A escritora, cronista e poeta Adriana Aneli é autora de uma dezena de livros, entre contos, poemas, lendas, letras de música e obras para crianças. Entremeio a afazeres profissionais na área jurídica, também publica sensíveis resenhas de livros contemporâneos, em particular acolhendo obras à margem do mainstream, demonstrando rara sensibilidade na leitura de ficção e de poesia.
Abaixo, ela comenta o livro Chumbo Sutil, lançado no ano passado por Nima Spigolon. Após a resenha, trazemos uma minibio de Adriana Aneli.
Chumbo Sutil: o peso das palavras que não se curvam
Adriana Aneli
Escritora, cronista e poeta
Algo de novo e arriscado emerge destas páginas. Construções precisas na arquitetura do instante, que sempre foi matéria-prima para Nima Spigolon, neste livro se renovam com rigor e sensibilidade aguçada. Um constante e contraditório movimento permeia seus versos: brisa e ventania, chumbo de tempestades que apenas se insinuam, gradações da força natural e da matéria orgânica que se materializam em versos concisos e potentes.
A poeta captura o vento que “de um lado foi despedida/e do outro chegada”; o eu-lírico permanece entre estas forças opostas, testemunha solitária de um mundo em perpétua transformação. A especificidade temporal de uma “manhã de quarta-feira” ancora o abstrato na concretude do calendário, transformando filosofia em vivência.
O movimento entre o etéreo e o concreto se desdobra em outras formas. Palavras isoladas formam um tríptico essencial: “desejo/coragem/reciprocidade”. Uma tríade complementar propõe uma prática: “aprender/a ler/os sinais”. Nestas poucas palavras, Spigolon condensa um programa ético e um método interpretativo, exemplificando a brevidade a que se propõe.
A delicadeza coexiste com a precisão quando a poeta oferece “um jardim desconhecido na tarde de sábado”. Neste gesto, vislumbra-se a criação de um espaço compartilhado, território de encontros possíveis. A particularidade de um momento específico, irrepetível, transforma o jardim metafórico em experiência vivida.
Quando se volta para o corpo, Spigolon intensifica a linguagem. O corpo feminino que “expele lava/e prazer” e a vulva que “ovula versos” e “acolhe doce ereção” revelam a fusão entre criação biológica e artística. Este corpo-poema completa seu ciclo na “epifania”, momento de revelação que simultaneamente encerra e reinicia o processo criativo, estabelecendo um tempo cíclico próprio da natureza da sua poesia.
O elemento que nomeia a obra – o chumbo – ganha centralidade em uma litania que parte da história coletiva e se expande em possibilidades semânticas. “Anos de chumbo” evocam tempos sombrios da história brasileira. “Espingarda de chumbo” e “Chumbo grosso” convocam imagens de violência. Há também a transformação alquímica do “chumbo em ouro”, sugerindo que, na repetição obsessiva da palavra, opera-se uma transmutação do peso em leveza pela magia da linguagem poética.
Um fio invisível conecta o cotidiano ao transcendente. Elementos aparentemente simples – ventos, jardins, corpos, metais – reconfiguram-se como portais de compreensão mais ampla. A poeta constrói pontes entre o pessoal e o coletivo, entre memória íntima e história compartilhada.
A seus versos mínimos, a poeta empresta a sabedoria dos haicais contemporâneos – instantes capturados com precisão fotográfica que, na aparente simplicidade, revelam a complexidade inerente à experiência humana.
Algo de essencial na poesia de Nima Spigolon nos convida a ler o mundo com olhos renovados: um chamado à desaceleração e à contemplação em tempos de pressa e superficialidade. Nas páginas de Chumbo Sutil, encontramos amor, entrega e pequenas relíquias de resistência. São vestígios de uma história pessoal e coletiva que, através da poesia, recusa-se a desaparecer.
Adriana Aneli
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Conheça
Adriana Aneli Costa Lagrasta
por ela mesma:
Desde muito cedo me dediquei à literatura, como leitora e escritora. Aos 14 anos, lancei o livro de poemas Jogo da vida, esgotando a primeira edição na 11ª Bienal Internacional do Livro. Aos 16, publiquei pela Editora Brasiliense o conto “Marise”. Nesta mesma época eu fazia recitais de poesia e oficinas literárias, viajando pelo país.
A convite de Lourival Pacheco, entrevistei personalidades da literatura no programa “Poetas da Madrugada”, na Rádio Bandeirantes. Também trabalhei com poesia nas rádios Boa Nova de Guarulhos e ABC de Santo André.
Em 2002, lancei o livro Todas as Cores do Amor, que inspirou as músicas de Rai Anciola “A tua chegada” e “Eu cigana”, gravadas pela banda espanhola Salaman Rai (cd homônimo) e videoclipe dirigido pelo cineasta Juan Figueroa, além de “Quase sem querer” e “Fantasía”, do Grupo Samarua, também da Espanha.
Em 2013, idealizei o coletivo Tempestade Urbana, com artistas e trabalhos de várias partes do mundo.
Com a Editora Scenarium lancei Amor Expresso (2015), livro de minicontos sobre o café, reeditado em 2021 com o nome Amor Espresso, em parceria da Veroo/Tag Literária.
Na sequência, lancei A Construção da Primavera (2016), crônicas, e O Sol da Tarde (2017) e Tempestade Urbana(2021), poemas, Mitos e Lendas: o amor no folclore brasileiro (Editora Desconcertos, 2021) e, pela Editora Pangeia, o livro infantil Sol de Pirlimpim (na Coleção Ler-Brincar-Criar, no selo Edições Saruê, em 2021).
Sou formada em Direito pela USP, pós-graduada em Direito de Família e Mediação de Conflitos e funcionária concursada do TJSP.
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