Evaldo Balbino lança novo livro

Evaldo Balbino lança seu 17º livro individual, a coletânea Poemas de depois da chuva. A quantidade, aqui, é também sinônimo de altíssima exigência, de labor incessante para a expressão cristalina, para a escolha do vocábulo mais preciso, e para o rigor formal, rigor que faz o vigor da seiva poética que alimenta os versos de Evaldo Balbino.

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Poemas de depois da chuva (Pangeia / Dionysius, 2025) é um ponto alto da poética de Evaldo Balbino, de seu projeto autoral, e “um acordo tácito com o lirismo que se deveria reivindicar para a vida”, conforme anota a poeta Flávia Bon Cardoso no prefácio do livro.

O livro se divide em quatro partes:

Poemas de depois da chuva
Conversa com a chuva
10 tankas para Takuboku Ishikawa
Broto

Dos temas perenes da grande poesia de todos os tempos (o amor, a morte, a infância, a resistência às adversidades, a superação existencial, o tempo) a temas caros à modernidade (a distopia, a vida que renasce, a sexualidade, a solidão, a solidariedade, o lixo), Evaldo Balbino tem uma dicção personalíssima e é uma voz poética incontornável na poesia brasileira de nossos dias.

O livro chega com 92 páginas em papel pólen 80g, em brochura encadernada e costurada, com capa em policromia e diagramação de Rizera e com um bônus: prefácio da poetaFlávia Bon Cardoso. Reproduzimos abaixo esse prefácio.

Há um Deus que habita nossos olhos
pela poesia de Evaldo Balbino

Flávia Bon Cardoso *

          Aceitar os convites de leitura da escrita de Evaldo Balbino é fazer um acordo tácito com o lirismo que se deveria reivindicar para a vida. Já o título desta nova obra se apresenta como parte deste acordo: apresentamo-nos para a promessa que ele detém, são Poemas de depois da chuva. E ainda que haja chuvas benfazejas e chuvas destrutivas, a escolha das palavras de Hesse como epígrafe de abertura do livro afirma o papel a que o poeta não se furta: “Mesmo que eu amanhã já não esteja aqui / – aqui estou hoje!”. Acostumados à sua escrita sensível, comemoramos.

          Completamente cônscio de que “estar aqui hoje” é também estar “apesar de”, é com essa locução que Balbino abre “Campa”, o primeiro poema da obra. Um poema inicial nos surpreende com um vocábulo próprio aos desfechos. Um poema inaugural que requisita a força imagética produzida pelo barro – elemento tão importante para a gênese da vida em diversas tradições culturais e religiosas – a nos apresentar indícios de que Poemas de depois da chuva nos colocará diante dos grandes temas que envolvem o ser humano. Estão aí a gratuidade da vida confrontada com seu propósito, a presença da morte, a estrutura do tempo e da eternidade, as paisagens que emolduram nossa existência, a luz que escolhemos para iluminá-la e para iluminar aqueles que nos acompanham na jornada.

          Os primeiros versos do livro, alguns em diálogo majestoso com a tradição poética de João Cabral de Melo Neto e de Cecília Meireles, dimensionam a força da chuva a que seremos arrebatados pelas mãos do poeta, a devastação que ela produzirá em nós: “é lama / que se estende sobre seu corpo / – o charco sobre a vida”, “como se nada / mais adiantasse”, “Os olhos do menino são mãos / apoiando-se em monturos”, “O carrinho na mão é estandarte / da lúdica vida deitada / brincando de morte, de nada”, “a tristeza / que a tudo beija / e abraça sem piedade”.

          Numa paisagem desoladora como essa, Balbino constrói uma voz poética que se oferece como instrumento (“A Deus por tudo clamava / a minha voz, afonia”, “e meus poemas são ombros / para os detritos sem vida”). Dor tamanha essa voz encarna, numa confluência entre paisagem e ser (“Eu não tinha este rosto, / esta face de rio / desaguando desgosto / nestas rugas de frio”), que é na proposta de diálogo com essa chuva que se encontram os versos mais contundentes produzidos por essa peleja.

          Bela é a forma como as aliterações, as prosopopeias e as antíteses vão se construindo quando a voz poética encara as profundezas da dor (“Hoje uma dor profunda, / do fundo do nada, / me atravessa com seu peso de água suja.”) e, desse colóquio com a destruição, com a morte, com a escuridão, com Caronte, extrai o que deve permanecer, lavra o que é eterno (“As mãos de minha mãe sorriam”; “pois vejo ainda em vida / a fé, o canto, o solto / sorriso teu de amor.”). E se a dor lancinante não se esvai, porque “A dor é mó”, suas águas profundas vão encontrando sendas: “Mó que ainda se move / porque a vida urge / e a existência se comove.”; “como neste meu poema vivo / eu respiro tanto e sempre rio”.

           Nunca se sabe a cronologia de escrita dos versos que se apresentam numa obra, a não ser que o autor a manifeste. Mas, lendo Poemas de depois da chuva, é possível imaginar que a síntese e o encantamento produzidos em 10 tankas para Takuboku Ishikawa precisavam da força das águas que foram revolvidas nas partes iniciais da obra, para que do bronze se fizesse poesia. Só depois de dor tão pungente, é possível entender que “tudo é milagre sem peia”, que “O choro é também cantar” e que todos somos aprendizes de gorjeio.

          No poema “Alvorecer”, um dos primeiros poemas de Broto, a nova alquimia está feita: os sonhos e os desejos do eu poético são primorosamente resgatados (“Mas meu desejo hoje é pleno e tanto”) e o que antes eram vestígios na lama agora é amplidão (“Vejo o claro, vejo o escuro, / e do mundo a cumeeira”). Aqui, “Amar é resistência”; e a oração, antes grande apelo, agora é contemplação (“tal qual a perfeita alegria”). E mesmo o cão de Broto, tão distinto do cão dos primeiros versos da obra, é agora um cão brincante, como toda vida que encontra contentamento. “Me olha feliz porque existe” nos remete a um diálogo frondoso com Alberto Caeiro.

Não à toa, em Broto, podemos ler “Nada na vida é degredo, / quando dos sonhos nos brilham / os animais do presépio / do Deus Menino ao redor”. Está aí o “presto / brilho da estrela maior” a nos guiar novamente. E é disso que também se trata a força da voz poética presente na obra de Evaldo Balbino: da escuridão, dos destroços, sobre a lama, é preciso escrever os versos que iluminam a experiência humana. Se a casa de “Campa” estava completamente soterrada, é no poema “Morada” que a maestria do poeta produz: “Tudo isso é Deus / morando em meus olhos”. E, depois do percurso, todos nós, agora, já podemos habitar uma casa com janelas para o Leste.

Flávia Bon Cardoso
Petrópolis/RJ,
janeiro de 2025.

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