PPG-UFF – Literatura em Movimento: Pesquisa e Investigação 1 – ePub

“Esta obra apresenta uma vasta riqueza de pontos de vista, graças à pluralidade de pesquisas e inquietações, que compartilhadas geram o congresso de perguntas, obras, geografias, subjetividades… Ousaria ainda dizer que, à maneira do que propõe um dos autores desta publicação, estão aqui configuradas formas de “testar os limites do representável e do humano”.”

Boa leitura!

Claudete Daflon

Professora do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense

Baixe o eBook agora, inteiramente GRÁTIS.

Descrição

Para dialogar conosco:

“PANGEIA EDITORIAL” <pangeiaeditorial@gmail.com>.
Em alternativa, se preferir, nos contacte por Whats: +55 19 9 9907 7555.

Para conheçer outros lançamentos da Pangeia,
CLIQUE AQUI !!!

Para publicar na Pangeia – selos Dionysius, Pangeia ou Saruê,
escreva para <meu.livro.na@editorapangeia.com.br>

 

Esta obra é composta por trinta capítulos que reúnem trabalhos com abordagens e linhas teóricas afins.


 

1-ETHOS DE RESISTÊNCIA: ENTRE CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE EM SE O PASSADO NÃO TIVESSE ASAS, DE PEPETELA

Adriano Guedes Carneiro

O presente artigo tem por foco o romance Se o passado não tivesse asas, de Pepetela, que narra a estória de uma mulher em dois momentos diferentes de sua vida: Himba/Sofia. Também, em dois momentos da História de Angola (1995 e 2012). Himba é uma criança, sobrevivente da explosão do veículo em que sua família era transportada, desde sua aldeia natal. Chega a Luanda sozinha e se junta a vários meninos órfãos que sobrevivem, na praia, dos restos de comida de um restaurante local. É um dos anos de guerra civil. Impera a barbárie: a luta pela sobrevivência. Sofia, já adulta, trabalha em um restaurante, do qual, mais tarde, se torna a única proprietária. É tempo de paz. Impera a civilização? A luta pela sobrevivência continua, só que em outro patamar. Civilização e barbárie estão em permanente conflito na obra. Há barbárie somente na guerra ou na paz podemos ter condutas bárbaras? É possível estabelecer regras de civilização num ambiente hostil? No texto, como o autor se propõe a responder a estas questões? Quais são as estratégias empregadas por ele para estabelecer uma atitude de resistência, pela manutenção de valores humanos e sociais, em face da dicotomia, civilização e barbárie, no referido romance? Para tanto, utilizar-se-á como referencial teórico as contribuições de Edward W. Said, Anthony Appiah, Homi K. Bhabha, Stuart Hall, Benjamin Abdala Jr., Patrícia Isabel Martins Ferreira, Renata Flávia da Silva e Phillip Rothwell.

 

2-A (DES)CONSTRUÇÃO DO FEMININO EM A FALÊNCIA, DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA

Aline Castilho Alves Campos

A pesquisa em desenvolvimento tem como objetivo analisar a construção das personagens da obra A falência (1901), da escritora Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), seguindo a hipótese de que a autora cria as personagens tendo como base os discursos médico e científico vigentes à época. Neste trabalho, apresento como introdução um breve perfil da autora Júlia Lopes de Almeida e busco discutir como as personagens Camila e Francisco Teodoro são construídas a partir das teorias de diferenciação de gêneros que foram engendradas pelo discurso científico em vigor nos séculos XIX e XX. Pretendo também discutir como no desfecho de A falência há uma tentativa de desconstrução deste sistema de gênero, que tem como ensejo a morte de Francisco Teodoro e o término do relacionamento entre Camila e Dr. Gervásio. O trabalho em questão refere-se à dissertação de mestrado ainda em processo de desenvolvimento, em fase anterior ao exame de qualificação.

 

3- PERTENCIMENTO, FRONTEIRA E A CONDIÇÃO DOS “SEM-ESTADO”: CONSIDERAÇÕES SOBRE QUEM CANTA O ESTADO-NAÇÃO?, DE JUDITH BUTLER E GAYATRI SPIVAK

Aline Rocha de Oliveira

“Por que estamos abordando literatura comparada e estados globais juntos? O que os estudiosos de literatura estão fazendo com os estados globais? Somos, obviamente, pegos pelas palavras”. É com essas indagações que Judith Butler inicia Quem canta o Estado-nação?, livro no qual a pensadora desenvolve um diálogo junto à Gayatri Spivak. Trata-se de uma reflexão sobre a condição dos “sem-estado” no mundo contemporâneo exposta em 2006 na Universidade da Califórnia. No decorrer do diálogo, as teóricas repensam, convocando outros pensadores como Hannah Arendt e Giorgio Agamben, episódios e categorias políticas que tensionam a narrativa nacionalista. O título do livro retoma as manifestações de rua ocorridas em Los Angeles, no ano de 2006, por parte dos residentes ilegais. Nessa ocasião, o hino dos Estados Unidos foi cantado em espanhol, ao que o então presidente George W. Bush respondeu afirmando que o hino nacional poderia ser cantado apenas em inglês. A performance dessa reivindicação por parte dos residentes introduziu problemas relativos à noção de pertencimento e à composição de um nós, bem como questões pertinentes às transformações culturais oriundas da globalização e à consequente ressignificação de categorias simbólicas, como o hino nacional. Tendo em vista tal problemática, o objetivo deste trabalho será esmiuçar as noções de “pertencimento”, “fronteira” e “sem-estado” desenvolvidas por Butler e Spivak.

