A poeta Flávia de Queiroz Lima, autora, entre outras coletâneas de poemas, de Laços e Avessos (Di;onysius / Pangeia, 2023), desenvolve em silêncio uma outra vertente literária: a escrita de comentários sobre livros que aprecia, com a lucidez, a clarividência e a sensibilidade dos antigos mestres humanistas. São, a bem dizer, micro-resenhas (ela não quer que chamemos de resenha), com iluminações, epifanias, descobertas que a poeta desvela dos contos, poemas, romances e livros infantojuvenis que cotidianamente lê.
Trazemos abaixo o comentário da poeta sobre o livro Ab ácido: estórias (Dionysius / Pangeia, 2021), de Rauer.
Micro-resenha
por Flávia de Queiroz Lima
Ab ácido: estórias
de Rauer
De Rauer, amigo recente, tenho em mãos o volume de contos Ab ácido: estórias, livro dividido em três partes com um total de treze narrativas.
Conhecendo livros anteriores de Rauer, cada vez me surpreendo mais com sua escrita – que conheci inicialmente em ensaio publicado sobre minha obra poética. Rauer, agora, se multiplica, neste Ab ácido: estórias, em tantos estilos e vocabulários que nos surpreende a cada passo.
Muitas e preciosas leituras estão subjacentes às estórias, aos temas e às palavras escolhidas: há uma infinidade de fontes nas quais bebeu o ficcionista, a partir das quais constrói caminho próprio que está espelhado em contos inspiradíssimos.
Nos contos maiores, senti que sobressai uma escrita lindamente desenhada, fluindo leve, mas em matizes densos, de modo a tecer imagens ricas em cores e detalhes emocionantes.
Depois do poema narrado em “Aisa”, senti uns rastros de Borges no conto “Tortolindo”, de Guimarães Rosa em “O trato e o distrato”, mas atingindo nitidamente um estilo próprio que se apropria, porém digere e devolve em forma própria, construída de modo a tornar cada tema único, cada narrativa precisa e marcante.
Fica confirmado: Rauer escreve maravilhosamente, se vale de belíssimas descrições, usa todos os tons da paleta, passeia por muitos gêneros da pintura, dos Monet aos Caravaggio, com pinceladas de muitos impressionistas, notas de muitos timbres e, sobretudo, tece tramas capazes de prender o leitor a cada novo enredo.
Palmas efusivas!
Flávia de Queiroz Lima
Poeta, compositora, escritora
Março de 2023
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