Brasil: golpe, ditadura e educação

TEXTOS QUE NÃO PODEMOS PERDER

A Pangeia Editorial lançou, nesta semana, em PDF, o livro BRASIL: GOLPE, DITADURA E EDUCAÇÃO, organizado por Nima Spigolon e Débora Mazza a partir de marcantes Seminários realizados na Faculdade de Educação da UNICAMP desde 2016, e que de modo on-line ocorrerá em 2022. O livro físico estará na loja no dia 31/03/2022 e será lançado durante o Seminário Golpe, Ditadura e Educação deste ano.

Não, não se comemora 58 anos do golpe de 1º de abril de 1964, mas temos que falar e escrever a respeito, a história deve ser contada por aqueles que a viveram – como Nima sempre nos lembra: para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.

Os capítulos escolhidos pelas organizadoras, capítulos que compõem a obra, são textos que trazem à luz a voz independente de cada um dos autores dos capítulos. Além da Apresentação da obra, de Nima Spigolon, o livro é dividido em mais duas secções, uma teórico-metodológica e outra com depoimentos vívidos de pessoas que sofreram no próprio corpo a violência política e a violência dos porões da ditadura. São fontes primárias para futuras pesquisas sobre o período.

Primamos por dizer que os autores devem sempre ser tratados como autônomos, a Pangeia Editorial é uma casa publicadora, as vozes da democracia, da república, devem ecoar pelos corredores e nada mais coerente com isso do que permitir que cada autor se expresse a seu modo, cada construção de texto, cada linguagem, cada uso de sinais gráficos colocados pelos autores foram respeitados em sua essência, mesmo que ora ou outra não representassem o pensamento da Editora, dos Editores, de um ou de outro Organizador..

Um dos textos que recebi muito me marcou por seu humor inteligente e irônico.

Difícil, em tema tão forte e urgente, um autor se manter no limite entre o que nos fortalece, nos traz repertório e o que é mera comédia stand up que pode ocupar muitos lugares, sem dúvida, mas não esse.

O texto de Rauer acabou por não entrar no livro, mas, com autorização do autor, transcrevo-o a seguir, para reflexão e deleite de nossos navegantes.

GOLPES, GOLPES, GOLPES…

A história política do Brasil é uma sucessão de golpes de Estado, alguns explícitos, muitos sem êxito, a maioria tentativas à sombra, às vezes somente na psiquê de desajeitados golpistas.

Estamos no universo do jeitinho, do jeitão, da absoluta falta de jeito: nosso traquejo institucional para seguir as regras instituídas tem a consistência do angu com excesso de água e caroço.

Além dos golpes, dos golpes dentro dos golpes, dos contragolpes, dos arranjos de gabinetes, da bestialização daquele(s) em nome do(s) qual(is) o poder é exercido, há a constante evocação das baionetas, pois é na ausência de argumento, de convencimento, de apoio efetivo e majoritário, que os blindados fumacentos são chamados para “impor a ordem”, sob o argumento de que é da ordem autoritária, centralista, que demoniza o outro, que sobrevêm o progresso. Isso é tão falso como uma nota de trezentos, mas nem é bom mencionar, pois pode parecer boa ideia aos que precisam carregar cédulas em malas esquivas.

O berço esplêndido que nos acolhe parece nos fazer princesas de sono eterno – e não temos príncipes por aqui, o que abunda nas terras do sabiá é o sapo, aliás, os sapos, de todo jaez, em especial os de mãos larápias.

Este livro trata de golpes, de mudanças institucionais abruptas que trazem o autoritarismo explícito, de farda, ou implícito, com as fardas sob paletós mal-ajambrados. Há também os maquinados por ternos bem cortados, que compram apoios e instauram ditaduras. Pois estamos na terra do mal-jeito, dos multigolpes e até dos desgolpes.

Diante do exposto, o debate proposto e realizado nos eventos dos quais resultam este livro é tão necessário quanto a educação universal de qualidade, o pão nosso de cada dia, a vacina nossa o quanto antes, a universidade plural, pública, acolhedora, inclusiva.

Este é, pois, um livro necessário, urgente, que precisa e deve ser lido por todos os que se preocupam com o Brasil que construímos nos últimos trinta anos e com o Brasil que legaremos aos nossos bisnetos daqui outros trinta anos.

 Rauer Ribeiro Rodrigues
Professor na UFMS, líder do GPLV – Grupo de Pesquisa Literatura e Vida,
escritor com diversos livros publicados nos três selos da PANGEIA EDITORIAL.

Para que não se esqueça,

para que nunca mais aconteça.

Diálogo sempre,

acolhimento sempre;

censura, jamais!

Claudia Amoroso Bortolato

Editoria Executiva da Pangeia Editorial

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