 

4-COSMOPOLITISMO E ORALIDADE EM ESTIVE EM LISBOA E LEMBREI DE VOCÊ, DE LUIZ RUFFATO

Allysson Casais

Ao argumentar que a palavra “cosmopolitismo” serve para rotular a viagem daqueles pertencentes às classes mais privilegiadas, Silviano Santiago (2016) cunha o termo cosmopolitismo do pobre para descrever a migração para o estrangeiro de pessoas que visam escapar da miséria de seus países natais. No campo literário, Luiz Ruffato aborda o tema ao publicar, em 2009, a novela Estive em Lisboa e lembrei de você. Na narrativa, o protagonista, Serginho, vive no interior de Minas Gerais e, após a morte de sua mãe e o fim seu casamento, decide migrar para Portugal em busca de melhores oportunidades socioeconômicas. Em nossa leitura da obra, percebemos que o uso da oralidade por Ruffato serve para plasmar a experiência de migração de sujeitos advindos de classes sociais mais baixas. A novela, dessa forma, ao ser narrada pelo migrante pobre, denuncia as origens de classe trabalhadora mineira do narrador-protagonista além de mostrar suas mudanças identitárias em seu novo país.

 

5- FIGURAÇÕES DO OUTRO EM O TRABALHO SUJO DOS OUTROS, DE ANA PAULA MAIA

Amanda Vieira dos Santos

Filhos bastardos de um Estado que reproduz uma violência aprendida durante o processo de formação, colonial, os sujeitos que aqui apontamos são os que escapam, transitam excedentemente do círculo social. São os que não só não pertencem, como tamém por esse círculo são indesejados e banidos diariamente. A novela O trabalho sujo dos outros de Ana Paula Maia traz em sua narrativa personagens que figuram esse estar no mundo enquanto um outro. Nela, Erasmo Wagner, Alandelon e Edivardes são trabalhadores que dedicam suas vidas realizar os trabalhos que sujeitos com o privilégio da escolha recusariam.

 

6 – ANTIGUIDADE EM LACUNAS: A NATUREZA EM IRACEMA E UBIRAJARA

Ana Maria Amorim Correia

O século XIX carrega descobertas e mudanças na forma de olhar para monumentos e ruínas. A arquitetura vai enfrentar dilemas entre restauração e conservação. Descobertas arqueológicas vão incentivar as pesquisas de forma a consolidar uma arqueologia científica. Entre 1750 e 1850, vivemos acontecimentos como a descoberta de Pompeia, na Itália, a escavação em território Asteca, no México, a redescoberta da Pedra de Roseta, durante expedição francesa liderada por Napoleão Bonaparte, posteriormente decifrada por Champollion. A não ser pelos fósseis, o Brasil encontra dificuldade de se encaixar nesse fascínio da Antiguidade. No espírito de unidade e de fundação nacionais, não rara será a busca de preencher tal lacuna, desde documentos oficiais com diretrizes para catalogação botânica, que incluía ressalvas para possíveis monumentos dos povos indígenas, até a oficialmente patrocinada expedição em busca da mitológica cidade perdida da Bahia. Esta comunicação procura esboçar como o imaginário de um passado grandioso, tão essencial para formar uma ideia nacional pujante, na dificuldade de se escorar em monumentos e ruínas, será deslocado, na narrativa de Iracema (1865) e Ubirajara (1874), de José de Alencar, para a natureza e as questões que envolvem as escolhas do autor.

 

7 – AS MARCAS DA CATÁSTROFE EM ANIMA DE WAJDI MOUAWAD.

André Luiz Vieira

O presente trabalho investiga a obra Anima do escritor, dramaturgo e diretor Wajdi Mouawad. Nascido no Líbano, refugiou-se, aos 8 anos, com sua família na França, fugindo de uma Guerra Civil que naquele momento assolava seu país natal. Por não conseguir renovar o visto, são obrigados a novamente imigrar, fixando-se dessa vez no Quebec, onde Mouawad encontra o teatro. Anima é um romance publicado em 2012, após intenso trabalho em uma tetralogia denominada Le sang des promesses que inclui as peças Littoral (1999), Incendies (2003), Forêts (2006) e Ciels (2009). Os personagens de Mouawad são, segundo Marie-Christine Gareau, marcados por uma separação (2010, p. 109) que se dá seja pelo exílio, pela catástrofe ou pela morte. Neste livro, o autor retoma temas que lhe foram caros em seus escritos anteriores: a violência, a guerra, o estupro, o assassinato. Marcados por fortes experiências traumáticas, os personagens fragmentados de Mouwad são lançados a uma busca por uma origem – identitária – cujo percurso corresponderia a descoberta de uma verdade sobre si e seu passado, em que a (re)memória é um dever. O texto aqui analisado conta a história de um homem que entra em casa, após um dia de trabalho, e encontra sua esposa selvagemente assassinada. Sua busca converte-se na investigação de quem ou o que é o assassino. A narrativa passa a testar os limites do representável e do humano. Apoiaremos nossa reflexão nos escritos de René Girard, Márcio Seligmann-Silva entre outros.

 

8 – HIBRIDISMO CULTURAL E INTERVENÇÃO INGLESA NA PATAGÔNIA ARGENTINA DO SÉCULO XIX: REVISIONISMO, RELEITURA E REESCRITA EM LA TIERRA DEL FUEGO.

