Ave, Alciene Ribeiro! Entrevista com a autora.

Entrevista com a escritora Alciene Ribeiro a propósito do lançamento, pela Editora Pangeia, do livro de contos Mulher explícita. O “Ave, Alciene Ribeiro!” é uma saudação pelo lançamento de uma coletânea da escritora após vinte e oito anos sem um novo volume de contos, ainda que tenha publicado contos inéditos em jornais, suplementos, antologias e livros infanto-juvenis.

A entrevista foi realizada em troca de e-mails, quase como um diálogo ao vivo, e reproduzimos aqui só o que se refere ao novo livro. As perguntas foram formuladas pelo organizador do livro, professor Rauer Ribeiro Rodrigues.

  1. Por quê o título Mulher explícita?

Alciene: Tive a pretensão, ambiciosa, de abordar a realidade feminina em suas múltiplas vertentes. Uma utopia, acabei concluindo. Mas as personagens do livro, no contexto daquele momento de vida, se expõem sem falsos pruridos, explicitamente.

  1. Como selecionou os contos para o livro?

Alciene: De modo que a abrangência do feminino fosse ampla, verdadeira e sem subterfúgios. Numa só personagem, ou conto, tangencio o universo feminino em diferentes situações e conflitos, os leitores verão.

  1. Há faces da mulher que não abordou no livro sobre as quais ainda não escreveu?

Alciene: Sim, o ser humano é algo fascinante, e a mulher, por suas características pessoais, oferece “ene” possibilidades de exploração literária. Por mais que a cantem em verso e prosa, nunca esgotarão o tema. Além disso, é longeva, e tem experiências de natureza vária por um período mais dilatado do que o homem. Daí vivenciar matizes e nuances de permeio com o bom e o belo, o sonho e a ilusão, a decepção e o complexo, o engano e a humilhação, a incompreensão e o preconceito, o abuso e a violência, a opressão e a brutalidade, etc.

  1. Dos matizes e nuances citados, o que faltou no Mulher explícita?

Alciene: Assim, de momento, não me ocorre… Já incorporei a cleptomaníaca, a assassina, a prostituta, a mãe, a esposa, a louca, a sensual, a mal amada, a carente, a outra… mas não tive, ainda, no conto, a sensibilidade para o mergulho na psicologia da lésbica, da paraplégica, da Dowm ou da freira, por exemplo. Em um romance espírita, em análise na editora, há encarnações de uma irmã de caridade; noutro, em preparo, de surda-muda.

  1. Então, nestes novos livros previstos, a condição feminina continua central, seja nos contos, seja em outros gêneros?

Alciene: Gostaria, sim, de publicar outro livro com temática feminina. Já pensei o título, Mulher plural. Mas urge tempo, e ele rareia a esta altura da vida. Há alguns contos a revisar, mas pretendo anexar inéditos, ainda em estado de ebulição. E isso independe de querer: pensa-los é uma coisa, concretizá-los, outra. Preciso tranquilidade… e inspiração: que me perdoem os colegas que, experimentando-lhe os efeitos, negam-se a admiti-la, ciosos de um talento único e indivisível, que a inspiração nada afeta porque não substitui a arte, nem o artista.

  1. Por favor, nos deixe a sua mensagem pessoal para as mulheres e os homens pensando como autora desses contos sobre a condição feminina que estão no Mulher explícita.

Alciene: Reescrevo certo ditado muito popular, e digo: ao lado do homem há uma mulher, e a recíproca há que ser verdadeira. A palavra certa é companheirismo. Parece-me que não devemos dizer “empoderamento”, que me soa a domínio, subjugação. Proponho dizer emparelhamento. Vamos, juntos, construir um convívio harmônico, respeitoso e solidário. Digamos que tal força interior nutre minha literatura, no geral, e me nutria na escrita dos contos do Mulher explícita.

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Comentários Recentes

  • Edson Angelo Muniz
    maio 31, 2019 - 7:27 pm · Responder

    Gostei muito desta entrevista; perguntas bem elaboradas, e respostas curtas e concisas.
    A Alciene tem um dom especial também para responder a qualquer pergunta, sem deixar dúvidas.
    Parabéns, Alciene Ribeiro e Professor Rauer.

