O pesquisador Osmar Casagrande Júnior, em Artesania descritiva nos romances de Adriana Lisboa, após apontar as principais correntes teóricas que tratam da presença e da função do espaço no âmbito de peças ficcionais (o conto, a novela e, em particular, o romance), cria o conceito de Artesania Descritiva para descrever o modo pelo qual a ficcionista brasileira Adriana Lisboa se vale da descrição, do cenário e do espaço para produzir significados no âmbito de seus romances.
Para Casagrande Júnior,
“Ao explicitar a dinâmica entre espaço referenciável e espaço ficcional, em que a autonomia do ficcional se consolida na relação entre personagens e objetos, a autora se propõe a criar uma postura ética e uma reflexão estética frente a problemas contemporâneos. Em suma, nossa hipótese é que Adriana Lisboa constrói uma peculiar dinâmica estética entre espaço referenciável e espaço ficcional nas descrições, a serviço de uma postura ética; nomeamos esse procedimento de artesania descritiva.”
Adriana Lisboa é uma das principais vozes do romance brasileiro das duas primeiras décadas do 3º milênio. Em seus romances, as descrições ficcionais, ainda que referenciáveis à concretude do real, não só tomam por princípio a impossibilidade de retratar a realidade, como buscam intencionalmente interferir em sua percepção. A autora trata justamente de espaços cotidianos familiares de nossa contemporaneidade, lugares referenciáveis, nomeados, a cuja imagem ou presença o leitor teria fácil acesso. Ela compõe imagens inusitadas que se sobrepõem à aparente banalidade do espaço referenciável.
Da escrita quase diáfana de Adriana Lisboa, de espaços que emergem rarefeitos, coados por uma consciência autoral minimalista, elíptica, Osmar Casagrande Júnior desvela a atitude ética de uma espécie de redenção do olhar ficcional diante do caos urbano contemporâneo, em universos distantes e simultaneamente próximos nas respectivas degradações, como as paisagens do Rio de Janeiro e de Hanói.
“Para além de tentar construir uma melhor visão dessa realidade”, argumenta Casagrande Júnior, “a artesania descritiva elabora um espaço ficcional que incide sobre o referencial, não se sujeita às benesses medíocres do acesso ao consumo e consequente violência e peso gerados pela privação do mesmo.”
Com este estudo, Osmar Casagrande Júnior se estabelece como um pensador do espaço ficcional, como um propositor de ferramentas operacionais para a compreensão dos cenários romanescos na ficção contemporânea, e como um estudioso capaz de nos revelar os meandros das grandes criações poéticas dos nossos dias.
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A escritora brasileira Adriana Lisboa