Andreza Almeida Barbosa

O romance La tierra del fuego (1999) de Silvia Iparraguirre nos possibilita refletir sobre como se deu a tentativa de colonização e subjugação do povo yámana. Ao decorrer do enredo Iparraguirre apresenta uma reflexão crítica através da reescrita e rememoração dos fatos ocorridos na Patagônia argentina, colocando em evidência o ponto de vista do subalternizado sobre as formas de dominação ancoradas na colonização epistêmica e na degradação de todos os saberes que não estejam pautados no cânone da ciência eurocêntrica. Sylvia Iparraguirre levanta questionamentos sobre o registro histórico resultante da hegemonia textual imposta pelas classes dominantes e pelas elites letradas inglesas sobre um dos grupos originários da América do Sul. Sendo assim, nos debruçaremos a analisar como a ocupação inglesa no território austral argentino deu início a um processo de hibridização cultural que afetou tanto o discurso do colonizado quanto o do colonizador. Refletir-se-á também sobre as consequências dos deslocamentos territoriais aos quais alguns nativos desse grupo originário foram submetidos na travessia entre a Patagônia argentina e a cidade de Londres.

 

9 – LÍRICA, FERINA, NEGRA E FEMININA: POLÍTICA, ASSERTIVIDADE E RESISTÊNCIA NA POESIA DE JARID ARRAES

Ângela da Silva Gomes Poz

Considerando o andamento de nossa pesquisa acerca da voz das mulheres negras em literaturas de língua portuguesa, será enfocado, neste artigo, um livro de uma das autoras que compõem seu corpus: Um buraco com meu nome, de Jarid Arraes, publicado em 2018, pela Ferina, editora por ela projetada para publicar apenas mulheres, contemplando ao máximo sua diversidade. Inserida desde criança no mundo dos versos e da leitura na região do Cariri (CE), Jarid começa sua carreira na poesia de cordel, espaço de dominação masculina. Autora de mais de sessenta folhetos de cordel, ela lança o livro Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis, em 2017. Antes, em 2015, publicou o romance As lendas de Dandara, já revelando, nessas primeiras obras, seu comprometimento com a quebra do silenciamento e apagamento das mulheres negras na literatura e na História do Brasil. Representando a voz da resistência na contemporaneidade, Arraes, a partir do lugar de fala de mulher negra, “lutando com unhas e dentes” por ter seu nome no espaço de poder da escrita, adentra em outra modalidade poética, porém mantendo o teor político de seu trabalho, que aborda temas socialmente relevantes sob um olhar feminista interseccional e uma linguagem carregada de lirismo, mas também de potência e assertividade. Com base teórica feminina majoritariamente negra, propomos uma reflexão sobre a produção dessa autora e a leitura analítica de alguns poemas que compõem as duas primeiras partes do livro.

 

10 – AS ESCRITAS DE CAROLINA MARIA DE JESUS

Ayana Moreira Dias

O presente trabalho é resultado de uma investigação acerca das razões da desvalorização da produção narrativa ficcional da escritora brasileira Carolina Maria de Jesus. Em observância à insuficiente elaboração crítica sobre esta face da escrita da autora em contraste àquela vasta sobre a escrita diarística, contida no diário best-seller Quarto de Despejo (1960), bem como nos diários Casa de Alvenaria (1961) e Diário de Bitita (1986), este artigo buscou examinar, as razões do desprestígio da obra ficcional e a formulação de uma imagem estereotipada e superficial da autora, propiciada pela supervalorização do famoso diário. O percurso teórico metodológico foi elaborado a partir de estudos voltados às discussões acerca da produção discursiva dos indivíduos negros nas sociedades pós-coloniais e seus efeitos na descoberta de novas perspectivas de criação literária, com especial atenção à autoria negra feminina. Dentre os quais destacam-se: O local da cultura (1998), de Homi Bhabha; Literatura negro-brasileira (2010), de Luiz Silva Cuti; Literatura brasileira contemporânea, de Regina Dalcastagné (2012) e O que é lugar de fala? (2017) de Djamila Ribeiro.

 

11 – LEMBRAR PARA ESQUECER: A APARENTE CONTRADIÇÃO DE LUDO EM TEORIA GERAL DO ESQUECIMENTO, DE AGUALUSA.

Christiane Gonçalves dos Reis

Este trabalho tem como objetivo problematizar a escrita de Ludo, personagem de José Eduardo Agualusa, a qual esteve por vinte e oito anos em autoclausura, emparedada, durante a guerra civil angolana, período em que teria redigido dez cadernos em forma de diários, continuando o processo da escrita de si, mesmo após o seu resgate. Nesse diapasão, será analisada a questão da memória, sua expressão ou recalque, assim como a relação desta com o esquecimento. Será observado, ainda, o caráter metaficcional da obra diante do paratexto que dá início ao romance, armadilha técnica que chega a colocar em xeque a sua ficcionalidade no momento em que o mundo ficcional é desvendado e o romancista deixa transparecer, na ficção, o que acontece nos bastidores do processo narrativo. Para tanto, serão utilizadas as obras de Paul Ricoeur, Aleida Assmann, Maurice Halbwachs, Jeanne Marie Gabnebin e Linda Hutcheon, a fim de fundamentar metodologicamente o trabalho.

 

12 – REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NA POESIA DE ADÍLIA LOPES

Christine Soares de Oliveira Lopes da Cruz

Tatiana Pequeno da Silva

Este trabalho visa a apresentar uma pesquisa de mestrado que está sendo realizada na linha de “Literatura, história e cultura”, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Literatura Portuguesa da Universidade Federal Fluminense (UFF), cujo objetivo central é analisar, na obra poética de Adília Lopes, o lugar que a mulher ocupa na sociedade patriarcal sob a perspectiva poética e filosófica. A análise será fundamentada a partir das reflexões e conceitos da crítica literária norte-americana Elaine Showalter, expoente do feminismo que cunhou o termo ginocrítica para designar um conceito que valoriza as peculiaridades de expressão do gênero feminino na literatura. A poesia de Adília Lopes será analisada a partir das reflexões da filósofa francesa Simone de Beauvoir desenvolvidas em sua obra O segundo sexo, escrita em 1949, quando as mulheres não tinham espaço para usufruir de sua individualidade. Além desse referencial teórico, serão utilizadas as reflexões postuladas por Judith Butler em Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Portanto, essa pesquisa pretende mostrar como o feminino é representado na obra adiliana a partir de estereótipos e clichês que são utilizados em jogos de palavras contendo ironia de forma a provocar uma crítica sobre as construções de papéis para homens e mulheres na sociedade patriarcal.