  • karina.fatimagomes
    maio 31, 2019 - 9:59 pm · Responder

    A escolha pontual e criteriosa de cada palavra na entrevista é uma característica muito marcante em Alciene… como em toda a obra… Particularmente gostei da questão 6…emparelhamento ao invés de empoderamento…ansiosa para realizar a leitura!

  • Heloiza Moreno
    maio 31, 2019 - 11:29 pm · Responder

    Vê -se, pelas palavras, o tamanho da alma… muita sensibilidade ao adentrar terreno tão amplo, que é o universo feminino.

  • Jairo Kultemberg o
    junho 1, 2019 - 4:50 am · Responder

    ALCIENE RIBEIRO, nesta entrevista se mostra brilhante e harmoniosa em suas palavras. Uma benção de Deus para nossas vidas, destacando a importância das faces das mulheres explícitas.

  • Cícera Yamamoto
    junho 1, 2019 - 11:24 pm · Responder

    É uma escritora bastante sensível ao irmanar-se com todas as mulheres em geral e parece me ser uma pessoa que entende bastante sobre a importância e necessidade do compreender humano mediante ao “emparelhamento”, sem o qual é difícil conviver bem em uma vida a dois. Bela entrevista!

  • Pedro Mauro
    junho 2, 2019 - 7:07 pm · Responder

    A entrevista fez com que eu fizesse uma analogia com os contos que li de Alciene (Em foco nas personagens femininas). Identifiquei na conversa muito do que conheci pela leitura de suas obras. Penso que o diálogo contribuirá para conquista de novos e antigos leitores da autora.

  • Vanessa Ayala
    junho 3, 2019 - 1:15 pm · Responder

    Alciene Ribeiro, ela é incrível, conseguiu me aclarar o porque de eu nunca ter gostado da palavra: “empoderamento”, me soava como queda de braços com o sexo oposto. Emparelhamento!!
    Quantas leituras essa palavra nos possibilita??

  • Vanessa Ayala
    junho 3, 2019 - 1:22 pm · Responder

    Ao meu estimado professor Rauer Ribeiro Rodrigues meus parabéns pelas perguntas direcionadas, que permitiram respostas profundas, despertando ainda mais o meu interesse pela escrita de Alciene Ribeiro.

  • Régia M C R
    junho 3, 2019 - 10:08 pm · Responder

    Parabéns à editora pelo belo site e belíssima realização, e à autora por tamanha humildade demonstrada na entrevista e pela gentileza de concedê-la.

    • Luciene Lemos de Campos
      junho 7, 2019 - 11:13 pm · Responder

      Luminosa entrevista. Bela obra. Ser ou tornar-se igual ao semelhante é humano. Emparelhamento: fenomenal conceito, Alciene Ribeiro. Bravos!

  • Katria Galassi
    junho 4, 2019 - 1:03 pm · Responder

    Gostei muito da entrevista. Alciene me parece muito centrada e consciente da importância da sua escrita, ao mesmo tempo que possui sensibilidade de não querer se impor sobre o leitor. As perguntas estão bem pontuais e as respostas também.

  • José Roberto Azambuja
    junho 5, 2019 - 10:09 pm · Responder

    Excelente entrevista, na qual somos presenteados com o saber desta talentosa escritora, agora mais enriquecida pela experiência do mundo e com uma visão ainda mais espiritualizada da vida. Esta é a vantagem de acompanhar a trajetória de uma artista nos seus diversos “estágios” e incursões. Salve, Alciene Ribeiro!! Grato pelo presente, Rauer!!

  • Rauer Rodrigues
    setembro 22, 2019 - 12:29 pm · Responder

    Obrigado pelos comentários sobre livro, sobre a Alciene e sobre nosso trabalho na organização do livro e no GPLV.
    Aliás, para mais informações sobre Alciene Ribeiro, nós, do GPLV, Grupo de Pesquisa Literatura e Vida, mantemos um blog com informações biográficas, bibliográficas e de recepção crítica de e sobre a escritora.
    Eis o link para o blog: http://gpalcieneribeiro.blogspot.com/.

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