A partir de duas pequenas andorinhas que se perdem dos pais em uma tempestade de verão, Mauro Guari, Carol Mattos, Larissa Alfonsi e Lily Momisso nos contam, em texto, fotos e ilustrações, um pouco da história e da geografia de Campinas, SP. Campinas se reconhece por ser a Cidade das Andorinhas.
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O livro é fruto de pesquisa historiográfica, de visitas a locais históricos, de fotografias dos cenários que o enredo evoca. Eis uma resenha, do Prof. Wenceslao Machado de Oliveira Junior, da Unicamp, que apresenta o livro em detalhes:
S O B R E V O O
Era uma vez um educador que adorava a cidade onde vivia e, em seus percursos por ela, vivia com uma câmera pendurada no pescoço, fazendo imagens de portas, janelas, reflexos de luz… e passarinhos.
Num destes percursos, que não eram somente feitos com os pés, mas sobretudo com os sonhos, ele encontrou duas outras educadoras que também gostavam da cidade onde viviam. Nenhuma delas levava uma câmera no pescoço, mas sim lápis e tintas nas mãos, escrevendo e desenhando aquilo que as afetava naquela urbanidade campineira.
“Era uma vez…” é uma frase que não diz respeito ao passado, mas sim ao tempo da literatura, um tempo em que não há cronologia, mas sim experiência, contato e contágio pelas palavras e pelas imagens que emergem delas. Ainda que a história contada neste pequeno livro não se inicie com esta frase, é o tempo evocado por ela que subjaz à tempestade que caiu sobre Campinas e separou os mais novos, Maria e Carlos, dos mais velhos, Gilda e Manoel.
É dessa separação entre filhotes e genitores que nasce a possibilidade educadora da história. Assim também seriam nossas escolas? Nelas trabalham milhares de bem-te-vis como Francisco, ofertando as múltiplas e intrincadas histórias e geografias públicas para aquelas e aqueles mais novos que a elas afluem para encontrarem-se com aquilo que excede as variadas histórias e geografias familiares e, assim, cotejar ambas para darem expressão, em gestos e palavras, às suas próprias histórias e geografias.
Ainda que não seja a intenção principal deste pequeno livro, focado nas histórias que compõem a História, ele também traça uma sutil geografia de onde se concentram os pássaros na região central da cidade de Campinas: nos velhos telhados remanescentes de outras épocas e que possuem algum tipo de uso e sentido público e nos parques onde ainda sobrevivem a maior parte das árvores remanescentes da mata atlântica, já misturadas a outras vidas vegetais pelos paisagismos eurocêntricos de seus entornos.
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Gestos, palavras, histórias e geografias, assim como matemáticas, químicas, físicas, sociologias, filosofias e artes não emergem de nossos corpos sem susto e tensão, sem curiosidade e encantamento. Pensar e expressar o mundo, bem como pensar-se e expressar-se nele, se faz sempre como uma exigência; e essa exigência é situada no aqui e no agora da vida vivida por cada pessoa. Ou melhor, não somente por cada pessoa, mas sim por cada forma de vida, aí incluídas todas as vidas não humanas, como apontam tanto as contemporâneas pesquisas e descobertas da neurociência vegetal quanto as muito antigas sabedorias ancestrais indígenas e africanas.
É assim, conjurando tensão e susto, curiosidade e encantamento, que as três pessoas humanas, Mauro, Carolina e Larissa, acionam um conjunto de personagens – pessoas?! – não humanas para se engajarem num gesto educativo e literário por e para a cidade que adoram.
Neste engajamento, elegem as crianças como suas principais destinatárias. Certamente é daí que veio a delicadeza de escrever em forma de fábula, um gênero de escrita-leitura muito presente nas tradições brasileiras relacionadas à infância e à primeira juventude, permitindo um rápido reconhecimento do modo como a narrativa se faz.
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Nas narrativas fabulares – que também são fabulatórias!, somente as personagens humanizadas têm nomes humanos. As andorinhas formam uma família e não só um bando. “A família é composta pela mãe, pai e seus filhotes, uma menina-andorinha e um menino-andorinha.” Além disso, cada filhote tem um gênero, um menino e uma menina, Carlos e Maria, não por acaso nomes de personagens da história humana de Campinas.
As demais personagens seguem sendo não humanas, neste caso, aves: “Senhor Pardal”, “Dona Pomba”, “Tia Maritaca”.
Tudo é tipicamente humano de nosso aqui e agora: poucos filhotes, apenas dois, quando as andorinhas têm, geralmente, de três a cinco filhotes por vez, os quais são, segundo o wikiaves, “incubados pela fêmea enquanto o macho a alimenta. O casal se reveza na alimentação dos filhotes”. https://www.wikiaves.com.br/wiki/andorinha-pequena-de-casa Estas informações nos fazem perceber que nossas famílias humanas estão mais semelhantes às famílias de andorinhas.
De toda forma, fosse essa fábula escrita cinquenta anos atrás e, muito provavelmente, Manoel e Gilda teriam muitos mais filhotes, permitindo homenagear muitas outras personagens das histórias e geografias de Campinas; talvez até teríamos algum nome indígena, para além das referências às personagens negras já trazidas a esta história-fábula no deliberado gesto de (re)inseri-las, com a verdadeira cor de seus corpos, na História da cidade, uma vez que, conforme ensina o bem-te-vi Francisco aos mais novos, “tem diferença entre História e histórias”.
Que tal descobrir que diferença é essa, enquanto sobrevoa a zona central de Campinas nas asas de dois trios falantes que, juntos, formam seis vozes misturadas de humanos passarinhos?
Wenceslao Machado de Oliveira Junior
Graduado em Geografia (1987 – UFJF) e
Doutor em Educação (1999 – Unicamp), é professor no
Departamento de Educação, Conhecimento, Linguagem e
Arte e pesquisador do Laboratório de Estudos Audiovisuais
OLHO, ambos da Faculdade de Educação/Unicamp.
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