 

13-PONCIÁ VICÊNCIO: CAMINHOS DESENHADOS NO SOLO, NA TERRA, NA ARGILA

Clarice de Mattos Goulart

O artigo tem o objetivo de proceder a uma análise do livro Ponciá Vicêncio, da autoria de Conceição Evaristo, escritora brasileira ainda atuante. Diante da obra cuja temática principal orbita em torno de temas como identidade, ancestralidade, memória e história da escravidão no Brasil – bem como em suas permanências como trabalho análogo à escravidão –, a análise tem como objetivo principal proceder a uma discussão sobre as relações que a protagonista do romance estabelece com o solo de Vila Vicêncio, relações estas enredadas pelas heranças da escravidão e por saberes ancestrais que orientam a produção de peças de cerâmica, processo de criação artística que a personagem desenvolve junto de sua mãe. Para este debate, são bem-vindas as contribuições oferecidas pelo pensamento decolonial latino-americano de Aníbal Quijano e Walter Mignolo, estabelecendo pontos de contato entre o debate sobre o fazer literário, o fazer artístico e a coexistência de formas distintas de conhecimento e saberes.

 

14-MEMÓRIA DA PALAVRA EM MAMA ÁFRICA

Edyanna de Oliveira Barreto

Este texto pretende retomar de maneira breve e sintetizada os livros da coleção Mama África. Tratam-se de histórias tradicionais orais que são recuperadas e escritas por autores angolanos e moçambicanos, com o objetivo de difundir as literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil, para o público infantil. Cada uma das cinco obras infantojuvenis resgata narrativas tradicionais africanas e nos mostra que a arte de contar histórias continua viva. Amadou Hampâté Bâ (2010) assegura que “quando falamos de tradição em relação à história africana, referimo-nos à tradição oral, e nenhuma tentativa de penetrar a história e o espírito dos povos africanos terá validade a menos que se apoie nessa herança de conhecimentos” (2010, p. 167). Para tanto, constituímos um corpus no intuito de verificar um traço que une todos os livros: a tradição oral. O objetivo deste trabalho é analisar de que forma a oralidade, a tradição popular, o simbolismo e sua respectiva reescritura para o público infantil estão presentes nas obras, contribuindo para a divulgação da cultura, história e literaturas africanas no Brasil.

 

15-A MATERIALIZAÇÃO DAS CULTURAS AFRICANAS NAS ESTRUTURAS TEXTUAIS A PARTIR DE “LA REBELIÓN DE LOS VUDÚS” EM CHANGÓ, EL GRAN PUTAS, DE MANUEL ZAPATA OLIVELLA

Esther Falcão de Jesus

A partir da leitura, análise e cotejo de bibliografia de base e teórica relativa ao estudo da narrativa no marco da produção cultural afrolatinoamericana, me proponho a analisar e repensar as categorias de narrador e ponto de vista narrativo, bem como a interação das mesmas como articuladoras principais da funcionalidade crítica de Changó, el gran putas. Obra na qual a utilização agramatical dos tempos verbais, a pluralidade de vozes narrativas, o ponto de vista múltiplo e o registro linguístico diglóssico conspiram contra a estabilidade da forma narrativa moderna mais valorizada, questionando os modelos europeus baseados na escrita como condição de produção de um relato legível e autônomo. A análise está centrada na terceira parte da obra, intitulada “La rebelión de los vodús”, que reelabora ficcionalmente os eventos históricos da emblemática Revolução Haitiana, refuncionalizados de acordo com a perspectiva mítica orientadora do relato que, em sua totalidade, acompanha a situação do homem negro desde o início da escravização dos povos africanos até seu desterro no continente americano e Caribe, proporcionando contatos culturais conflituosos entre diversos grupos, e a consequente busca da liberdade por parte dos colonizados até o século XX. Desta forma, posso concluir que, para construir um relato capaz de comunicar a heterogeneidade cultural latino-americana e caribenha, orientado por uma cosmovisão africana, Manuel Zapata Olivella operou uma refuncionalização radical das categorias conformadoras do romance enquanto forma narrativa moderna, dando ensejo a um discurso que expressa uma visão crítica da história afrolatinoamericana.

 

16-A POÉTICA DO FEMININO E DA VIOLÊNCIA NO ROMANCE O PESO DO PÁSSARO MORTO

Isadora Pessoa Fernandes

O presente trabalho pretende investigar no romance em prosa poética O Peso do Pássaro Morto, de Aline Bei, focando principalmente em suas lacunas e silêncios, os traços de violência e apagamento explícitos e implícitos na obra literária, partindo de leituras de Pierre Bourdieu. Para Bourdieu (2018), o habitus é o conjunto de valores e processos internalizados que estrutura e molda nossas ações e representações individuais e sociais. Assim, através de uma análise da progressão da vida da protagonista do romance e das violências que essa sofre, norteada por esse conceito/chave de leitura, busca-se verificar a construção gradual da personagem como um processo de formação decorrente de suas perdas e violências sofridas e internalizadas. Procurar-se-á demonstrar como os silêncios da protagonista – não nomeada – do romance materializam-se como uma cripta em que todos os seus traumas se cristalizam, aumentando assim o peso de sua existência. Pretende-se também evidenciar as tensões e as imagens relacionadas à violência e à misoginia nos papéis de gênero cumpridos pela protagonista e pelas outras mulheres com as quais ela convive: de suas primeiras relações familiares, sua amiga e, por fim, sua nora. Tais relações provam-se também permeadas por tensões necessariamente implicadas por uma construção da imagem do feminino norteada pela violência simbólica imposta pela dominação patriarcal, fazendo-se necessário pensar o peso que é nascer sob o signo do feminino em uma sociedade dominada por homens.

