Regine Limaverde. Contares: estórias amorosas e maliciosas nos tempos de pandemia. Prefácio de Rauer. Uberlândia, MG: Dionysius, 2020. 208 p.
Ao ser presenteada com o livro de Regine Limaverde e receber o convite para escrever uma crítica a ele, me senti honrada e aceitei o desafio, pois seria interessante ler e escrever sobre um livro que é lançado e tem seus enredos encenados em meio ao período em que o mundo atual vive, com a pandemia. O livro Contares: estórias amorosas e maliciosas nos tempos de pandemia traz contos e microcontos que falam de amor, amizade, relações familiares, contextos sociais, malícia, morte, solidão, saúde mental e, acima de tudo, fala de esperança.
O livro saiu em setembro pelas Edições Dionysius, um selo da Editora Pangeia. Precede aos textos um prefácio, assinado por Rauer, professor universitário de literatura e escritor, que nos prepara para uma leitura desarmada da obra, anotando que Regine Limaverde fala do cotidiano, da vida e das pessoas de forma original, mítica, lírica e poética.
Um ponto que chama à atenção, logo nas primeiras páginas, é a escolha estética do sumário, em que o título de todos os contos e microcontos se apresentam, são visíveis simultaneamente: o índice tem início em página par e termina na página impar defronte, o que possibilita visualizar de um golpe o conteúdo, os cinquenta e dois textos – a contar o prefácio de Rauer – que compõem os Contares.
É possível, a partir do mergulho em histórias trágicas, cômicas ou dramáticas, sentir que pulsam, nas páginas do livro, vidas reais. É possível “conviver” com as personagens nas situações por elas vivenciadas. Regine Limaverde nos lembra que a vida acontece, continua, se faz presente na borboleta, no sol, na mulher à janela, na neve, nas cartas. Há vida e há amor em meio à pandemia.
Mas… Precisa haver, também, consciência, o que aparece em trechos como este: “No momento, o certo é distância. / Logo, logo as coisas se ajeitam: / teremos boca, corpo e mãos / mexendo-se com muita aflição, / compensando o coração” (“Pensamentos Quarentenais”, p. 115).
Há de chegar o momento – Contares nos lembra a cada nova narrativa – do corpo, das mãos, da boca. Enquanto não chega esse momento, a envolvente ficção de Regine Limaverde nos lembra que dias melhores são possíveis, não só pós-pandemia, mas hoje. Mudando o nosso olhar. Transformando em neve os cabelos brancos, em força a natureza que chora a morte, em esperança as histórias de pessoas e os lugares em que vivem.
Ao folhear Contares pela primeira vez, antes das primeiras leituras, por um instante imaginei que o livro tratasse da pandemia, mas me surpreendi: ele traz de tudo, do amor à morte, da emoção à reflexão. A presença de epígrafes em muitos contos provoca o pensar e constituem uma feliz introdução às narrativas. Em algumas delas, os entrechos fazem, insinuam movimentos muito interessantes: são enredos prenhes de amor, que entrelaçam os tempos de pandemia ao passado e ao futuro – são momentos que patemizam o leitor, fazendo-o refletir sobre a própria vida.
De forma leve – delicada mas forte, apaixonada e esperançosa –, este novo livro de Regine Limaverde nos leva a refletir sobre o “novo normal”, sobre os acontecimentos atuais, como as fake news; sobre a perene condição da humanidade, entre a fragilidade latente e a força perene das pessoas; sobre o cotidiano e a vida, que (re)existe (e resiste) nos tempos de pandemia. Os Contares, como Bia Jucá nos aponta na quarta-capa, é um livro restaurador.
Bruna Campos
Pedagoga, artista gráfica
<revisao.brunacampos@gmail.com>