“Cinzas”, poema de Flávia de Queiroz Lima

Na sequência de publicações de e sobre Flávia de Queiroz Lima, trazemos hoje o poema “Cinzas”, do livro de estreia da poeta, Círculo de Giz (Vigília, 1983, 88 p., com ilustrações de Ferruccio, p. 57).

Cinzas

Flávia de Queiroz Lima

Sôlta, sou de volta um só cansaço
e me desfaço num desejo de ternura –
que me abrace, que me embale, que me afague,
que apague em mim todo esse tempo de procura,
todo esse pranto… e essa maldade…

Tenho vontade de afundar meu rosto
num travesseiro branco feito em plumas
e derramar todas as brumas de uma tarde
depois correr – sereno manso pelas ruas…

Tenho vontade de apagar meu corpo
esmigalhando em cinzas o passado,
me diluindo em nuvens de fumaça,
ir flutuando em paz, voltando ao nada…

Mas esta chama, ardendo em mim, queimando, acesa
insiste um só instante ser deixada
e se transborda nessa ânsia de existência:
sentir teus lábios numa última tragada.

Flávia de Queiroz Lima
Poeta, escritora, compositora, resenhista, agente
cultural, sarauzeira, feminina, feminista.

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