 

17-PERCORRENDO INTERSTÍCIOS: UMA PROBLEMATIZAÇÃO EPISTEMOLÓGICA NA FICÇÃO DETETIVESCA CHICANA DE LUCHA CORPI

Juliana Machado Meanda

O texto apresenta uma análise da ficção detetivesca escrita por Lucha Corpi, cuja protagonista é Gloria Damasco. Uma de suas características mais marcantes é um aspecto místico, uma espécie de clarividência ou consciência extrassensorial que surge a partir de seu envolvimento com as investigações. Esse lado de sua personalidade é chamado pela própria personagem de dom sombrio (dark gift), por não compreendê-lo muito bem e ter dificuldade em interpretá-lo. Assim, ela se afasta dos discursos da racionalidade binária em direção a uma possível terceira via, propondo caminhos alternativos de pensamento e ação e efetuando uma problematização no que diz respeito ao pensamento lógico-racional hegemônico. A discussão proposta aborda esse aspecto da protagonista como uma epistemologia alternativa, uma subversão do racionalismo dualista e uma forma outra de conhecimento, que combina as contradições da personagem entre suas diversas identificações, especialmente entre os valores anglos e aqueles que têm influência de aspectos mexicanos e indígenas.

 

18-ÁGUAS: ESPAÇOS DE AUSÊNCIA, MEDO E PODER SOB A ÓTICA DE RADA – PERSONAGEM NO LIVRO LAS ORILLAS DEL AIRE, DA ESCRITORA PERUANA KARINA PACHECO MEDRANO.

Léa Cristina Andrade

A questão problematizada nesse trabalho traduz não só o papel representado pelas águas – como lugar de ausência, medo e poder –, mas também a forma como esses espaços são descobertos pela personagem Rada na referida obra. Rada, protagonista nessa história, tem somente a presença das águas como testemunha do caminho percorrido: ao longo de todo o romance ela ata e desata os nós de sua vida através desses espaços fluidos – que não podem ser contidos, e sim brevemente suspensos (seja pela vida, pela morte, pela maternidade interrompida e até mesmo pela culpa do abandono em decorrência da violência patriarcal). Sendo assim, cabe ressaltar que todo o trabalho aqui explanado está desenvolvido sob uma perspectiva feminista. Para tal, todo o processo de pesquisa e formulação tem sua estrutura baseada nas obras Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade (de Judith Butler), e ainda em O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras (de Bell Hooks). A personagem Rada está em constante deslocamento; ela é a que vive em trânsito a buscar – ainda que de forma inconsciente – o resgate da sua própria origem. Objetivando trabalhar melhor esse aspecto, o livro Estrangeiros para nós mesmos (de Julia Kristeva) é aqui utilizado como referência. Cabe aqui salientar, enfim, que essas mesmas obras revelam-se de suma importância no que concerne ao desenvolvimento do tema aqui abordado, estando todas plenamente alinhadas com a trajetória tomada pela personagem Rada.

 

19-MODERNIDADE E SUBALTERNIDADE NA LITERATURA HATOUNIANA: UMA ANÁLISE DO ROMANCE DOIS IRMÃOS

Liozina Kauana de Carvalho Penalva

O presente estudo tem como objetivo colocar em discussão o conceito de modernidade na América Latina, com a finalidade de perceber os limites do discurso representacional de grupos subalternos. Para isso, selecionamos a obra Dois Irmãos, de Milton Hatoum, pois esse escritor amazônico está afinado com um pensamento político e social que questiona binarismos como centro-periferia, dominantes e dominados, metrópole e colônia. Para fundamentar essa pesquisa, utilizaremos principalmente as contribuições teóricas de Boaventura Santos (2010), que pensa a modernidade ocidental como um “pensamento abissal” e Adrián Gorelik (1999), que debate a modernidade latino-americana a partir das cidades. Com base nessas teorias, percebe-se que não há modernidade sem colonialidade, porque, de fato, ambas funcionam como um único projeto. Reconhecer essa colonialidade, estabelecida por uma relação acirradamente desigual entre as nações, em que um lado explora e outro é explorado, significa pensar a partir dela, colocar o dedo nessa “ferida colonial” e abrir perspectivas a partir da periferia do sistema capitalista moderno/colonial.

