbosa Gomes Vago

Do Romantismo à atualidade, os ditos romances de massa estão presentes na literatura brasileira. Os dias de hoje, apresentam novos meios de publicação e suportes para leitura como e-readers e o Wattpad. A verdade é que nunca se leu tanto, ao mesmo tempo, a literatura de massa, denominada por muitos como literatura inferior, destinada a um tipo de leitor que procura literatura despretensiosa, tem grande importância sociológica e, ainda, serve como objeto de estudo e análise para mostrar o porquê de ser tão amplamente consumida. A partir disso, pretende-se construir um panorama da literatura de massa no Brasil desde os folhetins até a atualidade, tendo como recorte central os folhetins, romances de banca, bestsellers e o Wattpad, refletindo sobre a maneira como o mercado pode influenciar na qualidade de uma obra literária e na formação do leitor.

 

31-A REPRESENTAÇÃO HOMOERÓTICA NA LITERATURA BRASILEIRA: UM VAZIO DISCURSIVO DO SÉCULO XIX AO FIM DO XX

Sandro Aragão Rocha

O objetivo desse artigo é traçar um panorama de como houve um vazio discursivo quanto a representação homoerótica na literatura brasileira, desde o século XIX, com o surgimento da tratada primeira literatura homoerótica no Brasil (Bom-crioulo, de Adolfo Caminha), até o fim do século XX, com o surgimento de escritores no cenário literário brasileiro que quebraram a barreira desse vazio/silêncio discursivo. Para tal, retomaremos de forma breve como o amor entre iguais foi tratado no Brasil socialmente, tendo em vista que o olhar de coerção construído pelos europeus, pela igreja e pela ciência quanto a essa forma de amar, influenciou no modo como a literatura passou a abordar essa temática; para então, a partir de reflexões teóricas, remontarmos o modo como a crítica literária/cânone literário silenciou e rasurou escritores e obras que tivessem como interesse abordar as relações homoeróticas de forma não estereotipada, dando protagonismo e aprofundamento para personagens homossexuais.

 

32-UMA CRIANÇA NA PALESTINA: NAJI AL-ALI E A DENÚNCIA VERTIDA EM PENA E NANQUIM

Vanessa da Costa Lamas

O acirramento da disputa territorial entre dois ou mais povos constitui uma das questões mais inquietantes de todos os períodos históricos constituídos. Todavia, quando atentamos para o antagonismo árabe-israelense, percebemos que os conflitos entre os dois referidos grupos sociais ultrapassam a cizânia fronteiça. Para além dos assuntos de foro religioso, o interesse de nações hegemônicas como os Estados Unidos da América nas riquezas existentes – cujo exemplo mater encontra-se no petróleo –  além da corrupção local e a negligência com o estabelecimento de uma porção territorial para os palestinos ali consolidarem sua determinação enquanto Estado levam a um quadro de tensão que perdura há décadas a fio com alguns hiatos. A necessidade, então, de se denunciar tal panorama transpõe os veículos midiáticos e encontra nos quadrinhos – mais precisamente no traço forte e preciso do cartum – um profícuo instrumento de imputação cujo alcance acaba por ser mais fluido justamente por apostar mais na questão imagética do que essencialmente textual. Naji al-Ali, cartunista nascido na Palestina e um dos nomes mais significativos no Universo dos quadrinhos de origem árabe, lança um verdadeiro “Manifesto Silencioso” por meio do icônico personagem Handala, símbolo da resistência de todo um povo frente à tirania da influência e dos interesses escusos, que viria a ser o protagonista da obra Uma criança na Palestina cuja análise nos propomos a fazer neste artigo.

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