Flávia de Queiroz Lima, em súbito e intenso momento, escreve uma “Carta à Mãe”. O poema inédito foi escrito nesta última semana de março de 2024 e aqui vem a público. Entre o primeiro verso, em que o eu-lírico constata, em relação à mãe, terem sido “pessoas opostas”, e o último verso, um clímax emocional em epifania, no qual “descobre” que é “rio” cuja “nascente” está na mãe, destinatária do poema em forma de “Carta”, os versos porejam cálida emoção, auto descobertas e revelações que sensibilizam o leitor. Confira.
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Flávia de Queiroz Lima
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CARTA À MÃE
Fomos pessoas opostas,
desunidas pelas crenças,
sem desavença aparente,
ressalvando as reticências…
apartadas por doenças
que se agravaram, silentes.
Teus cuidados, diligentes,
viveram pausas, ausências.
No espelho revisitado
nossa face se revela:
traços que o tempo aproxima,
gestos que o afeto atravessa,
escolhas sem sintonia…
mas a emoção não tem pressa:
na memória traiçoeira
lembranças nos pregam peças…
Quando te escrevo de longe
retomo a menina inquieta:
laços de fita e afago
que prendiam meu cabelo
me entrelaçavam na espera.
Quando te falo de perto
numa impossível conversa
preencho um chão que faltava
e recomponho a palavra
que nos ficou incompleta.
Recebe então essa carta
feito um recado, um carinho,
do olhar reconciliado
com a distância e o vazio,
como quem desfolha os medos
num calendário tardio
e descobre, apaziguada,
a nascente do seu rio.
Flávia de Queiroz Lima
Poeta, compositora, resenhista,
autora de Laços e Avessos.
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