 

20-REPRESENTAÇÕES DAS MULHERES MOÇAMBICANAS NAS OBRAS O SÉTIMO JURAMENTO, BALADA DE AMOR AO VENTO E VENTOS DO APOCALIPSE DE PAULINA CHIZIANE

Luciene Rocha dos Santos Cruz

Através da análise das representações das personagens femininas nos romances Ventos do Apocalipse (1999), O Sétimo Juramento (2000) e Balada de Amor ao Vento (2003), da escritora Paulina Chiziane, esta pesquisa tem como intuito compreender a realidade sociológica e cultural dessas mulheres, comprovando que a autora retrata, na sua escrita, a veracidade do universo feminino moçambicano. Assim, como são simbolizadas essas mulheres no meio em que vivem, mediante suas condutas? As formas como são representadas socialmente seriam frutos de sua própria identidade ou será que a construção da identidade estaria sujeita aos paradigmas estabelecidos por uma sociedade masculina, patriarcal e colonizadora? Como essas mulheres fazem para conciliar suas tradições autóctones com a cultura imposta pelos portugueses? Como elas lidam com a maternidade, com o casamento e com o lobolo? Poderíamos afirmar que tais representações apresentam traços ideológicos do Africana Womanism, de Hudson-Weems, que ressaltam as experiências únicas de luta, de necessidades e dos desejos das mulheres africanas? Portanto, a pretensão é tentar responder as perguntas supracitadas, com o intuito de refletir, através desses romances, sobre as representações das mulheres moçambicanas, nas quais constata-se, sobretudo, situações de opressão e de marginalização, assim como perceber como essas mulheres são descritas no seio da família, na maternidade, na sociedade e no trabalho.

 

21-ESPAÇOS DE EXCEÇÃO NO ROMANCE ENTRE AS MEMÓRIAS SILENCIADAS, DE UNGULANI BA KA KHOSA

Mariana Silva de Oliveira

A narrativa do romance Entre as memórias silenciadas (2013), do escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa, é ambientada no período após a independência de Moçambique (1975) e expressa uma perspectiva crítica distópica com relação aos espólios políticos e sociais da guerra de libertação. Parte da narrativa se desenvolve do ponto de vista de um interno do campo de reeducação da remota Niassa, na região norte de Moçambique, onde os personagens representantes dos “inimigos da nação” vivem encarcerados, excluídos do corpo social, a fim de serem submetidos a um processo de docilização, para enfim retornarem à sociedade. Neste espaço, os personagens prisioneiros tecem uma narrativa polifônica na qual a história da jovem nação é revisitada por vozes tradicionalmente silenciadas pela historiografia oficial. O foco deste trabalho é discorrer sobre a representação ficcional dos espaços de exceção no romance, utilizando como respaldo teórico o conceito de estado de exceção desenvolvido pelo filósofo italiano Giorgio Agamben, a teoria foucaultiana da biopolítica e o conceito de necropolítica de Achille Mbembe.

 

22-EXU COMO CAMINHO: LYDIA CABRERA E EDISON CARNEIRO SOB A PERSPECTIVA EXUSÍACA — APONTAMENTOS INICIAIS

Mariana Pereira da Fonseca Teixeira

O presente texto busca analisar, de maneira inicial, a representação de Exu nas obras de Lydia Cabrera e Edison Carneiro tentando perceber como se deu a reconstrução do imaginário africano nas terras brasileiras e cubanas. No entanto, nos propomos a pensar Exu para além de objeto, como uma espécie de metodologia e uma forma de percepção de mundo. Para tanto, será útil inicialmente apresentar algumas mitologias recolhidas por Pierre Verger, Reginaldo Prandi e Roy Willis, com o objetivo de construir um arquétipo exusíaco que nos possibilitará analisar a presença desse orixá em suas obras e a olhar o fazer literário/etnográfico de Lydia Cabrera e Edison Carneiro. Em seguida, buscaremos apresentar como Exu aparece retratado em alguns escritos de Carneiro e Cabrera e iremos propor como um olhar exusíaco pode ser frutífero para perceber o fazer narrativo de ambos os autores. Para tal tarefa, seguiremos a trilha aberta por Martins (2001) que propõe pensar a encruzilhada como um lugar terceiro, operador de linguagens e discursos, geradora de sentidos plurais. Por fim, entre os livros utilizados como fontes temos: A mata (2012) e Iemanjá e Oxum (2004), de Lydia Cabrera; e, Religiões Negras (1991), Negros Bantos (1991), Candomblés da Bahia (2008) e Antologia do negro brasileiro (2005), de Edison Carneiro.

 

23-A RECONSTRUÇÃO MEMORIAL ESCRAVOCRATA ATRAVÉS DAS VOZES FEMININAS PRESENTES EM PLUIE ET VENT SUR TÉLUMÉE MIRACLE, DE SIMONE SCHWARZ-BART

Marina Brito de Mello

A análise presente neste trabalho consiste em discutir a reconstrução da memória e das experiências coletivas vivenciadas pela população antilhana. A partir do romance Pluie et vent sur Telumée Miracle, traduzido no Brasil como A ilha da chuva e do vento, da romancista francesa Simone Schwarz-Bart, discutiremos o processo de escravidão nas Antilhas francesas, mais precisamente na Guadalupe, bem como as consequências do processo escravista perpassadas entre as gerações. Observaremos como a autora concede aos esquecidos e marginalizados o direito de rememorar o passado tido como oficial e, através da voz de três gerações femininas – Reine Sans Nom, Victoire e Telumée Miracle – ela nos coloca diante de uma narrativa que relata a formação da identidade negra na era pós-colonialismo, onde os personagens reconhecem a história de seus ancestrais. Obras como Mémoires des esclaves, de Édouard Glissant, Peau noire, masques blancs, de Frantz Fanon, ou Seduzidos pela memória, de Andreas Huyssen, e textos teóricos como o de Aimé Césaire intitulado Discurso sobre o colonialismo e “La ligne de couleur”, da socióloga francesa Françoise Vergès, nos permitirão discutir e expor, ao longo de nosso estudo, a imagem dos negros nas escrituras de Simone Schwarz-Bart. A necessidade de nomear, identificar e reconhecer todos aqueles que fizeram parte da memória escravocrata, ignorados muitas vezes pela história tida como oficial, será representada na obra de Schwarz-Bart e nos mostrará, a partir de vozes femininas, o dever memorialístico de relembrar o passado e a origem que cada sujeito traz consigo.

 

24-ESCRITURAS DO CORPO FEMININO EM O ALEGRE CANTO DA PERDIZ

Mary Jane Hilário da Silva

O processo de subalternização dos povos negros em África pode ser entendido enquanto parte de um projeto de legitimação da colonização europeia nos territórios africanos. Considerados pela lógica colonial eurocêntrica como primitivos, selvagens e detentores de uma sexualidade anormal, os africanos foram colonizados com a justificativa de que careciam de ser retirados de uma suposta barbárie na qual estariam inseridos, argumento este utilizado para mascarar o “caráter usurpador da colonização”. (MOUTINHO, 2000). As mulheres colonizadas, nesse contexto, eram postas numa posição de inferioridade ainda maior, uma vez que, tendo suas imagens atreladas à lascividade, pelo imaginário europeu, seus corpos eram objetificados e encarados como instrumentos de poder do colonizador e, consequentemente, se tornavam espaços de violações, dominações e abusos.   O romance O Alegre Canto da Perdiz, de Paulina Chiziane, conduz o leitor à trajetória de Maria das Dores, Delfina e Serafina, três gerações de mulheres da mesma família que compartilham em suas histórias de vida, não só os laços sanguíneos, mas também uma gama de violências cometidas a seus corpos no período em que Moçambique era colônia de Portugal. Nesse sentido, o presente estudo propõe investigar os campos de força que atuam nas imagens representativas da mulher moçambicana na narrativa de Chiziane de modo a refletir sobre as diferentes imagens depreendidas das personagens femininas, sobretudo na estratégia da autora em desconstruir imagem negativa da mulher africana por meio do resgate das raízes ancestrais africanas ligadas à concepção do matriarcado. Para tais discussões e reflexões utilizaremos como arcabouço teórico estudos de Maria Isabel Casimiro, Kabengele Munanga, Oyèwúmi Oyèronké e Stuart Hall.

 

25-ENTRE O MÍTICO E O REAL: UMA LEITURA DA OBRA NO FUNDO DO CANTO, DE ODETE SEMEDO.

Michael de Assis Lourdes Weirich

Este trabalho propõe uma análise do livro No fundo do canto (2007), de Odete Semedo, observando como a construção do universo poético criado por essa autora recupera a cultura local através do resgate das várias vertentes do discurso da memória. Buscaremos compreender como os dados históricos e os aspectos culturais dos diversos grupos étnicos que compõem Guiné-Bissau servem de fundamento para a construção de todo um cenário poético de ruínas, realçando como cada poema presente neste livro é uma história, que embora revestidos esteticamente, expressam tensões sociais e políticas que envolvem este pequeno país do território africano. Para isso, nos apoiaremos na voz crítica da estudiosa Moema Parente Augel.

 

26-TENSÕES SOCIAIS NA OBRA DE LIMA BARRETO: O INTELECTUAL À MARGEM

Paulo Henrique Cardoso de Medeiros Barros

Afonso Henriques de Lima Barreto ou Lima Barreto, é filho de mestiços e cresce em meio a importantes eventos da constituição identitária do Brasil. Sua produção literária denuncia os processos da República velha, o jornalismo da época, o nacionalismo tomado como bandeira e a questão do mestiço em uma sociedade onde o intelectual, por melhores que sejam suas ideias e projetos, não conseguindo espaço no jogo político dos apadrinhamentos, não logrará êxito em sua carreira, como representado no primeiro romance de Lima, Recordações do Escrivão Isaías Caminha. Lima Barreto é um autor essencial para os nossos momentos atuais, onde repensamos critérios de democracia, de cidadania e o modelo problemático de república que se constituiu desde a primeira República. A reflexão para a escolha de Lima como objeto de estudo foi inspirada por uma passagem do livro Um mulato no reino de Jambom, de Maria Zilda Ferreira Cury, onde a autora afirma, em outras palavras, que escolher Lima Barreto é escolher uma tomada de posição. Grande parte da fortuna crítica associa o caráter biográfico, a raiva de mulato ofendido, à produção Limiana: se faz necessário ampliar a discussão acerca do autor e entender a complexidade que não se limita apenas a um argumento. Superar a discussão racial em sua obra, e enxergar a multiplicidade de personagens e narrativas, o pensador, por vezes contraditório, mas de uma pluralidade de temas ignorados por parte da grande crítica tradicional.

 

27-INVESTIGANDO A ANCESTRALIDADE: UMA ANÁLISE DE O CRIME DO CAIS DO VALONGO, DE ELIANA ALVES CRUZ

Raquel Souza de Morais

A literatura detetivesca brasileira contemporânea conta com um bom número de escritoras mulheres, embora a maior parte ainda não tenham alcançado o grande público ou não sejam (re)conhecidas por essa produção. Além daquelas que se dedicam exclusivamente à temática do crime e da investigação, há autoras que não se encaixam no rótulo de “escritores policiais”, mas que se apropriam, em certas obras, de elementos da ficção investigativa. O presente trabalho visa apresentar uma reflexão acerca dessa apropriação em O crime do Cais do Valongo, denominado pela própria autora como romance histórico – policial. Eliana Alves Cruz tem dois romances publicados pela editora Malê e apresenta a questão da diáspora africana como maior marca de sua literatura. O romance em análise é ambientado no século XIX, na região do Cais do Valongo – porta de entrada de milhares de escravizados no Brasil e, apesar de partir do assassinato de um dos personagens, ao longo da investigação os relatos sobre o crime e testemunhos vão se afastando da objetividade vista nas clássicas histórias de detetive. Através dessa e de outras estratégias discutidas neste trabalho, a autora mescla os elementos detetivescos a relatos históricos e memorialísticos. Dessa forma, defende-se a ideia de que aquilo que se pretende investigar no livro é a ancestralidade, a história e a memória dos africanos escravizados. E que, apesar de partir de um assassinato, o maior crime cometido é o socio-histórico, a escravidão.

 

28-PARA NARRAR A GUERRA: TERRA SONÂMBULA E O ESPLENDOR DE PORTUGAL

Suiá Dylan Cavalcante Ferreira

Este trabalho analisa de que forma o tema da guerra civil na África é representado em O esplendor de Portugal (1999) e Terra Sonâmbula (1995) de autoria de António Lobo Antunes e Mia Couto, respectivamente. A pesquisa se concentra na representação da guerra no romance contemporâneo de língua portuguesa no período pós-colonial com ênfase nos recursos narrativos a partir de uma perspectiva da literatura comparada e de uma análise pós-colonial dentro de um contexto político-social. O estudo se debruça, principalmente, sobre as questões da violência, narração, memória e relações familiares, e como esses aspectos refletem as políticas externas e internas de Angola e Moçambique no período pós-independência e dos conflitos armados. Para o desenvolvimento da pesquisa foram consultados autores que abordam a questão da violência de maneira ampla, da violência na narrativa e, também, pesquisadores das obras de Lobo Antunes, Mia Couto, das literaturas africanas de língua portuguesa e da teoria pós-colonial.

 

29-UMA ANÁLISE DE O MITO DA BELEZA (1992), DE NAOMI WOLF, EM LUCÍOLA (1862) E RUBÍ (2004)

Thais Maria Holanda Jerke Sevilla Palomares

Nas obras que abordarei, o romance de José de Alencar Lucíola (1862) e a telenovela mexicana Rubí (2004), há uma relevância enorme da beleza como característica feminina que eleva o valor das personagens, chegando a ser considerado um fator extremamente importante da identidade dessas mulheres. Para entendermos melhor a relação das protagonistas com a vaidade e sua necessidade de pertencimento a um padrão estético, analisaremos as obras a partir da leitura de O mito da beleza (1992), de Naomi Wolf. A autora explica como a beleza é utilizada pela sociedade, através dos meios publicitários e da cultura de massas, para reprimir as mulheres, mantendo-as ocupadas e ao mesmo tempo sentindo-se inferiores, fazendo assim com que não tenham tempo nem energia para reivindicar mudanças que afetariam o domínio social masculino. Wolf explica a função da valorização da beleza em nossa sociedade, que muitas vezes se torna uma obsessão e uma limitação para muitas mulheres. Segundo ela, essa fixação pela beleza faz com que elas sofram consequências bastante prejudiciais, como distúrbios alimentares, aumento dos índices de cirurgias plásticas e pavor por envelhecer, pela necessidade de se encaixarem em modelos idealizados, inclusive pela indústria pornográfica. Todos esses fatores negativos muitas vezes terminam sendo mais importantes que conquistas positivas nos âmbitos profissional e legal, por exemplo, o que termina impedindo o alcance da tão desejada igualdade entre os sexos. Assim, a obra de Wolf apoiará de forma relevante a análise das personagens estudadas e de muitos dos conflitos envolvidos em suas narrativas.

 

30-O MOVIMENTO DIASPÓRICO PORTO-RIQUENHO NA CRÔNICA “LA GUAGUA AÉREA”, DE LUIS RAFAEL SÁNCHEZ

Warllachana Moisés da Silva

La guagua aérea, do escritor, dramaturgo e cronista porto-riquenho Luis Rafael Sánchez, é uma das produções consideradas fundacionais sobre o tema da migração caribenha (MARTÍNEZ-SAN MIGUEL, 2015). A obra, metáfora da viagem, convida o leitor, com a “Tarjeta de embarque” (cartão de embarque), a conhecer o complexo mundo porto-riquenho. Literatura atenta ao marco histórico de Porto Rico, no qual a tomada da Ilha, em 1898, pelos Estados Unidos e a instauração do Estado Livre Associados aos Estados Unidos, em 1952, geraram graves consequências tanto para o sistema econômico quanto para a cultura, e tiveram, em particular, um efeito persistente: a emigração constante de porto-riquenhos para os EUA. Estabelecendo um “diálogo crítico” com esse marco histórico e suas consequências, Luis Rafael Sánchez (2013), aborda no seu fazer literário temáticas relacionadas a essas tensões. Neste trabalho, a diáspora porto-riquenha será, pois, o ponto de partida para observação e análise do texto selecionado. Na crônica “La guagua aérea” (texto que leva o mesmo título da coletânea), o autor faz uma espécie de croquis (TINEO, 2010) de personagens que participam do movimento diaspórico porto-riquenho aos Estados Unidos, apresentando-nos as expectativas e os temores do deslocamento. A partir do diálogo dessa crônica com o texto mais conhecido da memória diaspórica porto-riquenha, as Memorias de Bernardo Vega (VEGA, 2002), e com apoio de estudos teórico-críticos (FERNÁNDEZ-APONTE, 1992; QUINTERO-RIVERA, 1992; ANDERSON, 1998), proporemos uma reflexão sobre alguns efeitos da instauração do sistema neocolonial bem como sobre as fraturas promovidas pela emigração.

Comentários

Ainda não há comentários.

Somente usuários logados que já compraram o produto podem deixar comentários.

Confira lançamentos em pré-venda na Plataforma Gondwana da Pangeia Editorial:

Clique AQUI.